Por Camilla Corrêa e Larissa Lopes*
A partir da constante luta pelos direitos sociais, gerou-se a necessidade de promover debates sobre a inclusão racial e a busca constante para compreender assuntos que, embora sempre estivessem ao nosso redor, anteriormente não eram evidenciados e debatidos com tamanha frequência e precisão.
O evento virtual Afro Presença, promovido pelo Pacto Global da ONU em parceria com o Ministério Público do Trabalho, trouxe o debate sobre Políticas de Ações Afirmativas, pelos professores e doutores, José Jorge Carvalho, professor de Antropologia na UFPE, o professor da USP e ativista do Movimento Negro no Brasil, Hélio Santos, a professora da UFBA e participante do Programa de Cooperação da UNIFESP, Elisabete Aparecida e a Procuradora Regional do trabalho e integrante do corpo docente da Escola Superior do Ministério Público da União, Adriane Reis de Araujo.
A conversa mediada pelo jornalista Maurício Pestana, trouxe à tona a discussão sobre a valorização das políticas afirmativas no sistema educacional brasileiro.
José Jorge defendeu a ideia de que o conjunto de políticas de inclusão, iniciadas nos EUA podem ser vistas no Brasil pelo sistema de cotas, que ele defende. “Estamos tentando fazer a base de uma sociedade democrática. Deveríamos estar na 4° geração da inclusão racial.”, diz. “Democracia plena tem a ver com igualdade”, comenta.
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Quando questionada sobre a possibilidade de segregação de cotas nas universidades, a professora Elisabete Pinto, faz um apelo para que as necessidades dos negros sejam atendidas e que movimentos como o Afro Presença ajudam a desmistificar o assunto.
Em seguida, Adriane Reis trouxe ao debate a necessidade de ressocializar a sociedade no mercado de trabalho, visando o fim de práticas racistas. “As ações de inclusão se iniciam quantitativas, mas precisam alcançar o aspecto qualitativo no ambiente de trabalho”.
Questionada sobre o papel do departamento de Relações Humanas nas empresas, a procuradora relaciona a responsabilidade deles para a captação de talentos. Reis diz ser necessário “o papel ativo do RH para entender o contexto do grupo afetado e cabe a eles, investir, capacitar e treinar, porque não adianta fingir que não existe racismo e segregação pois o problema não desaparece”.
A procuradora ainda discursou sobre convencer as empresas a incluírem sistemas de cotas raciais por questões lucrativas e citou o caso do Magazine Luiza, que teve suas ações em alta após a divulgação do programa de trainee exclusivo para candidatos negros. “O racismo pode ter iniciado por fator de discursos biológico, depois discurso cultural, mas hoje a prática é observada por atos de discriminação indireta, que é a seleção sem olhar o contexto das pessoas selecionadas no ambiente trabalhista e fechar os olhos para os cargos mais altos e concentrá-los em cargos baixos, gerando a necessidade de um compromisso social e construção de uma sociedade democrática e pacifica”.
Para o professor e doutor Hélio Santos, as cotas não são suficientes, mas necessárias. “Temos que pensar na política de cotas como gestão. E gestão é o que está faltando”. Ele também apela para políticas mais eficazes.
Pestana e Aparecida também denunciam a exclusão de negros no serviço público em Salvador e em São Paulo. “São 30% de cotas onde 80% da população é predominantemente negra”. Já em São Paulo, “existem diferenças entre as regiões, pois o bairro em que há menor número de negros a renda é maior e o bairro com mais negros é o que menos possui renda per capita”, pontua a professora.
Santos disse que o ano de 2021 será essencial para a evolução de negros no Brasil e que eles deverão ganhar tanto espaço na sociedade quanto, os negros em EUA já vem ganhando com políticas afirmativas e sistêmicas.
*Sob supervisão do professor Kaluan Bernardo