Mulher negra

Painel da Afro Presença discute a mulher na luta antirracista

Por Ana Cecilia Mariano e Larissa Lopes

“O imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe reconhecer que as mulheres negras são intelectuais”, foi com as palavras da escritora Conceição Evaristo, que Regina Santana abriu o painel destinado à reflexão do papel da mulher negra na luta antirracista.

O painel ocorreu na primeira edição do evento virtual Afro Presença e contou com a contribuição da pesquisadora Alessandra Benedito, da promotora de justiça Lívia Santana e Sant’Anna Vaz, da Valdecir Nascimento historiadora, mestra em Educação e coordenadora executiva do ODARA (Instituto da Mulher Negra), da comunicóloga e produtora cultural Katiucha Watuze e da Dayana Pinto pedagoga, ativista e coidealizadora da página Arquivos Feministas.

A primeira convidada a tomar a palavra foi Valdecir Nascimento, que destacou a importância de se compreender o conjunto de vulnerabilidades às quais mulheres negras estão sujeitas. 

Ela enfatizou o papel histórico da mulher negra em movimentos sociais e dentro da própria comunidade na qual está inserida, trazendo a ideia de que é preciso lutar por novos espaços na sociedade brasileira, modificando-a, quando necessário, para além dos moldes racistas e sexistas. “Na medida que você está dentro de um contexto de violência permanente, de ausência de assistência e de uma percepção de humano, nós vamos ter a nossa saúde mental abalada de forma violenta”, declarou.

“Nossos meninos acessam a universidade, como resultado das cotas. Nós vamos ter um crescimento de jovens, meninos e meninas negros com depressão. Que a gente ainda não mensurou, para trazer esses elementos como elementos de denúncia, porque o contato e acesso a universidade não transformou a universidade num lugar favorável.”, diz Nascimento.

Ela chama a atenção para os índices altos de feminicídio que, segundo dados do Ministério da Saúde, reunidos pelo Atlas da Violência (2019), 66% das vítimas de feminicídio em 2017 foram mulheres negras, para a violência obstétrica, que segundo estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, também tem mulheres negras como principais vítimas, e para a grande incidência de depressão e alta mortalidade por câncer de mama entre mulheres negras. Dados coletados pelo Núcleo de Pesquisa em Desigualdades em Saúde da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) apontam que a prevalência de sintomas depressivos é de 52,8% em mulheres negras, em relação a 42,3% em mulheres brancas, enquanto pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG trás índices de sobrevida até 10% menor do que em mulheres brancas. 

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Nascimento cita também as mortes por violência policial, em que 75% das vítimas são negras, segundo relatório da Rede Observatórios da Segurança, grupo de estudos que reúne dados dos estados de São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco.

Alessandra Benedito, professora de Direito na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e na Universidade Presbiteriana Mackenzie, trouxe um olhar sobre o sexismo ainda vivenciado pela mulher – sobretudo a mulher negra – em nossa sociedade. “Acho que a primeira coisa que nós precisamos fazer é compreender que estamos falando de uma situação que é de exploração e de negligência social. Estamos em uma sociedade que é racista, mas que também é sexista.”, comenta, conduzindo uma reflexão sobre os aspectos históricos e socioeconômicos nos quais estamos inseridos.

Katiucha Watuze, trouxe na sua fala, questionamentos a respeito dos lugares ocupados pela mulher negra na sociedade brasileira, enfatizando a importância de que ocupem os mais diversos espaços, de forma que possam inspirar crianças e jovens negros a também buscarem seus espaços.  Ela mencionou as professoras negras, que estão muito presentes no ensino infantil e como o cenário é diferente nas universidades, onde segundo o Censo da Educação Superior (2016), eles representam apenas 16% dos docentes, número que cai ainda mais entre os professores de pós-graduação, onde professoras negras e pardas são 3% do total. 

Watuze ainda falou de capacitismo e preconceito, pontuando também que a lei Maria da penha é muito falha. 

No fechamento da palestra, elas abriram perguntas para os ouvintes, falando de como a mudança do racismo pode e deve pelo governo, através de reivindicações da própria poluição, e de como a educação é fundamental para que a sociedade, pouco a pouca, torne-se mais igualitária.

*Sob supervisão do professor Kaluan Bernardo