Em meio a todo caos que o Brasil e o Mundo vivem, algumas empresas tiveram que se reinventar e liberar o tão falado home office, mas alguns segmentos não puderam parar as suas atividades ou orientar os seus funcionários a realizar as atividades em casa. Com os profissionais de saúde não poderia ser diferente, eles são os principais combatentes da Covid-19 e diariamente passam por situações complicadas para que todos possam ficar bem
A humanização no caos
Os profissionais da saúde, que trabalham na linha de frente, vêm fazendo um papel de grande importância em meio à pandemia. A ajuda e atenção deles para os enfermos, se dedicando e colocando suas vidas em risco em pró da sociedade, é algo admirável.
Vanessa Souza Ramos, 32 anos, é técnica de enfermagem e conta que sua vida não está sendo fácil por conta do Covid-19, mas todos os dias busca uma inspiração para manter segurando as pontas nos dois hospitais que trabalha.
“Olha, ser da área da saúde em meio a esse caos está sendo muito triste e difícil de lidar, muita pressão, muita tristeza nas alas mais graves como nas UTIs. A preocupação com a nossa própria família é gigantesca, mas, serei sincera, quando vejo um dos meus pacientes recebendo alta, as famílias felizes, isso me alegra, mostra a humanidade, me faz cada dia mais ser uma profissional melhor. Essa é minha inspiração, ajudar pessoas sempre foi meu foco, meu objetivo, e hoje fico contente por conseguir fazer isso de modo tão eficaz para a sociedade”.
Uma outra área pouco falada, mas imprescindível, são os laboratórios de análises clínicas. Os profissionais desse setor são os responsáveis pela coleta e realização dos exames para diagnosticar o Covid-19. Marcelo Hmeliowski, técnico de laboratório há 30 anos, revela que nunca se sentiu tão mexido com uma situação como a que estamos vivendo atualmente.
“A demanda é muito grande, a pressão é imensa. Chego a virar 36 horas sem ir para casa. Lidar com a angústia dos outros e controlar a nossa é uma coisa muito difícil, mas tentamos fazer o nosso melhor, acolhendo e acalmando não só o paciente, mas as famílias também.”
Outra das profissões no campo de frente é a de agente saúde, que ficam aos cuidados do município. Esses profissionais têm como foco principal realizar visitas para orientação e acompanhamento dos pacientes residentes na área de abrangência do seu posto de saúde.
O trabalho é de suma importância para regiões mais carentes, em que os moradores não possuem informações corretas sobre os cuidados básicos de saúde. Os profissionais entram nas casas desses pacientes e avaliam as condições nas quais vivem.
Com a pandemia da Covid-19 a todo vapor imaginava-se que esse tipo de serviço seria suspenso ou algo do tipo, mas esses profissionais continuam realizando as visitas, e colocando as vidas em risco e também dos moradores visitados, até porque, mesmo que os agentes saúde conheçam todos os cuidados contra a transmissão do vírus, eles estão entrando em contato com um terreno desconhecido.
Entre os agentes de saúde e agentes ambientais o medo de contaminação impera, pois mesmo com o recebimento dos EPI’s (Equipamentos de proteção individual), ninguém está 100% seguro. Questionada sobre isso, Soraya Godói, 37 anos, diz: “eu como agente de saúde me sinto ameaçada né? Porque bem ou mal a gente tem medo do risco de contaminação. A gente não sabe se pode ser contaminado ou não, além de ter os nossos familiares dentro da casa, que também podem ser contaminados”. A agente ambiental, Dayana Delgaudio, 20 anos, parte da mesma ideia “claro que não me sinto segura; Se trata de um vírus, pode estar no ar, na campainha que a gente toca, na porta que a gente bate, etc.”.
Um agente de saúde tem uma meta de 200 visitas por mês e ao menos 95% das famílias da sua área de trabalho precisam assinar um documento que comprova a visita. Perguntadas sobre a dinâmica das visitas atualmente, as agentes dizem que o trabalho sofreu algumas mudanças, com um foco ainda maior nas orientações de higiene, vacinação e dengue, além das diversas campanhas de orientação que são conduzidas por eles já que algumas pessoas não estão os recebendo em suas casas, se limitando atender pelas janelas e portões.
Todo cuidado é pouco
Os riscos que esses profissionais enfrentam diariamente são altíssimos. Muitos deles tomam precauções necessárias ao saírem de seus trabalhos e ao chegar em suas residências. Não basta apenas a prevenção nas ruas, nos conta Elaine Pereira Soares, 28 anos, auxiliar de enfermagem. “Sabemos que precauções são necessárias tanto dentro como fora dos hospitais. Queremos ajudar e salvar nossos pacientes e por que não ajudar a prevenir em nossos lares? Precisamos ter consciência sempre, pois se não prevenir em casa, nossos familiares podem ser pacientes de outros profissionais, causando risco para outras famílias. Isso é um ciclo e aí começa o ‘fuzuê’”.
Elaine também explica quais cuidados ela toma em sua casa, mostrando o quão cuidadosa e preocupada é com sua família.
“Chego em casa, tiro meus sapatos. Antes de adentrar na sala de estar, passo um produto nos sapatos e o deixo separado, assim como minhas roupas. Tiro, lavo separadamente. Assim o risco de contaminação é menor. Procuro ficar ao máximo afastada das pessoas do grupo de risco da minha casa, como avó e sobrinha pequena. Separo meu prato, copo e talheres, mas uma coisa que é o mais importante e essencial. Sempre lavo minhas mãos com os métodos indicados e álcool em gel”.
Gratidão aos heróis sem capa.
“Esses profissionais são uns anjos, ajudar o próximo mesmo com a possibilidade de pegar doença não é para qualquer um, eu sou muito grata a eles” diz dona Lourdes.
Dona Lourdes, de 58 anos, aposentada, agradece os profissionais da linha de frente com um enorme sorriso no rosto e um olhar de admiração. Diz ela que nunca foi tão grata por existir pessoas assim, que pudessem salvar seu marido, Roberto Ferreira, que acabara de receber alta após grande risco de morte causado pelo Covid-19.
Sua filha, Mariana Ferreira Garça, de 36 anos, foi buscá-los no hospital e após ser questionada como foi o sentimento de saber que seu pai estava em situação grave, ela relata o terror que foi ao pensar no risco que seu pai corria, mas diz também, se sentir acolhida pelos profissionais que a tranquilizaram: “Meus pais são os amores da minha vida, não sabe o pavor que passei só de pensar em não ter mais meu pai comigo; mas uma coisa que tenho que admitir, os profissionais estão sim preparados, me senti muito acolhida e tranquilizada pela equipe que ajudou meu pai. O Brasil pode não ter muitos recursos, pode não ser o número um de EPI’S, mas uma coisa eu garanto, profissionais excelentes e acima de tudo humanos existe, e existe de monte, sou muito grata a isso e a todos”, finaliza com um olhar de gratidão e um ar de relaxamento em seu rosto.
Fiquem em casa
A famosa frase “fiquem em casa” não é apenas da boca pra fora dos profissionais. Infelizmente, o Brasil é um dos países com o maior número de mortes de profissionais da saúde, a falta de EPI’s, a falta de álcool em gel já são altíssimos, principalmente em hospitais públicos e precários. “Então, para amenizar o risco e a aglomeração, o ideal é que realmente as pessoas, que não estão na linha de frente, fiquem em casa”, conforme diz o chefe de enfermagem da UTI, Eduardo Monteiro Castro.
“Acho que já deu das pessoas acharem que essa pandemia é uma brincadeira, acho que já deu pra perceber o quão sério está sendo tudo isso, na TV, na internet, não falam de outra coisa, e sinceramente, eu como estou de fato lidando com pessoas correndo riscos, posso afirmar que está sendo um momento muito difícil, o negócio é sério. Muitas pessoas só vão cair na real se acontecer algo com seus familiares, não falo isso pra ser grosso, mas para ser direto, pois a situação não está fácil para nós que estamos a todo momento apreensivos por conta desse COVID. Já estão em falta nossos EPI’s, já está difícil trabalhar sem eles, ou com um número reduzidos deles. E, para ajudar, essas pessoas que não têm a consciência ficam saindo e colocando suas vidas e de outros em risco. Desde sempre foi explícito ‘não sair’, ‘quarentena’, ‘sem aglomeração’, e o que fazem? Saem, fazem festinhas, as famosas ‘sociais’. Vão famílias inteiras em supermercados, o negócio é sério e triste, vejo pessoas morrendo todos os dias.”
Eduardo dá esse depoimento nervoso e com os olhos cheios de lágrimas, mostrando que o perigo é eminente e que o contato prejudica, não só aos que saem porque querem, mas a todos que saem pois precisam; e finaliza: “por favor, pelo seu próprio bem e pelo bem de todos, principalmente de nós da linha de frente, FIQUEM EM CASA”.