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A carapuça que serviu!

Texto por Danielle Barros [1] e Letícia Souza [2]

Como mensagens de (in)diretas nas mídias sociais podem estremecer as relações interpessoais

As redes digitais proporcionam a interação e a comunicação entre indivíduos e grupos, porém, também causam desconfortos em determinadas situações, como debates sobre algum tema. Por meio de perfis que representam uma identidade real, mas não necessariamente expõe a verdadeira face do autor, pessoas travam uma verdadeira batalha de críticas ou ofensas, que podem ser aleatórias ou direcionadas para alguém ou grupo específico.

Vivemos em uma era tecnológica e veloz, na qual tudo se espalha rapidamente em apenas um clique. Um print e toda a confusão já está generalizada. A ferramenta que deveria, utópicamente, apenas auxiliar a interação entre indivíduos, torna-se um instrumento de guerra em diversos casos. Por isso, este ensaio tem o intuito de discutir e trazer pontos de reflexões sobre como as indiretas nas mídias sociais podem amargar relações e desencadear desordem comunicacional, levando indivíduos a centralizarem poder sobre outros sujeitos.

Uma comunicação bem-sucedida, é aquela na qual, interlocutor e receptor se manifestam com equidade, e que ambos escutam e tem o direito de se manifestar, se assim for da vontade de cada um dos envolvidos. Comunicação é via de mão dupla, e, por isso, de forma assertiva, abre caminho para o bom convívio em sociedade de cada sujeito que a constrói. Então, por qual motivo, é tão mais fácil ou satisfatório soltar uma indireta ou direta no mundo virtual? Por que o diálogo não pode ser presencial, ético e pacífico? E a mais intrigante: por que o homem não consegue separar os limites do real com o virtual?

McLuhan (1964), em sua obra “Os meios de comunicação como extensão do homem”, explica que ao considerarmos recorrentemente as ferramentas tecnológicas como nossa vida real, nos tornamos parte dela. “Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou auto amputação de nosso corpo, e essa extensão exige novas relações e equilíbrios entre os demais órgãos e extensões do corpo.” Portanto, seria então essa a lógica que explica quem aponta o dedo na internet para alguém, e porquê esse mesmo alguém se sente atingido, mesmo que a mensagem não tenha sido para ela? Teria Noel Rosa se enganado quando cantou o verso “E que aceite a carapuça quem se sente melindrado”? 

Portanto, mensagens soltas e apontamentos unilaterais não deveriam ser considerados comunicação em vias de fato. O diálogo, é de suma importância para que não haja falhas na comunicação pelos indivíduos envolvidos. Nas vias digitais, parece ser mais fácil dizer algo, imaginando que não será preciso o enfrentamento físico, e que, não haverá consequências. Mas há!

Traçar um limite entre o virtual e a realidade pode ser difícil para algumas pessoas. O livro “Dez argumentos para você deletar agora as suas redes sociais”, de Jaron Lanier, menciona alguns argumentos que te convencem a largar as mídias sociais por completo. No segundo argumento utilizado pelo autor, ele diz que “largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos” e isso abrange o total sentido dessas pessoas que têm a necessidade de expor indiretas  a outras. 

A realidade da conversa “frente a frente” pode se distorcer por trás das redes e fazer com que interpretações diversas ocorram, pois, muitas vezes as pessoas trocam indiretas sobre assuntos que não conseguem dialogar e resolver presencialmente ou que querem evitar uma discussão direta com alguém. No entanto, um canal digital que seria uma válvula de escape se torna uma bomba digital. 

Como dito anteriormente, este ensaio tem como proposta trazer a reflexão sobre como as relações interpessoais podem enfrentar maiores desafios e gerar conflitos de comunicação com o uso das mídias sociais. Além do mais, pode ser um caminho para construir propostas de uma comunicação menos violenta, tanto no espaço físico, como digital, entendendo, como foi dito por Pierre Lévy (1996), que o virtual não se opõe ao real, mas sim faz parte dele. 

[1] Danielle Barros e [2] Letícia Souza são alunas do 6º semestre de Jornalismo e integrantes do NERD – Núcleo de Estudos das Redes Digitais