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Conexão e Afeto: As redes sociais como porta-voz de coletivos menores

Fernanda Rosendo, estudante do 2º semestre de Jornalismo no FIAM-FAAM

Com o passar dos anos, cada vez mais coletivos que encontravam-se invisibilizados vêm buscando um espaço de fala na sociedade e na mídia. Com isto, a tecnologia e, principalmente, as mídias digitais desempenharam importante papel nesse processo de comunicação e representação de coletivos.

Com a criação das mídias digitais, os meios de comunicação mais antigos – como jornais e revistas físicos e até mesmo o rádio – estão sendo adaptados para meios mais modernizados, como as redes digitais e podcasts; todos estes acabaram migrando para o meio audiovisual ou sonoro para que pudessem atingir cada vez mais público de uma maneira mais rápida e eficiente.

Porém, alguns se adaptaram de maneira mais específica para que assim, atingissem públicos que não possuem esta grande visibilidade social: os coletivos. Rogério da Costa, autor do artigo “Os Afetos da Rede: Individualismo Conectado ou Interconexão do Coletivo?”, o qual serviu de base para esta reportagem, diz que, ao longo de nossas vidas, cada um de nós está situado em diversas redes; estas são compostas por nossas conexões interpessoais e como contribuímos para que cada uma aconteça.

Assim, dentro destas redes, encontramos os coletivos. Os coletivos são redes mobilizadas por um propósito em comum. Há uma grande variedade de coletivos nos dias atuais nos quais as pessoas podem encontrar e acolher outros que compartilham de seus ideais. Temos, por exemplo, coletivos na arte e dramaturgia, como a Capulanas Cia. de Arte Negra; nos movimentos sociais, como o coletivo de mulheres Liberta Elas; na política, como o MTST, entre muitos outros que partilham de um mesmo objetivo.

Estes desempenham importante papel na sociedade buscando representar pessoas que ainda não tem um espaço de voz ou visibilidade na sociedade, na economia, na política e nas mídias. Diversos formatos de jornalismo são desenvolvidos atualmente para dar voz a esses públicos e as redes sociais, por exemplo, são seu meio mais comum de divulgação. 

Para saber melhor como esses coletivos funcionam, fiz duas entrevistas online agora no mês de setembro com Ariene Rodrigues, responsável pelas redes sociais do Instituto de Defesa da População Negra e também com Gizele Martins, jornalista da Frente de Mobilização do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Quando perguntamos da importância das redes sociais para a divulgação desses movimentos idealizados e conduzidos por pessoas negras e periféricas, Ariene nos respondeu que “hoje, cerca de 30% do público do Instituto é de fora do Brasil e isto somente foi possível devido às redes sociais e a ampla e fácil divulgação que ela fornece”. Já Gizele nos informou que “jamais iria imaginar que conseguiria arrecadar e atender mais de 4 mil famílias no ano passado […] por conta de doações e por conta do contato feito a partir das redes sociais das páginas da Frente da Maré e suas redes sociais pessoais. Contatos com artistas, empresários, movimentos sociais, jornalistas […] e capas de jornais fizeram com que fossem reconhecidos no mundo inteiro”.

Porém, além desses benefícios das redes sociais, Gizele nos diz que há em contrapartida alguns pontos negativos sobre essa visibilidade:

Gizele diz: “[…] mas também tem a contrapartida, né? Por exemplo, a partir dessa visibilidade, no ano passado eu comecei a ser perseguida nas redes sociais. Fizeram inúmeros fakes. Desde o início desse ano, eu venho sofrendo com vários fakes em diversas plataformas, inclusive até em plataformas que eu nem tenho perfil.”

Além disso, Ariene também nos lembrou que é extremamente importante não esquecer das conexões de fora das redes sociais: é necessário poder dar voz a essas pessoas que não têm acesso às redes sociais, pois eles são grande parte do público de comunidades e complexos que necessitam dessa atenção, deste afeto social que ainda não é fornecido a todos.

Portanto, as redes sociais, mesmo crucificadas por muitos, foram um passo enorme na evolução das conexões e da comunicação entre coletivos: elas funcionam como uma grande rede onde pessoas que antes tinham suas lutas invisibilizadas podem, finalmente, ter  uma voz, mostrar suas realidades e propagar suas lutas sociais cada vez mais num meio que, antigamente, era concentrado nas mãos de poucos que buscavam oprimir essa população.