Durante a I edição do evento online Afro Presença, uma Iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com o Pacto Global da ONU, profissionais de várias áreas debateram sobre a inclusão de jovens negros nas universidades e mercado de trabalho. E a importância da estética foi um dos grandes temas.
No segundo dia do evento, sob a mediação da jornalista Carol Anchieta, os convidados debateram sobre a estética afro e sobre a necessidade de ocupar espaços, especialmente na mídia e no mercado de moda e beleza, para combater o racismo estrutural.
Lucas Silvestre, jornalista, modelo e fotografo LGBTQIA+, falou sobre a estigmatização dos homens negros e como a falta de representatividade na mídia marcou a sua adolescência.
‘’Existe essa expectativa que o homem preto no geral sofre de ser másculo, viril, selvagem.’’
Quando você é gay, cai na invisibilidade da sociedade diz. ‘’Viemos desse lugar de não ter uma referência, de não saber quem somos. Na televisão, a pessoa preta é sempre bandida, serviçal, subalterna, ‘’ Quando entrei na adolescência, a internet estava se popularizando mas eu não tinha referências. Na minha época, as referências eram os mesmos que tinham cabelos lisos, eram super brancos e usavam roupas de frio’’, comenta.
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Já a designer de moda e professora do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carol Barreto, falou sobre a opressão racial no ambiente acadêmico e a necessidade de transformá-lo. ‘’Eu estou no departamento de estudos feministas e somos poucas.Ao mesmo tempo que é importante a minha presença — porque sou um espelhamento das minhas discentes – a minha existência é questionada o tempo inteiro.” Ela exemplifica: “O meu impedimento físico no campus já aconteceu diversas vezes. Já aconteceu de segurança que não acredita que eu sou professora e não me autoriza a estacionar o carro ou uma colega branca que está em sala de aula e não sai na hora dela porque não me reconhece como igual’’.
Os palestrantes debateram sobre a necessidade de ocupar espaços no mercado de moda e beleza, uma vez que é responsável por construir um imaginário para as gerações atuais e futuras, sendo as blogueiras, youtubers e instagrammers negras importantes para ajudar outras mulheres no processo de construção e aprofundamento da auto imagem.
Nesse sentido, a influencer apresentadora do programa “Se essa Roupa Fosse Minha”, do canal GNT, e colunista da UOL, Ana Paula Xongani, falou sobre o papel da moda de contestar o sistema racista imprimindo nas coleções as histórias, vivências e ancestralidade da população negra, bem como a necessidade de diversificar esse mercado, inclusive dentro da negritude, para atender aos mais diferentes perfis.
‘’A gente não fotografa o que a gente vê, a gente fotografa o que é. E isto tem a ver com a estética de como construímos o nosso trabalho, com o imaginário que tentamos produzir’, disse o fotografo, criador de conteúdo, educador e escritor, Roger Cipó.’
As influenciadoras digitais Ana Paula Xongani e Gabi Oliveira, também comentaram sobre segregação racial na indústria da estética que nega a beleza das mulheres negras, principalmente as de pele retinta e cabelo crespo, e não desenvolve produtos que atendam as suas necessidades e expectativas.
‘’Eu fiz um post no Instagram com uma música maravilhosa da Tassia Reis que se chama ‘Preta D+’ que fala por mim, e eu simplesmente exponho e passo as bases que eu recebi pra demonstrar que nenhuma tem o tom da minha pele. As pessoas fazem a leitura de quanto isso é violento sem eu precisar dizer‘’ relata Ana Paula Xongani.
“Falando em cabelo, eu gosto muito de bater nessa tecla da trajetória do cabelo. Eu acho que esse é um movimento muito nosso. Nós movimentamos esse mercado. Hoje vemos muitos produtos pra cabelo crespo e cacheado mas nem sempre foi assim: por muito tempo as mulheres faziam receitas caseiras para o cabelo até que as marcas despertaram para o fato de que havia esse perfil de consumidoras e ninguém dando atenção pra elas’’ conta Gabi Oliveira, influencer e podcaster do Afetos.
Por Samira Moraes*
*Com supervisão do professor Kaluan Bernardo