Por Giuseppe Frateschi
Para muitos profissionais da comunicação, o trabalho na área audiovisual é uma relação de amar ou odiar, algo bem explicado na manhã da quinta-feira (27), que foi o quarto dia da Primeira Semana de Rádio e TV do FIAM-FAAM Centro Universitário; o evento teve como tema a produção independente de cinema e contou com palestrantes de renome no mercado: Yuri Scocuglia, Mañhna Laborda e Hugo Bin, além de ter mediação da professora Isabella Goulart e organização do coordenador do curso na instituição, Fernando Leme.
Um dos principais temas no mercado cinematográfico, a produção feita por profissionais independentes só tem crescido no Brasil, isso se deve a uma série de fatores, como a crise política, econômica e social que vem se estabelecendo no país. Contudo, de acordo com estudos da Agência Nacional de Cinema (ANCINE), os brasileiros tem ido cada vez mais ao cinema. Só em 2015 foram 22,5 milhões de telespectadores em produções nacionais, um número apenas 0,8% maior que em 2014, mas que só deve aumentar.
Com passagem por diversas funções e produções, como assistente de direção e filmagem da série “Negócios de Família”, o palestrante Yuri Scocuglia, falou sobre como é lidar diariamente com os profissionais durante a criação e filmagem cinematográfica: “o assistente de direção define a logística da filmagem, então a gente é a ponte entre o diretor e a produção […] é uma função que tem a graça de lidar com a equipe inteira”.
Já Mañhna Laborda, apesar de ser extremamente gratificante, o trabalho em produção cinematográfica é muito exaustivo e leva o profissional ao limite. Ela usou como exemplo o trailer do filme “Tô Ryca” (2016): “esse filme foi o caos de fazer […] a gente filmou a primeira cena no subúrbio carioca, fazia sensação térmica de 52º graus e ficamos presos durante uma guerra de facções do Rio”, e completa: “para quem quer fazer produção, é muito legal, tem essa coisa meio mágica, essa coisa de resolver problemas”.
De acordo com Aline Moura, de 23 anos, que está cursando Rádio e TV, é muito importante receber este tipo de informação: “saber qual é o caminho para se tornar produtora de cinema é muito importante, ainda mais para a gente que tem menos oportunidades de entrar nesse mercado fechado”. Segundo o Seminário Internacional de Mulheres no Audiovisual de 2017, que foi organizado pela ANCINE, apenas 20,3% dos filmes brasileiros foram dirigidos por mulheres.
Para Mañhna, que afirma ser ativista sobre feminismo, o machismo no mercado audiovisual está arraigado de várias formas: “no cinema existem algumas coisas que pegam: primeiro que não somos maioria em nenhum departamento, nem no de arte, onde temos o maior contingente de mulheres”, e completa: “à vezes eu falo uma coisa, o cara não acredita em mim e eu tenho que chamar o meu chefe homem para legitimar o que eu disse, isso é muito chato e cansativo”.
“a gente passa muito tempo no set de filmagem, então o cinema em alguns momentos é um ambiente muito sexualizado, eu conheci o meu marido (Yuri Scocuglia) no cinema, trabalhei com ele. E isso às vezes passa um pouco do limite, desde assédio até pequenas brincadeiras […] uma coisa que eu acho muito legal para saber se é machismo ou não é tentar colocar um homem no lugar”, e continua:” então eu acho que sim, existe, sim diminuiu, mas ainda é muito pouco, a Anna Muylaert, por exemplo, é muito pioneira nisso”
Já segundo Hugo Bin, que durante a palestra falou sobre as dificuldades do dia a dia do profissional de cinema, não é tão fácil ingressar neste mercado: “às vezes você tem a sorte de conhecer alguém que acaba de introduzindo no mercado, mas pensando no caso de não ter ninguém, é ir se aproximando aos poucos, a TV e a publicidade podem te aproximar”, e finaliza: “tudo vai depender do seu foco e até onde você quer ir”.
Embora o Brasil esteja passando por um contexto de crise, vale apontar que os três palestrantes ressaltaram a falta de profissionais independentes na área, o que pode ser uma grande porta de entrada para estudantes e recém formados em rádio e televisão.