Oswaldo Coimbra

Oswaldo Coimbra relembra os 60 anos da Ditadura Militar na Semana de Ciências Sociais, Geografia e História

Palestra do pesquisador abordou participação da Igreja na oposição ao golpe de Estado

Reportagem: Lara Sylvia Guzzardi Altieri Amorim [1]

Supervisão: Professores Gean Gonçalves e Sofia Franco [2]

No dia 19 de novembro, durante a Semana de Ciências Sociais, Geografia e História promovida pela Escola de Educação do Centro Universitário FMU, os estudantes tiveram a oportunidade de participar de uma palestra com Oswaldo Coimbra, mestre em Comunicação Social, doutor em Jornalismo e Editoração e autor do livro “Brasil, Urgente: o Jornal dos Párias da Igreja”, lançado em agosto de 2024 pela editora Letraselvagem. O evento ocorreu no Auditório Nelson Carneiro, do campus Liberdade.

O novo livro de Oswaldo, que atualmente cursa História na FMU, conta a trajetória de um jornal que marcou época na história brasileira. O pesquisador conta que um ano antes do Golpe Militar de 1964, surgiu o Brasil, Urgente, fazendo um contraponto à chamada “grande imprensa”, que era extremamente conservadora. O veículo de comunicação foi elaborado por católicos de esquerda, em sua maioria jovens estudantes, que defendiam a ideia de uma ruptura na estrutura socioeconômica responsável pela desigualdade no país.

 Livro “Brasil, Urgente: o Jornal dos Párias da Igreja” de Oswaldo Coimbra | Foto: Lara Sylvia Guzzardi Altieri Amorim/AICOM

“Nas vésperas da desestabilização do governo João Goulart, em 1 de abril de 1964, os estudantes atuavam fortemente na vida política do país, organizados nacionalmente. Isto ocorria através das entidades estudantis: a UNE, no caso dos estudantes universitários, e a UBES, no dos secundaristas. A presença relevante deles na discussão das questões nacionais era notável desde os anos de 1930. Mas se acentuou no início dos anos de 1960, quando o papa João XXIII convocou os católicos para a luta contra a injustiça social, em suas encíclicas”, conta Oswaldo.

Após comentar sobre a enorme influência das organizações estudantis na militância contra a Ditadura Militar, Oswaldo diz sorridente: “Me sinto alegre de estar aqui, pois olhando para vocês enxergo a mesma faixa etária dos jovens que viabilizaram o Brasil, Urgente”. Pouco depois, ele dispara para um estudante da plateia: “Você sonha com a justiça social? Acredita que a juventude atual é carente de idealismo?” ao que o estudante responde: “Sonho! E acho que a nossa juventude tem idealismo, sim, mas está muito perdida”. O pesquisador deixa uma mensagem para os estudantes no auditório: “Considerem a possibilidade de ser uma mentira que a ideia de uma sociedade sem injustiça social esteja morta”. 

Quando perguntado sobre o motivo da falta de organização dos estudantes atualmente, Oswaldo revela à AICOM: “Isto não acontece hoje porque a classe estudantil se encontra desmobilizada, como aliás, outros segmentos importantes da sociedade brasileira, entre os quais, o dos trabalhadores”. Porém, o professor também comenta o uso de ferramentas modernas, como as redes sociais, que podem ajudar os jovens a mudar essa realidade: “Hoje, além dos meios tradicionais de mobilização estudantil, como os partidos políticos afinados com a juventude, em geral os mais rebeldes diante do status quo, há a pujante força da internet”.

Oswaldo Coimbra encerrou sua fala e passou o microfone para Ciça Carboni, jornalista, documentarista, roteirista e professora da FMU. Ela assumiu a palestra e discorreu sobre a importância política do município de Osasco no combate à repressão militar, que, graças à organização da população operária, se tornou palco de resistência durante a ditadura, em especial a greve de 1968. “A falta de memória sobre esse processo de luta está apagando essa história que é tão importante”, diz Ciça.

 Professora Ciça Carboni fala sobre a história de Osasco e a Ditadura Militar | Foto: Lara Sylvia Guzzardi Altieri Amorim/AICOM

Conectando o assunto de sua pesquisa com o discurso de Oswaldo, a professora conta que a maior parte da militância esquerdista de Osasco também era ligada ao catolicismo: “A Igreja teve uma força muito grande dentro deste movimento, pois é ela que conseguiu estabelecer uma conexão significativa com a população dos bairros que estavam se organizando, já que o diálogo entre os dois era muito mais fácil e possível”.

A organizadora do evento, Vanessa Maria da Silva, coordenadora dos cursos de Geografia, História, Letras, Pedagogia, Secretariado Executivo Trilíngue e Tradução e Interpretação na FMU, nos revela a importância de um evento que recorda os 60 anos do início da Ditadura no Brasil, em especial para os cursos de licenciatura: “A nossa preocupação é formar professores que serão responsáveis por educar a nova geração. É muito importante que todos estejam conscientes do que foi a Ditadura, para que esses erros não sejam repetidos. É uma temática muito triste, mas muito necessária. O debate precisa ser contínuo”.

[1] Aluna do curso de Design da FMU|FIAM FAAM, estagiária da AICOM

[2] Professores do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisores de estágios AICOM