Barbara Paula é uma delas; jornalista conta sua experiência no jornalismo de periferias
Reportagem: Ana Paula Rodrigues [1]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2]
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias foi fundada em 2010 com o intuito produzir reportagens a partir das periferias e com a ótica de quem vive nelas. A proposta é a de minimizar as lacunas de informação sobre esses territórios e contribuir para a desconstrução dos estereótipos das periferias.
Quem acaba de entrar nessa missão é a recém-formada em Jornalismo Barbara Paula, assim como seu colega Edgard França. Ela conta nesta reportagem sobre a experiência de ser uma das pessoas correspondentes locais das periferias, um grupo de jornalistas e outros profissionais que narram como é viver nas periferias da capital e da Grande São Paulo.
Como tem sido ser uma correspondente da Agência Mural?
“Eu me inscrevi justamente para poder conhecer a minha quebrada, o meu bairro, eu sou correspondente da Mural, eu represento o Capão Redondo que é de onde eu venho. Eu sempre estudei fora daqui, então acaba que a gente só volta pra casa para dormir e quando temos algum rolê é sempre em outras regiões, então eu escolhi a Mural porque me interessei por ela, porque eu vi a oportunidade de conhecer o meu bairro.
Tem sido um processo de conhecimento eu estou conversando com a pessoas, entrando em grupos de comunidades, de condomínios, ouvindo escolas, pais para entender o que eles gostariam de que fosse abordado, tudo o que eu preciso contar sobre o Capão Redondo. Então, ser correspondente é meio que você ser ouvinte o tempo todo, é você ser curioso, estar em alerta para ver o que está acontecendo na sua quebrada.
Estou muito no desafio de conhecer e apurar. Achar uma pauta legal para levar, porque a Mural não faz uma cobertura tradicional como outros veículos que reforçam a periferia como lugar de criminalidade. Nós gostamos de contar histórias de pessoas, que tragam outra verdade, outro ponto de vista, mais real e mais crítico da quebrada”.
Como foi o processo seletivo?
“Eu fiquei sabendo por meio da própria FIAM-FAAM, o professor Gean Gonçalves nos encaminhou por e-mail essa iniciativa com vagas abertas, que até então eu não conhecia.
Depois, fui pesquisar sobre a Mural e descobri que o jornalismo da periferia, que é um jornalismo local, mais alternativo, mais crítico e assim me surgiu o interesse de participar, pois é voltado para nós que estamos iniciando uma carreira em comunicação, que somos recém-formados.
Eu me candidatei a vaga e houve duas etapas sendo a primeira o envio da candidatura e a segunda foi necessário enviar uma sugestão de pauta, depois do envio, saiu o resultado do processo seletivo A partir disto, nós entramos no projeto, primeiro para um ciclo de formação que vai até dezembro.
É importante dizer que foi tudo bem tranquilo e eles também dão prioridade para pessoas de escola pública, da periferia, pessoas negras e LGBTQIAP+.”
Como está sendo sua rotina?
“A Rotina na Mural é bem tranquila, na primeira parte a gente tem um cronograma, você tem aulas online para assistir, também temos encontros presenciais Além dessas aulas online, quando finalizamos as mesmas chegamos na etapa em que produzimos uma pauta e a sugerimos para ser aprovada pela Mural, depois que a pauta é aprovada você pode dar concepção a sua matéria e você que vai escolher o formato, você que vai definir. A Mural tem as editorias dela, então tem editoria para empreendedorismo na quebrada, para o rolê mostrando que o pessoal empreende na gastronomia, nos parques, na qualidade de vida, mostrando esse lado cultural e empreendedor da quebrada, também tem um olhar para o meio ambiente. Então depende muito de qual editoria sua pauta vai se encaixar e você tentar vender isso para eles, a Mural aprovando estipula um prazo, quanto antes melhor, você ainda decide se vai querer fazer um vídeo para os stories do Instagram, se vai ser uma matéria em reels, se em vídeo ou texto com dados, infográficos, isso fica ao seu critério e a Mural está ali mais como um suporte para te apoiar, então no curso deles você vai ter uma noção do que pode ser feito, qual a linha editorial da Mural, qual a linguagem para fazer um conteúdo que seja a cara da Mural”.
Quais são suas expectativas nesse trabalho? O que você tem aprendido nessa jornada?
“Uma das coisas que eu queria quando entrei na Mural era aprender sobre meu bairro, então essa é uma expectativa que eu estou correndo atrás, estou aprendendo a conhecer, a ficar mais atenta e aprimorar esse olhar de repórter, por que as vezes algo que você acha que não é importante na verdade acaba sim sendo importante, às vezes, uma reclamação de uma mãe numa creche é uma observação de todas, então é legal apurar isso, outra expectativa é me efetivar, trabalhar como comunicadora.
Está sendo uma grande oportunidade de me ver e atuar como repórter, eu acabei de produzir minha primeira matéria, foi em formato de vídeo conheci um espaço (um restaurante) e me deu muito orgulho falar desse espaço porque ele tem uma identidade visual e uma história única, é uma cuscuzeria que tem várias sabores, eu nunca havia comido deste jeito e foi muito legal trazer essa pauta gastronômica e mostrar que na quebrada tem qualidade, tem espaços que merecem ser visitados, frequentados e valorizados.
A Mural me ensina muito essa questão da potência, de dar voz e criatividade para a comunidade, mostrando que aqui com ou sem a infraestrutura a gente faz o corre, faz acontecer e não romantiza isso, mostrando as falhas que a gente tem para driblar, informação para conseguir exigir o que é do nosso direito, um olhar atento do Estado.
É a primeira vez que sou remunerada para isso e isso dá um valor e um gás a mais e é tipo a cereja do bolo, você ser reconhecida de fato como jornalista. Eu sou correspondente da Mural. Eu sou repórter, sou jornalista. E isso é incentivador”.
[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM