Jornalistas participaram da Semana Acadêmica; Alma Preta lançou manual de redação antirracista que foi distribuído aos presentes
Texto e fotografia de João Victor [1]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2]
A Semana de Jornalismo, Relações Públicas e Comunicação Institucional de 2023 contou com uma palestra ministrada pelos jornalistas Pedro Borges e Andreia Rosendo sobre a necessidade do protagonismo da imprensa negra no Brasil atual. A iniciativa foi promovida pelo NERA – Núcleo de Estudos Étnico-Raciais, por meio da professora Maria Lucia da Silva.
A palestra teve como objetivo apresentar para os alunos novos formatos de gestão de processos, pessoas e recursos através do jornalismo independente e antirracista. Para isso, os participantes conheceram o “Manual de Redação: o jornalismo antirracista a partir da experiência da Alma Preta”, lançado pela agência de notícias que cobre a temática racial no Brasil e no mundo.
Justamente em setembro de 2023, completou-se 150 anos de história da imprensa negra (IN) no Brasil, a imprensa do Brasil começou oficialmente em 1808 e a imprensa negra teve seu surgimento em 1873. Os convidados comentaram que há lacunas de pesquisa sobre a história da imprensa negra, com poucas publicações sobre o tema e ensino nos cursos de comunicação social. É sabido que o surgimento da IN ocorre no período da escravização, processo que tem um impacto significativo para todos nós até os dias atuais.
Foi a partir de 2015, sabendo da trajetória da imprensa negra, que Pedro Borges iniciou a ideia do projeto Alma Preta, quando ainda era estudante de Jornalismo na UNESP. Tudo começou como uma ideia de TCC: “Hoje há um esforço para o acréscimo de pessoas negras no mercado de trabalho, que é algo que não acontecia muito no passado nas Universidades, seja em instituições privadas ou públicas vão privilegiar pessoas brancas, isso gera uma inquietude nossa, hoje temos uma equipe, contratamos e trazemos freelances para nosso projeto de agência de notícias”, contou Borges.
Segundo o convidado, o que se vê é um jornalismo de referência compromissado com os valores de conglomerados de mídia e empresariado do Brasil. Para ele, canais de comunicação e informação têm que deixar explícito o que pensam e quais são suas ideias envolvendo questões políticas. “Em nosso editorial, o projeto Alma Preta conta suas ideias e propósitos, nossa relação como jornalistas negros como os temas que pautamos. Tivemos um processo de amadurecimento de três anos [da nossa identidade] até chegar no manual”, explicou.
Sobre o Manual do Alma Preta, Borges ressaltou que a parceria com o Instituto Ibirapitanga foi fundamental pra desenvolver a pesquisa que subsidia a publicação. O projeto contou com o apoio de vereadores progressistas, feministas e antirracistas da cidade de São Paulo.
“Graças as essas parcerias, conseguimos fazer um livro com distribuição gratuita. Queremos espalhar isso para estudantes de jornalismo para que se formem não só pelos manuais da Folha de S. Paulo e Estadão, mas também com um manual com a nossa linha editorial, que explica como a gente cobre segurança pública, meio ambiente e outros temas bastante importantes em nossa sociedade”, declarou Borges.
Já a palestrante Andreia Rosendo concedeu um breve depoimento sobre a avaliação que ela faz do projeto Alma Preta:
“Estamos em um importante debate sobre novos materiais para a área da comunicação social. É assim que se cria inovação e é o que o Pedro traz em relação aos manuais, eles existem há muito tempo no ensino e na prática jornalística, só que temos que prestar atenção ao modo como eles organizam o tratamento da cobertura. Como essas informações dos próprios manuais atuam na formação de novos jornalistas?”, diagnosticou Rosendo ao considerar a falta de uma posição antirracista da cobertura jornalística convencional.
[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiário AICOM
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM