Em parceria com Instituto Liberta, jornal promoveu 6ª edição do seminário na Unibes Cultural
Especial: Maria Fernanda Vilani*
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves
Em 18 de maio, foi realizada a sexta edição do seminário Violência Sexual Infantil, da Folha de S. Paulo, no teatro Unibes Cultural, em São Paulo, com apoio do Instituto Liberta. O evento contou com a participação de estudantes de Jornalismo da FIAM FAAM, cerca de 20 alunos, que foram acompanhados pelo professor Gean Gonçalves.
Também transmitido ao vivo pelo Youtube no canal da Folha, no primeiro bloco do evento, foi apresentado um minidocumentário sobre o “caso Sophia”, a história de uma menina de 2 anos e 7 meses morta após ser agredida e estuprada em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A mãe da criança, Stephanie de Jesus Silva, e o padrasto Christian Campoçano Leitheim estão presos.
O pai da criança, Jean, e seu companheiro, fizeram, ao todo, sete denúncias contra a mãe e seu parceiro, antes da morte, e mesmo com mais de 30 entradas no hospital, o pai de Sophia recebeu a notícia da morte da filha em janeiro de 2023.
Ao ser entrevistado ao vivo pela jornalista Eliane Trindade, Jean Carlos Ocampo, respondeu sobre a negligência e a falta de comunicação entre as autoridades da rede local de proteção à criança:
“Eu creio que comunicação entre eles foi uma parte que não teve, sabe? Nas 30 vezes que ela foi ao hospital, não olharam para Sophia como deveriam olhar, não investigaram para ver se ela estava com hematomas, entendeu? Não falaram com o Conselho Tutelar, não procuraram, pois eles não tiveram comunicação entre eles”.
O pai da menina ainda descreveu a homofobia institucional que sofreu, o que trouxe ainda mais descaso com a sua filha:
“Eu queria ser olhado como uma família, mesmo sendo dois pais, mesmo sendo um casal homoafetivo. Nós amávamos a Sofia. A senhora não tem noção do vazio que está lá em casa. Todas as coisas que têm na casa, que a gente mexe, que a gente faz, tudo lembra. Isso dói muito, isso corta o nosso coração”.
A segunda parte do evento contou com o primeiro debate do seminário. Dirigida pela jornalista Cris Guterres, contou com a presença da pedagoga Márcia Bonifácio, a médica Renata di Sessa e a promotora de Justiça, Renata Rivitti, as quais discutiram sobre a falta de preparo dos profissionais de todas as áreas para lidar com a violência sexual infantil.
Levantando as lacunas na formação dos profissionais, foram apontadas as falhas do sistema de Justiça, ao não trazer os estudos obrigatórios sobre os direitos infanto-juvenis; da área de saúde, ao não se aprofundar na identificação de sinais além dos hematomas e formas técnicas; e claro, do sistema educacional, lugar fundamental de preservação da vida e experiência social que levam as crianças a identificarem a violência sofrida.
A segunda mesa de debate foi mediada pelo ex-secretário de Educação do Estado de São Paulo, Gabriel Chalita e trouxe como convidadas a autora de livros infantis, Caroline Arcari, a artista plástica e diretora do Ateliescola Acaia, Elisa Bracher e Marina Motta, psicóloga e orientadora da Escola Americana de Campinas.
Nesta mesa, a conversa foi voltada a prevenção: como a criança deve ser vista como um ser sexuado, como seus sentimentos e sensações devem ser respeitados e como sua segurança deve ser mantida.
Já chegando ao fim do seminário, houve a leitura de um trecho editado do livro “O Escuro me Abraça”, de Vanessa do Mila, interpretado pela atriz Chris Couto, emocionando e sensibilizando todos os presentes.
O encerramento do evento ficou a cargo de Luciana Temer, diretora-presidente do Instituto Liberta, que lançou o manifesto “Eu apoio a educação de crianças e adolescentes para a prevenção à violência sexual” #ahoradeagiréagora #paraprevençãoinformação.
O manifesto pode ser assinado no site do Instituto Liberta e o evento pode ser assistido na íntegra a seguir:
*Estudante do primeiro semestre do curso de Jornalismo