Fotojornalismo-2

“Desabrigados”: exposição fotográfica dos alunos de Jornalismo

Mostra de fotografia trata de uma das questões sociais mais importantes em São Paulo: a população em situação de rua 

Reportagem: Ana Paula Sousa [1]
Edição: Larissa de Lima [2]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [3] e Prof. Wiliam Pianco [4]

Na praça de alimentação da FMU no Campus Liberdade, aconteceu, durante o mês de maio, a exposição fotográfica “Desabrigados”, exibição que conta com uma série de fotografias produzidas pelos alunos de Jornalismo. O projeto é coordenado pelo professor Cesar Molina como atividade prática, e ele nos contou um pouco mais sobre o trabalho. 

Começando pelo tema, Molina nos diz que por ser um trabalho fotojornalístico, a ideia era aproveitar um tema relacionado a causas sociais e ligado com o cotidiano da nossa cidade. Fazendo com que os alunos tenham uma imersão maior nos problemas ao redor. “O tema Desabrigados veio do número explosivo de pessoas nas ruas de São Paulo em vista da pandemia [de covid-19]”, diz o professor. 

De acordo com estudo do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da UFMG, a cidade de São Paulo contabiliza mais de 52 mil pessoas nas ruas. A maioria é negra e o número cresceu em 2023, alta de 8,2% em relação ao estudo anterior de novembro de 2022. 

Antes do trabalho fotográfico, os estudantes de Jornalismo trabalharam com reportagens que mostravam o aumento no número de desabrigados, sendo essa uma causa de extrema urgência e uma pauta social latente na cidade de São Paulo, assim o assunto foi escolhido. 

No início de 2021, a cidade de São Paulo tinha 20 mil pessoas em situação de rua, com o impacto econômico da pandemia da covid-19, o aumento foi exponencial em virtude do desemprego que atingiu 14,8 milhões. 

O professor Cesar também declara a importância do trabalho de campo, diz que às vezes os alunos ficam muito presos à teoria, mas que é interessante garantir que os alunos adentrem mais profundamente os problemas que os cercam, até para saberem mais o perfil dessas pessoas em situação de vulnerabilidade. 

“O morador de rua é muito estigmatizado, as pessoas acham que é só um perfil”. O docente relata que muitos alunos comentaram que esse projeto os ajudou a enxergar de uma maneira diferente e ter o ponto de vista mais apurado de quem são essas pessoas desabrigadas.  

O perfil de uma pessoa em situação de rua é extremamente variado, afirma o professor. Ao longo de um ano do projeto, ele conta que já ouviu muitas histórias, cada uma diferente da outra. Histórias de pessoas com diploma, estabilizadas financeiramente, mas que acabaram ficando completamente sem renda e foram morar na rua; pessoas LGBTQIA+ que foram expulsas de casa, o que quebra o senso comum sobre as pessoas sem abrigo.  

A aluna Sabrina Moreira, do 3º semestre de Jornalismo, conta que gostou bastante de realizar o projeto e que foi uma experiência bem diferente. 

“Eu gostei do tema, achei inicialmente que seria muito desafiador, mas quando fomos começar a procurar por pessoas nessa situação, vimos que era mais fácil de encontrar do que esperávamos, o que é bem triste, já que a pandemia já foi extremamente problemática por si só, então ter também tantas pessoas indo parar nas ruas por conta dela trouxe uma sensação horrível, sensação essa que eu sentia mais no momento ápice da pandemia”. 

Sabrina também relata que o trabalho teve um impacto na sua percepção de mundo, “Fez eu olhar com ainda mais atenção em relação ao governo, que não dá assistência suficiente para essas pessoas, já que existem poucos albergues e, em muitos momentos, eles não são tão bons. O trabalho trouxe mais consciência em relação a nós mesmos [aos nossos privilégios]”. 

Sabrina é autora de uma das fotografias da mostra, foto na qual ela capta o Edelson, um senhor de 50 anos em situação de rua. 

Foto: Reprodução/Sabrina Moreira

“Aquela foto foi tirada no vão do Masp, na Av. Paulista, e aquele senhor foi uma pessoa muito gentil com a gente desde o momento em que começamos a conversar, ele respondeu tudo que tínhamos pra perguntar e contou sua história. Basicamente, ele está há anos na rua, e fica transitando entre sair dela e voltar, naquele momento ele estava a alguns meses em situação de rua, indiretamente pela pandemia, mas não contou com detalhes sobre o motivo de transitar entre as ruas e fora delas. Eu tentei passar com aquela foto o que eu senti vindo dele, uma certa tristeza e solidão, por isso eu escolhi aquele plano totalmente focado em seu rosto, ao invés de um mais aberto e pegando os arredores […] já que é um lugar super movimentado e ele apenas estava lá, sendo ignorado por quem passava. 
 

[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM – repórter.   

[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM – editora.    

[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM.    

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM.