A professora Maria Lucia explica quais temas a disciplina contempla e como o conteúdo pode guiar o estudante desde o início do curso até o fim
Reportagem: Maria Eduarda Carvalho [1]
Revisão e Edição: Gabriela Francia [2]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [3] e Prof. Wiliam Pianco [4]
Teorias do Jornalismo é uma das primeiras disciplinas que o estudante de jornalismo vai se deparar na matriz curricular ao entrar na graduação. Nela, são abordados os intelectuais das ciências humanas que ajudaram a entender a necessidade das notícias, trazendo ideias da filosofia e da sociologia, até que se constrói um pensamento dos próprios jornalistas sobre seu papel social.
Como nasce uma área científica? Antes é necessário saber como se constrói uma tradição de estudo e o que é um ramo de estudo de uma área, um tema ou fenômeno que passa a ter cada vez mais interesse por parte dos estudiosos. Novas propostas de pesquisa vão surgindo até que se consolidam como área de estudo. Isso foi o que aconteceu com o jornalismo ao longo do século 20.
Para entender mais sobre isso, entrevistamos a professora Maria Lúcia Silva, docente atuante há mais de 27 anos, que atualmente dá aula nos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da FIAM FAAM.
AICOM – O que é estudado na disciplina Teorias do Jornalismo?
Profa. Maria Lucia – As principais correntes de pensamentos e características do Jornalismo. Essas correntes de pensamento vão ser desenvolvidas pensando o profissional jornalista, o Jornalismo, as tecnologias e a técnica. Então essas correntes vão permear todo debate que a gente faz dentro da disciplina. Vamos discutir as diversas teorias que aconteceram após a invenção da imprensa, depois de Johannes Gutenberg, pois a primeira grande revolução tecnológica que o jornalismo acaba se beneficiando vem da questão da escrita. Essa é a primeira grande revolução que vai possibilitar ao jornalismo fazer a memória do cotidiano das organizações, das cidades e da sociedade. Então, a nossa disciplina vai muito com base nessa linha de desenvolvimento dessas teorias que foram construídas a partir de tal momento.
AICOM – Quais livros e autores são mais citados nas aulas?
Profa. Maria Lucia – Eu venho citando alguns livros que acho primordial. Primeiro, os do Nelson Traquina, que é um pensador que vai ajudar a gente a compreender essas teorias. Depois Mauro Wolf, que também tem livros de teoria jornalística, e mais recentemente eu trabalho muito com a obra do Felipe Pena, que é um autor contemporâneo, jornalista jovem, doutor brasileiro, que trouxe a partir da sua tese, dos próprios textos do Traquina e do Wolf, um novo entendimento que amplia o debate sobre essas teorias.
AICOM – Qual é o método de avaliação dessa disciplina? Provas, trabalhos?
Profa. Maria Lucia – Cada semestre a gente vai pensando no que se propõe ao alunos. Às vezes o aluno está no segundo semestre e ainda não está muito apropriado do que seja o ensino superior, então ele faz poucas intervenções daquilo que a gente propõe, mas mesmo assim, eu coloco a partir do que eu desenvolvo, uma atividade prática, como uma grande reportagem, por exemplo. O primeiro exercício é sempre para ele compreender a relação da teoria com a prática. Analisar uma matéria jornalística com base em uma das Teorias que nós estudamos. Produzir um podcast contextualizando as teorias com a prática jornalística. Às vezes quando a turma é muito grande dá até pra fazer mais grupos, debater e trazer algumas questões. E tem as provas, onde ele vai colocar o que ele aprendeu nas questões objetivas e subjetivas.
AICOM – O aluno precisa ter alguma característica em específico para que ele se saia bem nessa matéria?
Profa. Maria Lucia – Tem que gostar de ler. Ele tem que chegar querendo ser jornalista. Quando ele ou ela chega na Escola de Comunicação tem que querer ser um bom comunicador. Se está no jornalismo, tem que gostar de leitura e tem que produzir análises críticas a partir dessas leituras. O aluno que está na publicidade, a mesma coisa. A grande maioria chega hoje amando televisão, mas não querendo ver telejornalismo. Amando ser jornalista, mas nunca vem com uma notícia do jornal do dia. Nunca traz uma notícia para a sala de aula. Tem que entender que se eu não coloco no meu cotidiano um pouco daquilo que eu quero desenvolver, aquilo não vai chegar e colar em mim. Portanto, uma das características principais é o gosto pela leitura e o desenvolvimento da escrita.
AICOM – Por que é importante que o aluno tenha essa base antes de ir para as aulas práticas?
Profa. Maria Lucia – Os currículos da comunicação são currículos muito livres. Por exemplo, digamos que estivéssemos numa cidade do interior bem longe da capital, o que eu ia priorizar em termos de leitura e conhecimento dos meus alunos? Eu faria um trabalho todo direcionado para a formação do jornalista local como modelo para o currículo. A lógica do currículo da FIAM-FAAM é trabalhar intercalando teoria e prática. Isso é pedido o tempo inteiro, para que a gente sempre associe os dois. Mas não dá para o aluno chegar e já produzir matéria se ele não conhece a teoria. Posso até fazer um exercício livre, […] mas o professor tem que ensinar a técnica. Nós somos do ensino superior, e nesse nível de ensino, você tem que ter uma base construída para produzir uma nova ciência, senão você só repete conteúdo e não inova.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM