Intersexo

Encontro do NUGE trata da história da intersexualidade

Reunião de 12 de abril do Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade trouxe informações a respeito das pessoas intersexuais

Reportagem: Ana Luiza Sidronio [1] 

Edição: Raphael Odilon [2] 

Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [3] e Prof. Wiliam Pianco [4]

O que é um homem? O que é uma mulher? Até o século 18, não havia uma diferenciação exata dos sexos. Antes disso, o modelo científico dominante era o do sexo único, onde ser mulher era ser “um homem invertido e inferior”, já que segundo os médicos da época, os órgãos femininos eram os masculinos, mas voltados para dentro, como um defeito. Tais ideias são descritas no livro “Inventando o Sexo – Corpo e Gênero dos Gregos a Freud”, do professor de história Thomas Laqueur.  

Em suma, a medicina ocidental não representava o corpo humano de forma bipolar, entre sexualidade masculina e feminina. As diferenças anatômicas não eram parte de um modelo homem-mulher. É quando se marca uma diferença biológica que a medicina passa a se confrontar com as pessoas intersexuais. 

A intersexualidade é a condição de quem está entre os dois sexos, masculino e feminino, macho e fêmea, que não se encaixam nas noções típicas de sexo feminino ou sexo masculino. Trata-se de uma condição clínica que atinge 1,7% dos recém-nascidos no mundo, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas. 

Pessoas intersexo nascem uma variedade de condições – cromossomos, gônodas, hormônios e órgãos externos e internos – diversas que tornam difícil a classificação binária de seu sexo. É válido lembrar que a intersexualidade não é a mesma coisa que o hermafroditismo, na verdade, este termo não é mais usado, por se tratar de um termo estigmatizante e se referir estritamente as espécies não-humanas. 

A biopolítica (noção do filósofo francês Michel Foucault sobre mecanismos de controle que incidem sobre os corpos de determinados grupos e populações) sempre esteve presente na vida de pessoas intersexo. Quando qualquer criança nasce, é determinado a ela o gênero dela; aos intersexuais essas questões passam por processos muito mais complicados. 

Comumente crianças intersexo são submetidas a cirurgias de afirmação de gênero (de acordo com o que os critérios médicos justifiquem como mais prático/fácil) e tratamentos hormonais logo ao nascer. Isso ocorre por uma pressão médica e social sob os pais da criança. Esses procedimentos acontecem muitas vezes sob um pacto de sigilo, portanto muitas pessoas crescem e se desenvolvem sem nem mesmo terem o conhecimento de que são intersexuais, perdendo assim seu direito de reconhecimento do próprio corpo, como de um gênero ou de outro, ou de ambos. 

“Quando determinamos o sexo/gênero de alguém apenas pelas genitálias, estamos também objetificando esses corpos – muito além da padronização estética, essas cirurgias também entram em questões sociais. Existem médicos em clínicas conhecidas justamente por realizar essas cirurgias em pessoas intersexo, e as mães e pais dessas crianças costumam optar pelo procedimento por pressão e falta de informações adequadas”, afirma Pam Herrera, da Associação Brasileira Intersexo (ABRAI), entidade que protege e promove os direitos humanos das pessoas intersexo no País. 

Recentemente, a influenciadora digital Karen Bachini revelou ser uma pessoa intersexo, e só descobriu isso na vida adulta. Em um vídeo em seu canal no YouTube, ela falou sobre seu processo de tratamento hormonal ao longo de seu crescimento e de como sempre teve comportamentos ditos como masculinos e femininos. Karen compartilhou com seus seguidores que fez exames e se entendeu como pessoa pseudo-hermafrodita feminina. Ou seja, tem genitais e órgãos internos referentes ao sexo feminino, mas não produz hormônios. Aos 18 anos, o diagnóstico dado por uma médica foi incorreto, sua condição foi apresentada como menopausa precoce, o que revela a ignorância de muitos profissionais sobre o tema.

[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM – Repórter   

[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – Editor 

[3] Professor do curso de Jornalismo, supervisor de estágios AICOM 

[4] Professor do curso de Jornalismo, supervisor de estágios AICOM