Reportagem: Lala Evan [1]
Supervisão: Prof Wiliam Pianco [2] e Profa. Nicole Morihama [3]
Entrevistamos Maria Lúcia Silva, uma mulher incrível, negra, que atua como professora, educadora e orientadora desde 2012 na FMU-FIAAMFAAM, onde os alunos a chamam carinhosamente de “Professora Malu”. Criadora do Núcleo de Estudos Étnicos-Raciais (NERA), sendo hoje considerada um ícone atuante em prol de ações antirracistas, ela nos concedeu esse momento para compartilhar conosco um pouco mais de detalhes sobre como foi o desenvolvimento de sua tese de doutorado.
Professora Malu cursou Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde também foi incentivada por seus professores a seguir nas atividades de pesquisa dentro da instituição. Concluiu o mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, através do programa de incentivo à docência. Antes de terminar essa etapa, recebeu um convite para fazer parte do corpo docente da FAESA Centro Universitário, localizado em Vitória, Espírito Santo. Ela teve diversas passagens pelo mercado de trabalho, integrou assessorias de imprensa de governos municipais e estaduais e também foi consultora MEC/UNESCO.
De volta a São Paulo, em 2012, Malu conciliava trabalho e estudo. Foi quando precisou concluir a Qualificação para o doutorado, tendo de abrir mão das instituições em que dava aulas para focar apenas no curso.
Após ser aprovada tanto pela USP como pela PUC-SP, a docente optou pela PUC, devido à disponibilidade de sua então professora-orientadora. O tema de sua tese de doutorado foi “Memória dos professores negros e negras da Unilab: Tecendo Saberes e Práxis Antirracista”, a qual debate a obra do educador Professor Paulo Freire. A real preocupação do trabalho foi abordar a luta por uma educação antirracista, foco das reivindicações dos movimentos sociais negros que culminaram e definiram os programas de ações afirmativas desenvolvidas pelo governo brasileiro, incluindo alunos, professores e instituições no âmbito da educação superior.
Essa pesquisa investigou a invisibilidade dos(as) professores(as) negros(as) nas universidades públicas brasileiras, tendo como território a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), criada em 2010, com o propósito de inclusão de alunos e professores brasileiros e africanos. Para encontrar resposta para a questão central desta pesquisa, fez-se necessário conhecer a história de vida de seis professores negros brasileiros e africanos que atuam na UNILAB, com objetivo de compreender a trajetória dos(as) docentes negros e negras, a fim de saber se a pequena presença quantitativa desses profissionais no âmbito acadêmico é produzida pelo racismo. Segundo a professora, o grande desafio foi o próprio levantamento, pois, uma coisa é conversar com outros professores negros, outra coisa é falar com outros professores que não eram negros e que muitas vezes não tinham um conhecimento profundo de autores com grande valorização cultural das matrizes africanas que formam a diversidade brasileira.
A conclusão dessa pesquisa sobre a educação antirracista, registrando que o papel do(a) professor(a) negro(a) em uma instituição como a UNILAB demanda consciência por entender o papel da instituição que atua e que deve estar em sintonia com os seus(as) alunos(as). O trabalho instiga ainda a relevância de se fazer uma formação continuada, fortalecendo-se a criatividade, a inovação, e trazendo uma grande experiência com grupos de estudo. A pesquisadora procurou manter-se comprometida e autônoma para dar voz às demandas dos afro-brasileiros e africanos silenciados pelo colonialismo, pelo capitalismo e pelo racismo, produzindo críticas ao eurocentrismo e socializando conhecimentos emancipatórios com base no respeito à filosofia, à teoria do conhecimento, cujas fronteiras não são facilmente reconhecidas.
A professora Malu finaliza com um comentário que acreditamos que valha a pena ser compartilhado: “a maior dificuldade para obter um título de doutorado, trabalhando e estudando, é conseguir realizar todas as leituras necessárias, incluindo suas pesquisas de campo para elaborar um bom trabalho. Muitas vezes, tem-se que abrir mão financeiramente da sua vida pessoal para poder estudar e só o faz quem tem um propósito bem definido”. Atualmente, ela se prepara para a elaboração de sua pesquisa de pós-doutorado, a qual pretende debater acerca da heteroidentificação.
[1] Estagiária de Jornalismo AICom
[2] Supervisor de estágio de Jornalismo AICom
[3] Coordenadora do curso de Jornalismo FIAMFAAM