O padrão vai além de pressão estética por corpos bonitos, ele exclui socialmente pessoas gordas
Texto por Bruna Nunes [1]
Revisão por Samara Chystine [2]
Edição por Mariana Martin Siqueira [3] e Samantha Oliveira Filócromo [4]
Supervisão por Prof. Wiliam Pianco [5] e Profa. Nicole Morihama [6]
Você já pensou na possibilidade de ir ao cinema e não encontrar um assento que te caiba? Precisar comprar roupas novas e não encontrar peças que te sirvam, ou pior, ter vergonha até de sair de casa? Diariamente, pessoas gordas sofrem com o mesmo mal, a gordofobia, que é o preconceito e o ato de excluir, desprezar e não oferecer acessibilidade para esse grupo. Durante o cotidiano, somente aqueles que sentem essa segregação na pele entendem o quão difícil é lidar com essa realidade.
O assunto vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões sociais e na internet, por exemplo. Existem diversos perfis que abordam o movimento “body positive”, que visa principalmente incentivar as pessoas a aceitarem seus corpos como são e não se sentirem inferiores pelo padrão de beleza imposto. O próprio Tiago Abravanel, durante sua participação no programa Big Brother Brasil, levantou discussões sobre o tema.
Em uma conversa com seu colega de confinamento, Lucas Bissoli, que é estudante de medicina, ele acende a discussão sobre como as pessoas têm uma visão estereotipada de corpos gordos, e além de os excluírem socialmente por não serem vistos como o que ditam como “bonito”, automaticamente já associam como se não fossem saudável, tanto que não os encaixam em lugar algum.
A fala do ator mostra que muito se fala sobre a pressão estética que este padrão gera, mas pouco sobre seus outros efeitos colaterais, como por exemplo, a falta de acessibilidade corporal. As roupas, assentos de transportes, determinados equipamentos, vergonha de sair de casa, etc. A maior parte das coisas que fazem parte do nosso cotidiano, são feitas para pessoas magras, ou para as pessoas que mais se encaixam nisso.
Mariana Mussi, de 38 anos, conta que é obesa desde a infância e sofre preconceito por ser gorda desde então. Ela sempre teve vontade de falar sobre o assunto, mas somente após a repercussão do movimento “body positive”, conseguiu entender que existiam corpos iguais aos dela e parou de se esconder. “Eu vivia escondida e a partir do momento que eu vi o movimento, tive coragem para falar sobre o assunto, eu vi que existiam corpos iguais ao meu, porque na minha cabeça não existiam.” relatou.
A designer e cineasta está produzindo o documentário “Gordos não vão para o céu”, – nome dado em referência a uma fala preconceituosa que repercutiu na mídia -. A produção reúne diversas histórias de pessoas vítimas da gordofobia. “Vai contar a infância dessas pessoas, as suas trajetórias de vida, onde não tem acessibilidade, o que que falta pra pessoa gorda”, detalhou.
“O padrão social afeta diretamente a saúde emocional e mental da pessoa, né? A estética infelizmente é só o que muitos casos abordam, mas não é tudo que uma pessoa gorda passa.” explicou a moça. “Eu mesma tinha preconceito contra mim, porque eu sempre sofri. Seja na família, na escola, dos amigos, eu achava que eu era um objeto que tinha que ser maltratado”, continuou.
Assim como Mariana, Gustavo Gabaldi está cansado de sofrer socialmente por ser gordo. O empreendedor criou sua própria marca de roupas justamente por não encontrar peças maiores nas lojas populares. Definiu como seu foco, dar possibilidades para o vestiário de pessoas plus. “A falta de acessibilidade era gigantesca para as pessoas plus, elas não tinham e eu quis pôr na minha loja e deu muito certo.”
“Hoje, assim, eu posso dizer que as pessoas são felizes de entrar na loja e saber que tem o tamanho até o G4, que elas conseguem achar shorts, conseguem achar calça acinturada, consegue achar vestido, cropped, blusinhas de alça, roupas mais elegantes para sair pra qualquer outra ocasião.”, disse o dono da marca “Passaporte da Moda”.
Gustavo ainda ressaltou o quanto o preconceito com pessoas gordas os excluí nas mais diversas situações. Não enxergam gordos com olhar afetivo, não enxergam possibilidades nos vestuários e nem se preparam para recebê-los. A prova disso são as situações constrangedoras que a gordofobia social gera. “A falta de acessibilidade para mim – e acho que pra maior parte de nós – é constrangedora, é horrível, chega humilhar a pessoa que é gorda e às vezes dói, machuca.” desabafou ele.
Estes são apenas alguns dos relatos que as pessoas gordas sofrem todos os dias. A gordofobia social é um problema real e precisa ser levada com seriedade e ser combatida com informação. Segundo a psicóloga Michele Pereira, coordenadora do Núcleo de Saúde Mental da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica), não há conexão direta entre uma pessoa gorda e outras capacidades, mas há, sim, uma conexão direta entre essa discriminação e a saúde mental destas pessoas, que importa tanto quanto.
Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1
[1] Aluna de curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[4] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[5] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[6] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas Jornalismo FMU/FIAM-FAAM