O basquete pode desempenhar um papel social de extrema importância na vida de vários jovens que moram na comunidade e não sentem motivação para um futuro melhor
Por: Bárbara Rodrigues Nogueira Nakashima [1]
Revisão: Felipe da Costa Rico [2]
Edição: Agatha Menes do Nascimento [3]
Quando falamos de esporte, nem sempre o associamos ao impacto social que ele pode ter na vida dos jovens. O esporte pode ajudar a mudar a vida de muitos deles quando o assunto é sociedade, escola e futuro, principalmente quando falamos de jovens de comunidades carentes. Pensando nesse cenário, vamos entender melhor o trabalho e o impacto que o Instituto Undergroud e o basquete têm na vida desses jovens.
Segundo a Fundação Roberto Marinho, em pesquisa realizada em 2021, cerca de 680 mil jovens, entre 15 e 17 anos, estão fora das escolas. Os motivos alegados são desinteresse pela escola, falta de expectativa com o futuro e a desigualdade social.
Por isso, alguns projetos sociais voltados à prática esportiva acabam tendo um grande impacto no desempenho social desses jovens. Um exemplo disso é o trabalho do Instituto Underground, que fomenta a prática do basquete em comunidades da Grande São Paulo.
Thiago Turibio, fundador do Instituto Undergroud, contou um pouco melhor como foi o pontapé inicial para a criação do instituto: “O Instituto Underground era conhecido como Baska Underground. Aqui perto da minha casa tem um ginásio e todas as segundas-feiras tinha o ‘racha’, que é o basquete de rua. O pessoal levava equipamento de som e fazíamos uma junção do esporte com a dança e o som. Sempre atraía mais pessoas para participar. Quando eu comecei a frequentar, um responsável do ginásio, que já tinha um projeto social de futebol, veio conversar comigo e perguntou se eu não queria ensinar o pessoal a jogar basquete profissional. Eu gostei da ideia de fazer algo pela comunidade, principalmente porque eu saia da minha cidade e demorava 3 horas para chegar no local em que jogava, porque não proporcionar algo mais perto para eles? Então eu topei. Começamos com 7 jovens e, em menos de 3 meses, chegamos a mais de 30. Foi aí que percebemos que realmente estávamos fazendo a diferença na vida dos jovens e das crianças que estavam ali com a gente.“
Apesar de ter surgido como um time de basquete, Thiago conta que assim que começou a dar aulas já queria ir além do esporte, ajudar a comunidade e os alunos de diferentes formas e por isso criou um instituto registrado.
Hoje, além de aulas de basquete, o Instituto exige a frequência escolar para que os alunos possam participar dos treinos e campeonatos, além de também realizar diversas ações sociais para ajudar comunidades carentes.
Foi uma forma que eles encontraram para que as crianças e os jovens não abandonassem a escola e nem colocassem maior prioridade nos treinos, deixando os estudos de lado. Junto a isso, também fez com que os alunos entendessem a realidade de outras pessoas, sentindo vontade de ajudá-las de alguma forma.
Todos esses processos são bem alinhados com os pais de cada aluno. Segundo Thiago, ver o boletim dos alunos é uma forma do Instituto ajudá-los em suas dificuldades escolares e não apenas cobrar melhorias e frequência.
Thiago diz que percebe como o basquete impacta na visão dos jovens que fazem parte do Instituto, principalmente por conta do comportamento durante os jogos, com o trabalho em equipe e a disciplina.
Além disso, ele contou que o basquete é um esporte que em segundos pode virar o placar, o que dá aos alunos uma maior vontade de lutar, batalhar, superar as suas dificuldades, ajudar os colegas com as dificuldades deles e trabalhar o emocional em momentos como esse. Uma forma de não perder a esperança, acreditar que você pode e realmente conseguir.
Ele ainda comentou: “Nosso objetivo aqui é incentivar esses jovens a levarem tudo que eles aprendem na quadra para fora dela, para a vida deles. Saber lidar com a dificuldade, nunca desistir, manter o espírito de equipe e família, porque é isso que nos tornamos: uma família“.
Com os projetos sociais, como doações de ovos de Páscoa, de cestas básicas, campanha para doação de sangue e assim por diante, Thiago conta que também percebe como isso muda a vida dos alunos. O Instituto é a linha de frente para que as campanhas se tornem reais, mas quem corre atrás de tudo para as doações são os alunos, participando, inclusive, do momento de entrega. “Eu falo para eles que não é só ir lá na quadra e bater bola. Precisamos nos juntar e ajudar a comunidade, precisamos fazer algo pelas pessoas. Muitas vezes é um choque de realidade, muitos alunos depois que participam das entregas falam: ‘vou parar de reclamar da vida‘, porque entraram em casas que realmente mexem com a gente. O foco do projeto também é esse.“, completou Thiago.
Rodrigo Batista é um dos alunos do Instituto e diz que o projeto teve um grande impacto na vida dele. “Foram vários impactos: social, mental, físico, espiritual. Eu entrei no projeto com mais ou menos 17 anos, pela indicação de um amigo. Todo mundo me recebeu de braços abertos. Nessa época eu tinha depressão. Tinha não, eu tenho. Mas o basquete e o projeto me deram uma perspectiva nova. Me fizeram melhorar cada vez mais. Então, hoje eu não posso falar que o basquete e o projeto salvaram a minha vida, mas me incentivaram a levantar da cama e querer buscar algo para o meu futuro”, comenta Rodrigo.
Ele também conta que desenvolveu muita disciplina com o esporte. “No basquete eu nunca tive uma briga. No futebol eu já tive várias. Eu era mais ‘casca grossa‘“, comentou.
Thiago também conta um pouco como o projeto impactou na vida dele como profissional e treinador. “O basquete foi o pai que eu não tive. Minha mãe foi uma guerreira, me ensinou tudo na vida, mas o basquete me deu o ensinamento da rua, de viver na sociedade. O projeto social é o presente que o basquete me deu para que eu retribua tudo que ele me ensinou. Se cada um pegar o seu dom e o seu conhecimento e tentar passar a alguém, já é uma forma de ajudar o próximo. É gratificante saber que estou fazendo algo positivo com isso e que estou deixando meu legado por aqui“, finalizou Thiago.
Um projeto social pode ajudar diversas pessoas, tanto as que participam quanto as que são ajudadas. Nessa mesma perspectiva, a vida de muitos jovens é impactada, melhora a ideia de propósitos, desenvolve uma nova esperança para o futuro e dá mais vontade de viver e cuidar de si e do próximo.
“Passo a passo. Não consigo pensar em nenhum outro modo de se realizar algo” Michael Jordan
[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – repórter
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisor
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM – editora
Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1