Muçum (RS), 22/06/2024 - Edifício destruído após enchente que atingiu toda a região. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Com pesquisadores convidados, lives dos núcleos de estudos da FMU buscam ampliar conhecimentos sobre as mudanças climáticas 

Júlio Barbosa Chiquetto e Karina Gomes Barbosa participaram de debates promovidos pelo NERA, NUGE e NEMA 

Reportagem: Stepan Shevtsov Sena e Wendy Gomes [1]

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil 

Supervisão: Professor Gean Gonçalves [2] 

Professores Manuel Fabricio (NUGE) e Elisangela Rodrigues (NEMA) participam conjuntamente da mediação com o pesquisador Júlio Chiquetto (centro inferior) – Foto: Stepan Sena/AICOM

Motivados pelos eventos climáticos que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, os núcleos de estudos NERA, NEMA e NUGE promoveram duas palestras no Youtube da FMU | FIAM-FAAM para refletir sobre as mudanças climáticas e o racismo ambiental. 

Na palestra transmitida ao vivo no dia 28 de maio, com o tema Eventos extremos, adaptação e comunicação climática no Brasil, contou-se com a presença do pesquisador Júlio Barboza Chiquetto, professor investigador na FLACSO Brasil (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais Sede Brasil) e geógrafo com mestrado, doutorado e pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP). O pesquisador já foi convidado para uma colaboração acadêmica na Universidade de Münster (Alemanha). Sua tese teve menção honrosa no Prêmio Capes de Tese na edição de 2017, na área de geografia, e indicação ao Prêmio USP Destaques em 2017. 

De acordo com Chiquetto, evidências têm aparecido, e vem sendo sentidas na pele, dos efeitos extremos de toda a natureza. Temperaturas do ar próximas do da superfície são um exemplo de acordo com o pesquisador. No gráfico pode ser visto que 2023 ficou muito fora da curva e em 2024 ultrapassou as temperaturas médias de anos anteriores. No lado direito, mostra-se a temperatura do oceano, que tem o papel fundamental na regulação climática, já que dois terços da superfície do planeta ou mais é coberta por oceanos e suas temperaturas médias estão passando dos limites das últimas décadas. 

Com isso, as calotas polares tendem a derreter por causa da temperatura do ar e do mar estarem mais elevadas, aumentando o nível do mar, erosão costeira, a desestabilização de ecossistemas costeiros, e como consequência, também os ecossistemas marítimos e terrestres.  

A taxa de velocidade destas mudanças ocorre de modo acelerado devido às ações humanas, que provocam emissão e acúmulo de gases de efeito estufa, aumentando a temperatura global e criando mudanças climáticas intensas. 

De acordo com Júlio Chiquetto, todos os setores da sociedade deviam estar trabalhando em conjunto para mitigar esse novo cenário. A gestão pública junto com a iniciativa privada, com ONGs, universidades e a população para comunicar essa crise e buscar maneiras de solucioná-la. 

“É necessário pensar e analisar em uma crise ambiental as interseccionalidades, como diferentes segmentos e grupos populacionais, pelos recortes de gênero, de renda, de raça, de origem, experimentam essas tragédias de forma completamente diferente e desigual. Um exemplo atual é o a tragédia em vigência no Rio Grande do Sul”, afirma.  

Se tratando de gestão pública, o pesquisador aponta que no Brasil se leva muito tempo para construir soluções ecológicas. Por isso, é necessária uma regulação e legislação mais efetivas e que levem em consideração as desigualdades. Pois quem vai sofrer as consequências climáticas de modo mais intenso é quem não pode se proteger, as pessoas de grupos desfavorecidos ou minoritários. 

No fim da transmissão, Chiquetto apontou algumas coisas que podemos fazer enquanto indivíduos. Articular-se como comunidade, olhar para a situação do ponto de vista coletivo e mobilizar a revolta para algo construtivo, como votar de forma mais consciente e analítica nas eleições municipais. Esse é o caminho que o pesquisador percebe, pois há candidatos tanto ao legislativo quanto ao executivo que estão alinhados com o meio ambiente. Depois, efetivamente acompanhar e cobrar políticas públicas de proteção ecológica e climática. 

Confira o diálogo do professor Júlio Chiquetto com os professores do NEMA, Elisangela Ronconi Rodrigues, e do NUGE, Manuel Fabricio Alves de Andrade: 

O papel do jornalismo em catástrofes socioambientais 

Com o tema Jornalismo, visibilidade e direito ao luto em catástrofes socioambientais e climáticas, no dia 29 de maio, os núcleos de estudo convidaram Karina Gomes Barbosa da Silva, professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto e pesquisadora permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, para o diálogo.  

O aumento de 1,36ºC parece insignificante, mas impacta diretamente no meio ambiente e, consequentemente, na vida dos seres humanos. As secas, inundações, chuvas extremas e incêndios florestais podem ser citados como resultados preocupantes do aquecimento global. A crise climática não é justa, ela não atinge toda a população da mesma forma “Se o seleto grupo dos 1% mais rico do mundo emite tanto CO2 quanto os dois terços mais pobres, que somam 5 bilhões de pessoas, é sobre estes últimos que os efeitos das mudanças climáticas são mais mortais e danosos”, descreve reportagem do ClimaInfo.  

Além de sofrerem a injustiça climática, algumas pessoas são invalidadas pelo jornalismo. Esse é o ponto de vista da professora Karina Barbosa que contou para os universitários a história de uma das vítimas do rompimento da barragem de Fundão. Priscila Monteiro estava grávida quando houve o rompimento da barragem e, quando tentou escapar, sofreu um aborto espontâneo. O seu luto foi invalidado pela mineradora e imprensa, que ao divulgarem a contagem de mortos, não reconheceram o bebê dela como uma das vítimas. “Há um desequilíbrio entre as fontes ouvidas no jornalismo e sua credibilidade”, comenta Barbosa.    

“As pessoas atingidas por catástrofes socioambientais e climáticas são, em sua maioria, não-brancas, pobres do Sul global. Mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência estão mais vulneráveis”.  

Para complementar, a palestrante afirma que “os estudos do IPCC dizem que o bicho vai pegar na Índia, Sri Lanka, países que são arquipélagos. E quase todos eles têm pessoas que são expostas e vulneráveis em relação ao clima”. 

Karina motivou os presentes a considerar a necessidade de um jornalismo de reparação, mais atento ao luto e aos direitos das pessoas impactadas por catástrofes socioambientais. 

Confira o diálogo da professora Karina Barbosa com os professores do NERA Maria Lucia da Silva e Gean Gonçalves:

[1] Estudantes do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiários AICOM 

[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM