Repórter do SP1, da TV Globo, fala sobre trajetória, jornalismo local e prestação de serviços em evento da Semana de Jornalismo
Reportagem: Stepan S. Sena
Supervisão: Professor Gean Gonçalves [2]
Revisão: Prof.ª Sofia Franco [3]
A Semana Acadêmica de Jornalismo, evento ocorrido entre os dias 22 e 26 de abril, contou com a presença de Lucas Jozino, jornalista com passagem pela Rádio Bandeirantes e atual repórter do telejornal SP1, da TV Globo. A palestra foi voltada para todos aqueles interessados e, especialmente, aos integrantes dos cursos de Comunicação Institucional, Jornalismo e Relações Públicas da FMU/FIAM-FAAM. Lucas Jozino foi convidado pela estudante de jornalismo da FIAM-FAAM e estagiária da Globo, Larissa Gomes. A ideia do convite foi aceita pelos professores João Luís Gago e Guy Almeida Jr que incentivaram Larissa a tratar com Jozino.
Lucas Jozino relembrou sua história como discente do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde, segundo ele mesmo, não levava muito a sério, se considerando da turma do “fundão”, da bagunça. Enquanto estava no 5º semestre do curso, em 2016, ingressou na Rádio Bandeirantes, uma coisa surpreendente, porque nunca pensou que trabalharia em rádio. Desde pequeno, seu objetivo e sonho sempre foi o de ser repórter.
Após concluir o TCC, Lucas entrou em contato com uma diretora de Jornalismo da Globo, que o aconselhou a enviar suas matérias interessantes por e-mail, pois eles iriam avaliar. O jornalista foi insistente e mandou 52 e-mails para ela, sempre em contato a cada mês, até que uma matéria informando que guardas da GCM (Guarda Civil Metropolitana) estavam recolhendo dinheiro de moradores do centro de São Paulo para transferir o fluxo da Cracolândia, de um lugar para outro, despertou o interesse da diretora.
A reportagem produzida para Band Rádio e TV, foi fonte para a rede Globo, que, por sua vez, deu os créditos a Lucas e elogiou seu trabalho. O departamento de jornalismo da emissora procurou o repórter para saber se ele teria vontade de trabalhar na mesma. Assim, Lucas Jozino iniciou sua jornada na maior emissora do Brasil, onde realiza, atualmente, reportagens para o SP 1, Bom Dia São Paulo e o SP 2.
Em cobertura jornalística recente para os jornais locais da TV Globo, Jozino entrou pela primeira vez no ar em pleno Jornal Nacional, para noticiar novas provas contra o empresário Fernando Sastre Filho, no caso do acidente envolvendo um carro de luxo, uma Porsche que estava a 100 km/h e provocou a morte de um motorista de aplicativo no bairro Tatuapé, em São Paulo. As características do caso geraram repercussão nacional.
O repórter apurou o caso com fontes diversas na delegacia e locais próximos ao acontecimento, como os policiais, delegado e advogados, e conseguiu uma informação sobre o consumo de bebidas alcoólicas do empresário a partir da comanda do restaurante.
Além dessa reportagem que foi exibida aos presentes, Jozino destacou o diferencial do trabalho do repórter: “O legal da nossa profissão é que vemos a história com nossos olhos, por isso sempre sonhei em ser repórter. Eu acho que é a diferença do repórter para o jornalista de opinião. Nós estamos na rua, vendo o que aconteceu. Se alguma figura histórica morrer, como o Pelé, que já nos deixou, vamos acompanhar”.
Ele completa com a importância do trabalho de campo da reportagem. “Estar nas ruas é fundamental. Hoje estamos em um lugar, vemos os peritos ali montando a cena de um crime, amanhã estamos em outro lugar. A qualquer momento pode cair um prédio, ou um avião. São muitas coisas que vemos, acho muito legal quando somos chamados de repórter”, afirma o jornalista.
Lucas também deu dicas aos estudantes de jornalismo e comentou sobre diferentes visões que o profissional necessita ter durante seu trabalho. “Mas é muito importante trazer nosso olhar para dentro dessas relações, é fundamental, é óbvio que o jornalista tem que saber falar, escrever, um monte de coisa, mas ele não pode ser só um intelectual. É muito mais um olhar, por exemplo, isso aqui é notícia, isso pode dar alguma coisa que seja interessante para gente”, classificou o repórter.
O cotidiano da profissão envolve confrontar situações desconfortáveis e relatar fatos ocorridos que podem ser difíceis de lidar emocionalmente. “A gente acaba morrendo por dentro dependendo da gravidade e o quão triste é a notícia, é óbvio que a gente se sensibiliza. Temos que buscar a isenção no trabalho, estamos aqui para contar a verdade, mas a sensibilidade é algo muito importante”, comentou Jozino.
Outra experiência que foi muito importante para o repórter e o ajudou muito no desenvolvimento de seu currículo foi atuar como repórter durante a pandemia de Covid-19.
“Era muito difícil, eu praticamente via gente morrendo todos os dias, em vários hospitais. Eu ia para vários hospitais, teve uma mãe que morreu dois dias antes e o pai morreu naquele dia, é impossível não se emocionar, não ficar pensando na sua vida, mas por outro lado, tem uma história acontecendo”. O jornalismo ainda acrescentou: “Tenho muito viva a memória da pandemia, da morte do Pelé, entre várias outras coberturas. Saber chegar, saber conversar e saber o lugar onde você está é fundamental”.
De acordo com Lucas Jozino, a finalidade do jornalismo é dar informação às pessoas e a partir de como os telespectadores assistem a notícia, podem tirar suas conclusões e dar um passo seguinte, como votar em uma pessoa diferente para vereador ou prefeito, por exemplo. O trabalho envolve a consciência de quem está assistindo, o espectador pensa de forma autônoma no que a prefeitura deveria investir para solucionar um problema, por exemplo.
Confira algumas de nossas perguntas da entrevista com o repórter em destaque:
AICOM: Qual foi a situação mais comovente, que mais mexeu com você e que fez você repensar no seu trabalho como repórter? E pensou em desistir por conta disso?
Lucas Jozino: Aqui em São Paulo durante a pandemia acabou o oxigênio, acabou o oxigênio de uma UPA (Unidade de Pronto de Atendimento), nós vamos lá para tentarmos socorrer essas pessoas, me ligou num sábado, e levá-las para um hospital planalto que fica lá em Itaquera, era um sábado, e aí eu fui para lá, e algumas pessoas morreram no meio do caminho, e uma dessas pessoas que morreu, eu entrevistei as duas filhas, e para mim foi muito forte, porque a mãe só morreu porque acabou o oxigênio. Naquela UPA especificamente negou o oxigênio, e a prefeitura negou que acabou o oxigênio. Uma das filhas acionou o ministério público e justiça para de alguma forma, conseguir resolver aquilo, pelo menos uma indenização, porque não ia trazer ela de volta. Mas o que aconteceu foi um descaso. O que o governo disse que estava acontecendo em Manaus no Amazonas na época jamais aconteceria em São Paulo, mas aconteceu, morreu uma pessoa por conta disso, mas fizemos várias e várias reportagens que surtiram efeito para que as filhas conseguissem alguma coisa. Aí comecei a pensar muito sobre isso, porque a gente faz essas reportagens, é muito forte. Mas pensar em mudar de profissão, muito pelo contrário, às vezes quando dá certo, é isso que faz meu coração bater mais forte, todo dia a gente faz matéria, às vezes fazemos reportagens que ajudam tanto uma pessoa. Esse fim de semana fui convidado para uma festa de casamento da filha de uma mulher que fiz matéria, nem conheço a filha, e fui convidado como se eu fosse da família dela, sendo que fiz uma matéria que de alguma forma ajudou. Aí fico pensando que legal essa profissão, a gente mostra aquilo que alguém quer aparecer por medo daquela denúncia, uma contribuição, não teria outra coisa que não faria se não fosse isso, a não ser jogador de futebol.
AICOM: Houve várias situações, desde antes da pandemia onde você teve que lidar bastante com o público, muitas pessoas comuns em diversas situações. Tem alguma habilidade, algo para melhorar em algum aspecto para lidar com o público em geral?
LJ: Acho que nosso trabalho é principalmente ouvir e contar a história daquela pessoa, iluminar uma história interessante que tem alguma relevância, nesse caminho, começando na profissão, a gente tem que sempre ouvir. É o que sempre aprendi com os mais velhos. O ideal é separar as coisas importantes e contar aquela história, mas com muita atenção, muito cuidado, pois quando você dá atenção à uma pessoa e ela conto o que precisa, você ganha o respeito dela.
Jozino contou que já teve muitos amigos que estudaram na FMU/ FIAM-FAAM, e que ele mesmo prestou o ENEM com a intenção de ingressar na faculdade. O repórter comentou que entende que muitos dos discentes de Jornalismo da instituição são moradores de regiões periféricas. Ele aconselhou aos estudantes a seguirem na carreira mesmo que passem por situações e momentos desmotivadores, seja por questão financeira, de trabalho, ou outras circunstâncias, como a cor da pele, classe social, questões de gênero, para ele é possível chegar lá. Recomendou, mais especificamente, a todos ser repórter:
“Se a pessoa tem uma ideia, ela não pode desistir. Por exemplo, para uma sugestão de pauta, se ela for boa, vale a pena tentar lapidar a pauta, caso não seja aceita, é necessário a insistência do jornalista”.
Lucas Jozino avaliou que não levava a faculdade muito a sério e nunca imaginou que estaria onde está, até mesmo palestrando para universitários, e participando de eventos como aquele. Para ele, se você possui um sonho, foque nele e vá até o fim que dará certo.
[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[3] Professora do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM