Estudantes de Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e de Tecnologia em Eventos contaram como foi a experiência
Reportagem: Camila Pazini [1]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2]
Nos dias 8, 9 e 10 de dezembro, ocorreu o IV Encontro Estadual de Organizações de Paradas LGBTQIA+ do Estado de São Paulo. Na ocasião, diversas vozes se uniram para abordar temas cruciais para a continuidade das marchas públicas do orgulho e para a comunidade LGBTQIAP+, entre eles, a conscientização e prevenção ao HIV/AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Além de organizadores e ativistas, três estudantes – dos cursos de Eventos, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas – da FMU/FIAM FAAM participaram da organização do encontro e compartilharam um pouco da experiência de contribuir para o evento em entrevista para a AICOM.
AICOM — Como descreveria sua experiência no evento das paradas LGBTQIA+?
Matheus Ribeiro (PP) — Gostei bastante da experiência, por ter participado de um evento externo e ainda mais na causa LGBT. Recebi o convite do professor William Ladeia e aceitei na hora. No começo, eu estava bem ansioso porque era o meu primeiro evento externo. Não estava totalmente cru porque já tinha participado de eventos dentro da faculdade, então tinha uma noção de como era. Cheguei mais cedo no evento e perguntei muitas coisas, souberam me responder muito bem. Me chamou atenção justamente a quantidade de pessoas que compareceram, tanto na equipe quanto de participantes. Pessoas de todas as cidades possíveis.
Camila Lima (RP) — Achei a experiência enriquecedora. Principalmente as questões políticas, consegui notar que todes são aptos a pautar questões sociais e políticas da nossa sociedade, principalmente voltada às questões que elus passam todos os dias.
Egno Céspedes (Eventos) — Mesmo participando do evento como staff, ter me aproximado de líderes que discutem este tema tão relevante foi extremamente importante. Pude ver de perto as estratégias e o que de fato é preciso fazer para esclarecer e informar, tanto a população em geral, como os próprios membros da comunidade.
AICOM — Como foi a junção de todas essas associações em um só lugar?
Matheus Ribeiro — Muitas pessoas dali já se conheciam, tanto que o choque maior foi para nós. Eu estava assistindo algumas palestras e os problemas expostos das paradas da capital são totalmente diferentes de uma cidade do interior. Tem muito mais investimento, muito mais visibilidade. As pessoas, querendo ou não, mesmo não apoiando, são obrigadas a investir, pois isso vai trazer um retorno financeiro para elas. Já no interior, não. As cidades são muito conservadoras, religiosas e eles têm outros problemas estruturais e culturais para lidar. Então cada uma tem suas particularidades e eles esclareceram esses problemas no evento. Foi muito positivo esse movimento de “sair da bolha”, entender que existem realidades diferentes.
AICOM – Em relação a prevenção ao HIV/AIDS, quais foram as resoluções do evento?
Egno Céspedes — A informação sempre será o caminho mais eficaz. As lideranças públicas e políticas precisam estar em contato constante com as secretarias de Saúde para que as medidas de prevenção e de tratamento estejam claras para a comunidade e para a sociedade em geral.
Camila Lima — O uso de preservativos, PREP e exames com diagnósticos imediatos.
AICOM — Na sua opinião, teve alguma atividade que mais se destacou?
Matheus Ribeiro — Com certeza, as oficinas. Tanto que quando as pessoas chegavam, nós entregamos uma lista de presença, fazíamos o credenciamento e verificámos as oficinas que as pessoas tinham se inscrito. As oficinas eram como mesa de debates, em que as pessoas debatiam temas relevantes das paradas. Tinha sobre a legalização das paradas, segurança das paradas e projetos/editais. Além de tudo isso, as pessoas estavam divididas em grupos e cada grupo debatia um tema diferente, trazendo a realidade da sua cidade para a mesa.
Camila Lima — Foi a oficina “Como as Paradas podem usar a Inteligência Artificial”. Pra mim, foi a que mais se destacou em meus conhecimentos. Ao longo da palestra, o público trocava ideias a todo tempo, dando dicas entre si, foi nessa que eu percebi que conseguiria enriquecer meu trabalho ainda mais com a facilidade e flexibilidade da IA nos traz. Consegui absorver dicas muito boas do palestrante e do pessoal que me auxiliou no uso da ferramenta.
AICOM — A comunidade tem agregado mais pessoas, o que se expressa pelo crescimento da sigla representativa. Todos foram contemplados no evento?
Matheus Ribeiro — No caso do evento, havia bastante homens gays. O principal problema para mim foi a falta de representatividade feminina cis LBT, das mulheres que estavam lá, a maioria era heterossexual. Faltaram mulheres lésbicas e bissexuais, que eu me lembre, só tinha uma dentre 80 pessoas no evento. Isso é muito discrepante. Apesar disso, vi bastante mulheres trans e travestis, mas não tinham homens trans.
AICOM — Como você vê a questão da diversidade dentro da comunicação atualmente?
Matheus Ribeiro — Acho que temos avançado em relação à representatividade, quanto a isso, não tem o que reclamar. Claro que ainda tem muita coisa atrasada, eu acho que ainda falta essa representatividade de pessoas de povos originários. Falta ter um cuidado maior com determinados grupos de pessoas, como pessoas trans, mas no geral, eu acho que as coisas mudaram bastante, então ainda tem muita coisa para melhorar. Na Comunicação, a representatividade está melhorando, mas tem por trás a gente sabe que não é bem assim, como por exemplo, em cargos de liderança. Apesar de ter essa diversidade, ainda é como se fosse em uma parte baixa da pirâmide de hierarquia em relação a ambientes profissionais. Então ainda existe aquilo de pessoas héteros, pessoas brancas, que estão em cargos maiores.
AICOM — Quais os ensinamentos que a nova geração de jornalistas pode trazer para os meios de comunicação em relação à pauta LGBTQIAP+?
Matheus Ribeiro — A atualidade mostra que já avançamos em muitas questões. Em tempos atrás, era muito mais difícil que as pessoas LGBTQIAP+ fossem ouvidas, serem respeitadas. E apesar de ter muita coisa para melhorar, hoje nós temos uma voz. Claro que dentro da própria comunidade tem pessoas que sofrem um apagamento, como as pessoas trans. Ainda tem muito o que melhorar. Apesar de nas leis sermos iguais, na realidade não somos, mas aos poucos nós vamos conquistando nossos espaços.
Egno Céspedes — Acredito ao se informar sobre o assunto. O tema é muito complexo, pois envolve desde a cultura até direitos civis e a falta de informação leva ao desrespeito e até a um crime. Se informar, aprender e entender como realmente o movimento funciona.
AICOM — Para finalizar, como uma comunicação mais engajada e consciente pode ajudar na criação de um mundo mais igualitário?
Matheus Ribeiro — Eu sinto que as pessoas estão cada vez mais se segmentando e eu entendo as problemáticas delas. Eu acho que uma causa tenta inviabilizar outra e, infelizmente, isso acaba atrasando ainda mais as lutas. Em vez desses grupos se unirem contra os reais opressores, as pessoas estão brigando entre si e isso é um grande problema. Eu sei que todos nós estamos propensos a cometer preconceitos, ninguém é 100% desconstruído em nada, mas a gente precisa conscientizar as pessoas disso, de que tem essa segmentação e problemas, ajudar, orientar e mostrar um lado diferente. Sair um pouco da própria bolha.
Camila Lima — Acredito que quando a gente conhece pessoas, a gente se enriquece delas, a quantidade de informações que podemos extrair do outro, nos torna um pouco mais igualitários na forma de agir e de pensar.
Egno Céspedes — Na minha opinião, a comunicação além de engajada, precisa ser empática. É impossível ter sucesso na comunicação, sem entender de fato o assunto, até porque estamos falando de algo muito sério, que a sociedade ainda precisa aprender muito. Ser LGBT não é só lutar e reivindicar direitos básicos, é muito mais sério. É lutar pela própria vida.
[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM