Professora Elisangela Ronconi Rodrigues, do curso de Biologia da FMU, explica, em detalhes, sobre os projetos de IC, como fazê-los e qual seu impacto em âmbito nacional
Reportagem: Gabriele Marques [1]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2]
A Iniciação Científica teve seu começo em 1930, quando as primeiras universidades brasileiras, com o ideal desta atividade, foram criadas. Os projetos começaram a ser financiados a partir da década de 1950, com a fundação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o qual vigora até hoje. Atualmente, a IC está presente nas faculdades públicas e privadas, e disponível para todos os alunos que queiram realizá-la.
No entanto, muitos ficam receosos em começar, pois não compreendem os desafios e benefícios que esses projetos são capazes de proporcionar à carreira acadêmica e profissional. Por isso, pensando em ajudar estudantes a se aventurarem pelo universo científico, professora Elisangela Ronconi Rodrigues, do curso de biologia da FMU, aborda sobre o tema e explica detalhes da Iniciação Científica. Confira, a seguir:
O que é Iniciação Científica?
A iniciação científica, a famosa IC, refere-se a um programa acadêmico voltado à introdução de estudantes de graduação na prática da pesquisa científica, de tal forma que ajuda os alunos a desenvolverem diversas habilidades na área acadêmica.
Como fazer?
Segundo a professora, o primeiro passo para ingressar numa IC é pensar no tema, sendo este, um ponto de encontro entre a vertente de atuação do orientador e o ramo de interesse do estudante. “Como eu sempre digo: A IC envolve muita leitura sobre o tema, então é fundamental que o aluno tenha interesse nessas leituras”, adiciona.
O segundo passo é conversar com algum professor da área, apresentar o tema e debater sobre as diversas vertentes que a pesquisa pode abordar. Esse orientador irá ajudar a lapidar o assunto em um escopo de pesquisa, com objetivos claros e definidos. “A principal pergunta que devemos nos fazer é: ‘o que eu quero com essa pesquisa’?”, comenta.
Já o terceiro passo é estruturar o pré-projeto, ou seja, começar a colocar no papel parte das leituras, estruturando a introdução, os objetivos, a metodologia que será utilizada e a justificativa da pesquisa. Por isso, Elisângela explica que sempre é importante ter contato com um professor específico da área para ser seu orientador, pois assim, ele/ela poderá dar as orientações necessárias quanto à estrutura do pré-projeto.
Após a formulação do tema, é preciso se inscrever no programa de IC e participar do processo seletivo. Por fim, a última etapa é a hora de desenvolver a pesquisa de acordo com os objetivos e a metodologia definidos inicialmente. “Um ponto importante: seja organizado! Crie uma rotina, definindo o tempo que você terá disponível para se dedicar a sua pesquisa, pois isso será crucial para entregar um bom trabalho final”, recomenda.
Principais diferenças da IC aplicada à área de humanas e biológicas
“Acredito que a diferença está, principalmente, na metodologia aplicada. Na área de biológicas existem diversas pesquisas que podem ser feitas em laboratórios, envolvendo experimentos com necessidade de randomização dos ensaios, análises estatísticas e vários outros métodos, coisa que na área de humanas dificilmente acontece”, esclarece. No entanto, quando se fala em uma pesquisa de revisão bibliográfica, por exemplo, essa diferença entre as áreas já não é tão presente. Por isso, a necessidade de elaborar corretamente a tese e encontrar um professor especialista na área.
Benefícios para a carreira profissional e estudantil
Pode-se considerar que ao realizar uma IC, ou seja, começar a se engajar no universo da pesquisa, o aluno começa a desenvolver diversos soft e hard skills – habilidades gerais e específicas que uma pessoa pode adquirir, e que são frequentemente discutidas no contexto profissional.
Dentre as Soft Skills, que seriam as habilidades voltadas ao comportamento, é possível citar: a criatividade, comunicação – oral e escrita -, pensamento crítico e analítico, análise e interpretação de resultados, dentre outros. Já as Hard Skills, que são as habilidades específicas da área, pode-se mencionar: o aprimoramento técnico na área de formação, conhecimentos sobre método científico, experiência no assunto e resolução de problemas.
“Mas é importante ressaltar algo que sempre digo aos meus alunos: Depois de formado, muitas vezes vamos passar por processos seletivos, no qual, inicialmente, enviamos apenas nosso currículo, ou seja, seremos apenas ‘um pedaço de papel’. Então, é importante que esse CV seja diferenciado. Ter no currículo a realização de uma iniciação científica é um grande diferencial, assim como participar de eventos, por exemplo o CONIC e o Simpósio de IC, para apresentação da pesquisa desenvolvida”, acrescenta.
Impacto nacional
No Brasil, a maior parte dos avanços científicos e tecnológicos são oriundos de projetos desenvolvidos em universidades. Toda pesquisa, seja uma IC ou uma tese de doutorado, traz alguma contribuição para a disseminação do conhecimento científico. Às vezes, a revisão bibliográfica que é necessária realizar na IC é a chave para identificar algum problema sobre demandas da sociedade ou algum gap tecnológico.
“A pesquisa não transforma apenas os pesquisadores, a pesquisa transforma o mundo. Porém, é importante lembrar: para que a IC tenha impacto no desenvolvimento da pesquisa em cenário nacional, é importante desengavetá-la! Portanto, publiquem, participem de congressos e não deixem de compartilhar conhecimento adquirido!”, finaliza Rodrigues.
[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM