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Estudante de Jornalismo recomenda visita ao Museu da Língua Portuguesa

Museu da Língua Portuguesa, um palco de diversidade e musicalidade, do legado de Cazuza à visão de Eduardo Coutinho

Reportagem: Linda Bee [1] 

Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2]

 

O Museu da Língua Portuguesa está localizado no edifício histórico da Estação da Luz, no centro de São Paulo. Logo que você chega, já avista duas torres paralelas e quadradas no estilo gótico que foram inspiradas na Abadia de Westminster, localizada em Londres. A intervenção arquitetônica foi realizada pelos Mendes da Rocha. Este projeto é uma das obras realizadas para que Mendes Rocha – o filho ganhasse o Prêmio Pritzker que é considerado o Oscar da Arquitetura. O principal desafio dos arquitetos na época foi realizar uma obra sem interromper o fluxo de pedestres da estação. 

Foto: Kalinda Barbosa/Linda Bee | AICOM

O museu foi inaugurado ao público pela primeira vez em 2006, com sede em São Paulo, já que a cidade abriga a maior população de falantes da língua portuguesa em todo o mundo. Sua criação tem o objetivo de valorizar a diversidade da língua portuguesa, celebrá-la como um elemento fundamental e fundador da cultura e aproximá-la dos falantes do idioma em todo o mundo. Em seus primeiros 10 anos de funcionamento, o Museu da Língua Portuguesa recebeu quase 4 milhões de visitantes. 

Em dezembro de 2015, um incêndio, infelizmente, levou ao fechamento temporário do museu. Este incidente foi causado por um defeito em um dos holofotes do espaço durante uma exposição, que iniciou o fogo no primeiro andar e rapidamente se alastrou para os dois andares superiores e o telhado do edifício. A consequência trágica foi a perda da vida de um bombeiro e a destruição de grande parte do interior do prédio. 

No entanto, graças à colaboração entre o poder público e iniciativa privada, as obras de reconstrução começaram rapidamente. Após cinco anos de trabalho intenso, o museu foi finalmente reaberto em 2021. Agora, o novo museu conta com tecnologia atualizada e exposições renovadas, simbolizando uma nova fase após o incidente. 

O museu está aberto ao público de terça a domingo, das 9h às 16h30. Quem entrar nesse último horário pode ficar até as 18h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). Aos sábados, a visitação é grátis. Crianças até 7 anos não pagam. Eu reservei pelo Sympla Bileto, pois a empresa CCR patrocina ingressos gratuitos aos visitantes aos sábados. 

O Museu da Língua Portuguesa, localizado na Estação da Luz em São Paulo, oferece uma variedade de exposições interativas e educativas: 

1. Exposição Principal: Esta exposição explora a língua portuguesa falada por 260 milhões de pessoas no mundo em sua história, suas influências e em como é elemento fundamental da nossa identidade cultural.  

2. Falares: Esta instalação permite aos visitantes ouvir as diferenças no jeito de falar de pessoas de diferentes origens geográficas e socioculturais e observar sotaques, vocabulários e visões de mundo expressas através da língua. 

3. Nós da Língua Portuguesa: Esta exposição apresenta os laços e a pluralidade cultural que unem os falantes do português no mundo inteiro. 

4. Praça da Língua: Uma espécie de planetário com várias palavras no teto e nas paredes, enquanto uma antologia da literatura brasileira é lida ao fundo. 

Além dessas exposições permanentes, o museu também realiza várias exposições temporárias. De 2006 a 2015, foram mais de 30 exposições temporárias, além de cursos, palestras, debates e apresentações artísticas. Entre os homenageados com exposições, escritores como Clarice Lispector, Machado de Assis, Cora Coralina, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rubem Braga, Guimarães Rosa, Agustina Bessa-Luís e Gilberto Freyre, além do cantor e compositor Cazuza. 

Foto: Kalinda Barbosa/Linda Bee | AICOM

Eu me lembro muito bem da primeira vez em que pisei no Museu da Língua Portuguesa, em 2013. Fui sozinha para uma exposição sobre a vida e obra do Cazuza, onde fiz novos amigos. A exposição, intitulada “Cazuza, mostra a tua cara”, era dedicada a Agenor de Miranda Araújo Neto, o verdadeiro nome de Cazuza. Ele foi um cantor e compositor brasileiro incrível e rebelde. A exposição era emocionante, com fotos, vídeos, objetos pessoais e depoimentos de amigos e familiares do Cazuza. Pude ver de perto seu violão, chapéu, diário e até uma carta que ele escreveu para o pai quando estava internado no hospital. 

Na exposição havia um caderno onde ele fazia suas anotações musicais e livros de Clarice Lispector, de quem era fã. Pude perceber que muitas de suas canções sobre amor foram inspiradas nas obras da escritora. Cazuza nasceu no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1958 e faleceu em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, vítima de complicações causadas pela AIDS. Se estivesse vivo hoje, teria completado 65 anos.  

Na época da exposição pude interagir com um karaokê coletivo com os amigos, onde todos os visitantes podiam cantar suas músicas mais famosas. Além da exposição do Cazuza, fiquei encantada com as outras atrações do museu que usavam tecnologia de ponta e recursos interativos para apresentar conteúdos sobre a língua portuguesa. 

O Museu da Língua Portuguesa é um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma e valoriza a diversidade da língua portuguesa.  Após oito anos de obras de reconstrução, o museu foi reinaugurado em 31 de julho de 2021, mas minha nova visita se dá em 2023, após a pandemia de Covid-19. 
 
O museu, tem três pavimentos e uma área de 4,3 mil m². Na entrada, uma escultura em forma de árvore simbolizava a diversidade e riqueza da língua portuguesa. No terceiro andar, um saguão exibia fotografias suspensas que retratavam a diversidade cultural e linguística do Brasil. No auditório, um filme de 10 minutos narrava a origem da língua portuguesa, desde o latim até os dias atuais. 

Próximo ao auditório, um piso exibia poemas de autores brasileiros e portugueses. Amei esse piso e registrei alguns versos de Camões, Machado de Assis e outros escritores importantes. Em alguns momentos, as narrativas sonoras desses poemas ecoavam nas vozes de Caetano Veloso, Maria Bethânia e de Rappin Hood. 

No segundo andar, uma grande tela exibia filmes que mostravam a relação da língua portuguesa com o cotidiano, a arte, a música, a literatura e a história. No primeiro andar, uma instalação interativa permitia aos visitantes criar palavras e frases com letras móveis. 

Algumas das novas atrações são: a exposição temporária “Língua Solta”, que explora as relações entre a língua e as manifestações artísticas; a Praça da Língua, que oferece uma experiência imersiva de som e luz; a Galeria do Mezanino, que exibe a formação do português no Brasil; e a Linha do Tempo, que mostra a evolução da língua portuguesa. O museu também manteve algumas das atrações que já existiam antes do incêndio. A escultura em forma de árvore na entrada do museu ainda está lá. Ela é feita de metal e tem 15 metros de altura e 20 metros de diâmetro. Suas folhas são formadas por palavras em diferentes idiomas, dialetos e sotaques que compõem o português brasileiro. 

A mesa digital, inspirada na prensa de Gutenberg, permite aos visitantes manipular letras e ver suas criações projetadas em uma parede. Além disso, uma super tela no segundo andar exibe filmes que mostram a relação da língua portuguesa com o cotidiano, a arte, a música, a literatura e a história. Essa tela é uma das maiores do mundo, com 106 metros de comprimento e 7 metros de altura, e os filmes são produzidos por renomados cineastas brasileiros e lusófonos. Fiquei encantada ao ver o museu revitalizado, com novos conteúdos e experiências. Foi emocionante ver que o museu continuava homenageando o Cazuza em uma das salas da exposição “Língua Solta”, onde havia um painel com fotos dele e uma frase sua: “A minha poesia é minha vida”. 

Foto: Kalinda Barbosa/Linda Bee | AICOM

Após o incêndio, o investimento total na reconstrução foi de R$ 85 milhões e as obras começaram somente em 2017. Mesmo com a pandemia, as obras não foram interrompidas. Há, atualmente, uma exposição que trata de Eduardo Coutinho. Em um dos ambientes, o público terá a oportunidade de assistir ao documentário As Canções (2011), de Coutinho. Para este filme, ele conversou com anônimos que cantam as músicas de que mais gostam e revelam histórias pessoais relacionadas a essas faixas. 

A experiência começa logo no elevador, com uma intervenção musical criada pelo produtor cultural Alê Siqueira. Dentro da exposição, há um corredor musical onde dez telões exibem dez canções que marcaram época. “Essa nossa canção” é uma nova exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa que explora a ligação entre o português e a música. A exposição conta com a participação de artistas como Carlinhos Brown, Tom Zé, Xênia França, Teresa Cristina e Johnny Hooker. 

Eduardo Coutinho, um renomado documentarista brasileiro, escolheu o tema da música brasileira para a exposição “Essa Nossa Canção”. Ele reconhece que a música é uma forma poderosa de contar histórias e expressar emoções. A exposição de Eduardo Coutinho despertou minha curiosidade, a exposição foi criada para mostrar que a música e a língua são expressões de um país de tantos sotaques, tons de pele e realidades. A ideia era explorar a relação íntima entre a música e a língua portuguesa, refletindo na diversidade da música brasileira. Estou ansiosa, a partir de agora, para conhecer mais sobre o trabalho de Coutinho e como ele aborda esses temas em seus documentários.

Foto: Kalinda Barbosa/Linda Bee | AICOM

[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM

[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM