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Professor do IME-USP participa de evento do NERA sobre movimentos raciais

Oswaldo Rio Branco conta sua vivência ao estudar nos EUA nos anos 1990 e traz aproximação com o contexto racial brasileiro

Reportagem: Maria Luisa Ricardo Cavalcante [1] 

Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [2] 

O Núcleo de Estudos Étnico-Raciais (NERA) iniciou o ciclo de palestras sobre movimentos sociais racializados, no dia 24 de outubro 2023, com a presença do professor Oswaldo Rio Branco de Oliveira, do Instituto de Matemática e Estáttisca da USP, com a temática Para entender o Brasil atual, compare os mundos bicolores dos EUA e Brasil nos anos 1990.  

Oliveira teve como ponto de partida do bate-papo as suas formações, dentre elas a que teve maior relevância e o impulsionou para colaboração na causa racial, sua vivência no doutorado em Matemática pela University of California System em 1996: 

“A violência entre os brancos e os negros e suas reações impactam no brasileiro, porque sabemos que há violência, mas em nosso país é enrustida, enquanto nos EUA é descarada. Você vê ao vivo o que se via em filmes dos anos 1960”. 

Por ser graduado e mestre em Matemática, Oliveira disse que teve dúvidas quanto a que modo poderia colaborar com a causa racial, mas encontrou sua resposta através da Etnomatemática, que consiste na valorização dos estudos de saberes matemáticos de diversos povos e culturas do mundo, contrapondo o estudo tradicional da disciplina.  

Em relato, o professor contou que em 1998 propôs uma atividade propositalmente com professores em sala de aula, quando entregou fichas pretas que eram marcadas como números positivos e fichas brancas, como negativo.  

“Na época me questionaram se não estava errado. Se não era ao contrário, as brancas positivas e as pretas negativas. Respondi que não e questionei o motivo pelo qual estava errado, e recebi a resposta de que sempre é assim” 

Mediante uma análise realizada pelo professor com estrangeiros pronunciando nomes de cidades brasileiras, dentre as que tiveram mais dificuldade são vocábulos de origem tupi-guarani, por exemplo: Jurubatuba, Mooca, Morumbi, entre outros. Oliveira comentou a importância de percebermos as palavras para saber onde estamos, de quem viemos.  

Para fundamentar sua pesquisa, o matemático compartilhou um levantamento de datas e dados que revelam a relação entre início e fim de situações históricas para ambos os países, desde o século XV. Mapas apresentaram que apesar da chegada dos africanos aos EUA ter ocorrido antes do que no Brasil, em 1532, o território brasileiro era totalmente composto por escravidão que perseverou por aproximadamente quatro séculos. Enquanto no território estadunidense a escravidão permaneceu no Sul/sudoeste até 1865.  

Durante seu estudo, o professor questionou-se sobre o período pós-abolição da escravatura: “Como ficaram os direitos civis dessas pessoas quando libertos? Quem eram como cidadãos?”.  

Oswaldo comentou que ainda não encontrou uma resposta concreta, mas que datas como a do apartheid e a censura da ditadura militar ao movimento negro se tornam importantes fatores a serem observados.

 

[1] Estudante do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM – Estagiária AICOM 

[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM