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Microrganismos em laboratório que auxiliam no processo produtivo agrícola

A utilização de microrganismos eficientes é um modo sustentável de lidar com as dificuldades do campo

Reportagem: Maria Luisa Ricardo Cavalcante [1]

Reprodução/Freepik

A recente pesquisa realizada pela Produção Agrícola Municipal (PAM) e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta que em 2022 o Brasil registrou um novo recorde em sua produção agrícola, com um crescimento de 11,8% comparado ao ano anterior. Tamanha demanda necessita de cuidados com as plantas para além das condições climáticas, como: controle de doenças, pragas e ervas daninhas.

Embora a produtividade em larga escala, o Brasil é líder mundial no uso de controle biológico nas lavouras, isto é, existe a preocupação com o solo e com o desenvolvimento da planta, seja ela qual for. A tecnologia biológica EM (Effective Microorganisms), utilizada em mais de 120 países foi desenvolvida pelo doutor e professor Teruo Higa em 1980, após aplicar os microrganismos em certa parte do gramado e notar uma grande diferença positiva no local comparado a grama que não recebeu a aplicação.  

Apesar do interesse de Higa nos microrganismos, durante sua pesquisa permaneceu em defesa ao uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos como comenta o Professor Titular do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), Welington Luiz de Araújo:

“A agricultura gera transformação e um impacto no ambiente, seja na remoção de árvores ou até quando inserimos microrganismos no local, houve um impacto, pois você alterou a ambientação anterior. O único jeito de não ter impacto é deixar a floresta como está, sem mexer em nada, mas nós precisamos nos alimentar […] Os microrganismos eficientes (ME) colaboram para a sustentabilidade, trazem mais qualidade, atuam na manutenção biológica do solo, o protegendo de possíveis invasores”

Welington comenta que o uso de ME’s tem se popularizado na produção de Commodities (produtos básicos globais produzidos em larga escala), mas devido os estudos ocorrerem em condições controladas, laboratórios, existe uma dificuldade em aplicá-los no campo em vista dos diversos ambientes e condições climáticas, por isso a importância de técnicas biológicas participantes da agroecologia.

Canavial de cana-de-açúcar na Usina Iracema, Iracemápolis (Reprodução/Milena Beatriz)

“Prefiro chamar os agrotóxicos de agroquímicos, eles são isso, química […] Hoje temos o CT de Biossegurança e as tecnologias que reduzem o impacto no ambiente. Além dos transgênicos que ainda são um tabu. Existem situações em que são ruins, mas temos que analisar caso a caso”

A utilização da tecnologia no campo tem possibilitado mudanças significativas, principalmente para a segurança do agricultor. A Usina Iracema, localizada em Iracemápolis, atualmente trabalha com ferramentas tecnológicas que partem desde o processo produtivo até a entrega da matéria-prima. O gerente agrícola, Rafael Gonçalves, destaca a importância da fiscalização com as novas tecnologias para que possam ser utilizadas da forma correta e não sejam proibidas como um todo, mas somente para os que não a utilizaram conforme a lei:

“O agro precisa da cidade e a cidade precisa do agro. Se tivesse uma fiscalização adequada não precisava proibir”

O uso ilegal e incorreto de produtos químicos, microrganismos e até equipamentos de auxílio no campo tornam a agricultura um risco para o ambiente e consequentemente para os seres humanos e seres vivos. A responsabilidade na utilização é fundamental, testes científicos e a fiscalização são suportes obrigatórios para a segurança ambiental e alimentar.

Assim como Gustavo Suzuki, gerente de operações da BASF (empresa mundial líder alemã química), expõe que como um remédio o agrotóxico se dá pela dose e por quem é utilizado, em vista da legislação a ser cumprida sancionada em 1989 “Ao uso seguro e eficaz dos agrotóxicos (Lei 7.802/89) ” além do período de cultura em que se pode utilizar. O mesmo ocorre para os microrganismos que, apesar de estarem inseridos em nosso cotidiano precisam estar classificados como NB1 (nível de infecção muito baixo) para serem testados em solo.

Por fim, o professor Welington discorre sobre como a tecnologia biológica está distante e inacessível aos pequenos produtores, que se localizam mais próximos da cidade e da população que de acordo com Welington possui pouco interesse no assunto em vista da inacessibilidade de informações.  

“Precisamos melhorar a educação do país, apresentar este mundo da agricultura para as crianças, para que desperte a curiosidade pelo assunto e passem a entender de fato o que é, sua relevância”.

Em entrevista para o Instituto Millenium, Camila Telles, agroinfluencer conhecida por combater as fake news sobre o agro brasileiro expõe que:

“Em apenas 40 anos, o agro brasileiro foi de importador a exportador de alimentos, tornando-se uma potência mundial. Desenvolvemos muitas tecnologias e inovações, mas esquecemos de comunicar bem. ”

Essa distância entre a população e a agricultura refletem nos estereótipos criados acerca do assunto: arcaica, distante das tecnologias (sejam elas biológicas ou maquinarias) livre de normas, leis e despreocupada com o âmbito sustentável.  

Para combate a esses estigmas, programas como “Embrapa & Escola” são criados para que o meio agrícola esteja mais próximo das crianças que formarão a nova geração, cientes da importância da ciência e da tecnologia trabalhando em conjunto.

[1] A reportagem foi elaborada pela estudante do 6° semestre de Jornalismo da FIAM FAAM – FMU, Maria Luisa Cavalcante, que participou do Ciclo de Palestras e Visitas do Agronegócio realizada pela Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto (ABAG/RP) e disputa o prêmio José Hamilton Ribeiro de Jornalismo promovido pela mesma instituição.