Em encontro de maio, núcleo recebeu as professoras Neusa Schnorrenberger e Alana Sartori para falar como definições de beleza são parte do processo de dominação dos corpos das mulheres
Reportagem: Ana Luiza Sidronio [1]
Revisão: Gleison Oliveira [2]
Edição: Raphael Odilon [3]
Supervisão: Prof. Gean Gonçalves [4] e Prof. Wiliam Pianco [5]
Naomi Wolf é uma escritora feminista estadunidense contrária à ideia da beleza como uma concepção natural vinda das pessoas. Os padrões de beleza sempre foram uma construção presente desde que temos conhecimento sobre isso, sendo não somente baseado em tendências e comportamentos, mas também no patriarcado, adaptando-se muitas vezes aos desejos e avaliações masculinas do que é considerado belo.
Em encontro de 4 de maio de 2023, o NUGE trouxe a professora Alana Sartori, da graduação em Direito da Universidade de Cruz Alta (RS), e a advogada Neusa Schonerrenberg, mestra em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (RS), para falar sobre o tratamento dado ao corpo feminino, para isso, ambas destacaram a obra de Naomi Wolf, O Mito da Beleza, de 1991.
A obra é importante para compreender as estatísticas referentes à anorexia e bulimia. Problemas de saúde mental e autoestima relacionados ao corpo. A obsessão por exercícios e a dismorfia corporal. O medo que muitas mulheres possuem de envelhecer, bem como a obsessão por cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, além da indústria da moda e da maquiagem.
No passado, por exemplo, no século 18, a beleza seria aquilo que, perante o olhar humano, estimula o prazer e a simpatia. “O que é belo realmente desperta prazer e simpatia no meu ser fisiológico, mas ao mesmo tempo o que é belo só o é porque alguém ensinou para mim que é. Podemos observar que em diferentes culturas, o que é padrão de beleza também é diferente, ou seja, a beleza é algo culturalmente construído em cada lugar”, explica Alana.
No período medieval, era muito comum as mulheres rasparem a frente do cabelo para deixar a testa à mostra, o que era considerado belo na época. Em contraposição, na antiga dinastia chinesa, as mulheres fraturavam os próprios pés para que eles fossem do tamanho que era sinônimo de beleza, técnica chamada de pé de lótus de modo que elas tivessem pés entre 8 e 10 cm. A prática só foi extinta legalmente depois do século passado.
Na etnia africana mursi, a modificação corporal também é considerada beleza. As pessoas do povo nativo do sul da Eitópia fazem modificações corporais extremas, como discos labiais, alargadores e outros. Sobre a construção sociocultural da beleza, Alana explica:
“Nesse contexto, o não belo é o que eu não desejo, o que eu devo evitar. Se o que é belo é nos ensinado pela cultura, precisamos refletir em que cultura estamos inseridos. Nós vivemos numa cultura de comunicação de massa, dentro do sistema do capital. Nesse sistema, a mídia introduz no nosso imaginário o que é beleza, como a mulher de corpo escultural e pele bronzeada, e mostra como podemos chegar nesse padrão através de produtos de grandes empresas e corporações; de cosméticos, farmacêuticos e, etc.”.
Todavia, ela alerta que, como pontua Naomi Wolf, a beleza é cada vez mais inatingível, em especial para as mulheres:
“A beleza nesse contexto é distinta, para homens e mulheres, e traz consequências, como as inseguranças corporais, que fragilizam nossa mente, e consequentemente também fragilizam a nossa liberdade”.
Ela reforça ainda que:
No livro, Naomi cita casos de mulheres, nos anos 1980 e 1990, desesperadas por procedimentos estéticos. As empresas ofereciam esses tratamentos porque queriam lucrar com isso. O sistema busca fazer com que o sujeito se torne alguém que só se importa com o seu corpo. Com isso, acontece a desagregação e desunião principalmente entre as mulheres, o que é favorável para esse sistema, já que as mulheres sozinhas não lutam por direitos sociais. É a coletividade que transforma o mundo” – analisa.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica, divulgada em 2022, o Brasil se encontra em segundo lugar no ranking internacional de realizações de cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. São cerca de 1,3 milhão de cirurgias ao ano.
Nos dias de hoje, é possível ver jovens com menos de 20 anos procurando por cirurgias estéticas a fim de ter uma aparência semelhante àquela que filtros do Instagram e TikTok criam. Esse processo afeta não só o físico, mas também a saúde mental e o desenvolvimento desse indivíduo como pessoa na sociedade.
“Até que ponto esses procedimentos se fazem necessários? É preciso saber se alguém está procurando por eles por autoestima pessoal ou apenas para se adequar aos padrões estéticos da sociedade. Hoje, nós vivemos num mundo virtual, onde todos expõem seu lado que consideram mais “belo”, mas até que ponto isso é saudável?” – questiona Neusa.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM – Repórter
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – Revisor
[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – Editor
[4] Professor do curso de Jornalismo, supervisor de estágios AICOM
[5] Professor do curso de Jornalismo, supervisor de estágios AICOM