Por Giullia Hartvite [1]
Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [2] e Prof. Nicole Morihama [3]
O professor do Mestrado de Governança, Marcus Vinicius Moreira Zittei publicou um artigo escrito em inglês em uma revista espanhola, EAMR (European Accounting and Management Review). “A cidade de São Paulo no contexto de cidade santuário por uma perspectiva de governança pública” foi o título escolhido, onde juntamente com outros professores, sendo um deles docente na Instituição FMU – Fiam Faam, o artigo faz comparações das políticas públicas de imigração da cidade de São Paulo, cidades europeias e americanas. Concluindo que São Paulo pode sim ser considerada uma cidade santuário, com maiores semelhanças das cidades do continente europeu.
Basicamente, cidades santuários são aquelas que protegem e asseguram imigrantes sem documentação, sendo assim, impedidos de serem deportados em alguns casos. O docente Marcus Vinicius Moreira Zittei concedeu uma entrevista para a AICom em relação ao processo de escrita e estudos do artigo.
O artigo é o resultado dos estudos do mestrado. Como foi realizada a escolha do veículo para publicá-lo?
“Quando nós escolhemos uma revista para publicar o trabalho, então vamos sempre de um lado pensar qual o público que queremos atingir, e principalmente sobre a temática que o trabalho está envolvido. Então esse trabalho nós estávamos investigando essa questão da cidade santuário, pegando dois modelos: um modelo americano e o modelo europeu, e comparando com a cidade de São Paulo com isso, percebemos que São Paulo tem muito do modelo europeu, então uma revista europeia receberia bem o trabalho, os avaliadores da revista entenderiam bem a temática proposta. E essa revista europeia de Contabilidade e Gestão é uma revista de uma associação que eu participo há muitos anos e nós recebemos um convite para submeter nela”.
A vontade de estudar sobre cidades santuários surgiu a partir de algum acontecimento específico?
“Foi o próprio aluno que teve esse insight, ele é uma pessoa que trabalhou em vários países do mundo, multinacionais, sempre presente a questão de imigração e estrangeiros. Quando ele foi buscar um tema para pesquisar, ele conversou comigo, e o professor Celso, que participou do trabalho também, sugerimos várias temáticas que integravam os desejos dele, e se sentiu parte da imigração do país e foi por isso que ele quis entender um pouquinho disso. No Brasil é uma temática ainda bem recente.”
Sobre São Paulo ser uma cidade Santuário, muitas pessoas não têm conhecimento do papel delas, e acredito que muitos imigrantes também não. Na sua opinião, o que pode ser feito para mudar essa realidade?
“Quando ouvimos falar da cidade santuário, pensamos num templo religioso. Mas os conceitos de cidade santuário quando surgiram foi nessa questão de acolher realmente, de proteger quem precisava. E São Paulo é uma cidade que sempre acolheu muito bem os imigrantes na sua história, nos últimos anos os imigrantes podem não saber ou reconhecer as cidades santuários, e São Paulo também não se intitula, que nem Los Angeles e várias cidades na Europa que se intitulam como santuário e o imigrante procura essa cidade para isso, mas São Paulo não tem esse ponto ainda. É um ponto que a prefeitura ou as próprias entidades que tratam com imigrantes podem começar a trazer essa terminologia para a cidade e poder mostrar que somos uma localidade que recebe e acolhe bem, dentro dos aspectos de cidade santuário.”
Qual a principal melhoria que pode ser feita nas políticas públicas de imigração, para melhor proteção dos imigrantes?
“O que percebemos na cidade de São Paulo é esse ponto, a grande dificuldade que tem são as políticas públicas com relação a legalização desses imigrantes sem documentação. Por que isso não é responsabilidade das prefeituras, e sim do governo federal. A parte econômica, social e educacional o município consegue suprir e auxiliar o imigrante, mas quando chega na relação documental, ele precisa do governo federal. Então, a prefeitura precisa estabelecer novas políticas de parcerias com o governo federal para poder melhorar, aumentar e facilitar esse processo de legalização dessas pessoas.”
As pesquisas foram baseadas em 3 tópicos: social, político e legal. Foi uma surpresa descobrir que São Paulo tem mais semelhanças com as cidades europeias?
Sim, nós tínhamos uma desconfiança prévia de que São Paulo tem uma diferença das americanas, porque aqui nós não temos aquela figura da deportação, de precisar do visto, dessa questão do imigrante ilegal, a gente não tem isso tão forte como tem nas americanas, esse é o ponto mais pesado. Mas nós não tínhamos ideia do que seria mais parecido, e foi bem interessante, mostrou que ainda tem essa característica bem europeia desse acolhimento. Ou seja, eu cuido da pessoa, acolho a pessoa, dou condições para ela sobreviver, para ter uma vida digna, e a questão do deportar não é o ponto forte. Então, não vamos expulsar, não temos essa cultura de expulsão dos imigrantes, então apenas confirmou, aquilo que imaginavamos se concretizou.
Após todo esse trabalho, o senhor pretende continuar os estudos sobre cidades santuários e as políticas públicas de imigração?
“É uma das áreas que estudamos, o nosso mestrado é em Governança, e dentro da área da governança tem tanto o lado privado, governança corporativa, como tem o lado da governança pública. Então é uma área que eu já desenvolvo, pesquisando há muitos anos. Neste momento, estamos com algumas alunas desenvolvendo pesquisas nessa área de governança pública, especificamente hoje estamos trabalhando com a pesquisa de mandatos populares que são de candidatos, então estamos procurando trabalhar com essas investigações de como as políticas públicas podem auxiliar na boa governança da cidade e do país, e o imigrante, em alguns momentos, pode passar por esse processo também”.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM.
[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, Supervisor de estágios AICOM
[3] Professora e Coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM