Reportagem: Lala Evan [1]
Edição: Prof Wiliam Pianco [2]
Supervisão: Prof Wiliam Pianco[3] e Profa. Nicole Morihama [4]
Conversamos com o professor César F. Molina sobre sua jornada de pesquisas acadêmicas, iniciando pela sua pós-graduação que objetivou explorar as possibilidades de apropriação do espaço público pela população urbana a partir da presença do grafite, com o título “Ensaio Fotográfico – Arte e o Tempo (Grafitti)”. O trabalho identificou que para os paulistanos, o tema grafite tem tido grande destaque na mídia local há alguns anos de maneira mais enfática, o que levou a ser o fio condutor para o seu mestrado com o tema “Guerra do spray: política, poesia, transgressão, arte e establishment: a relação entre o grafite e São Paulo”.
O professor comenta que analisou a relação do grafite e seu viés político, poético, transgressor, artístico e mercadológico ao longo de 50 anos, desde as manifestações nacionais e internacionais da década de 60, com a cidade de São Paulo.
O tema foi elaborado em três partes: A primeira falou sobre as origens das Pichações Poéticas, Políticas, bem como a do Pixo, figurando nomes como Di, Pessoinha e Juneca. Seu aperfeiçoamento estético com o grafite americano na década de 90 até o Grapixo, fusão entre o Pixo e a estética colorida do grafite ligado ao Hip Hop, até a relação da arte urbana com o setor público e privado, que levou as atuais crises ideológicas entre grafiteiros e pixadores.
Molina explica que a comunicação se dá como demarcação de território. Quanto maior a quantidade de demarcações e quanto maior o grau de dificuldade, maior o respeito do grupo ou indivíduo na comunidade. Por grau de dificuldade, podemos entender como lugares de difícil acesso, como prédios, janelas e demais lugares onde seja necessário fazer algum tipo de escalada ou invasão. Além do amor à tipografia e da criação das mesmas, a adrenalina é frequentemente citada por pixadores em documentários e entrevistas como espécie de combustível que os move especialmente em empreitadas onde há grande risco de morte.
Na segunda parte foi focado no Grafite Artístico, e o seu principal idealizador, em São Paulo, Alex Vallauri, entre outros representantes, tais como Eduardo Kobra e Os Gêmeos, Heloisa Ballarini, Nenê Surreal, Nina Pandolfo e tantas outras, sempre com um papel de destaque na imprensa.
O professor menciona que a relação da cidade com o grafite era bem mais antiga e complexa do que imaginava, onde o foco será a questão crítica, artística e social dos grafites com a cidade e a sociedade.
A terceira e última parte aborda a relação da arte moderna e pós-moderna com o establishment, e em seguida, como se deu a entrada da estética da arte urbana em reconhecidos eventos artísticos, desde as Bienais Internacionais de São Paulo na década de 80 até o boom das galerias direcionadas a esses artistas, onde os trabalhos comercializados pelas galerias com a estética do grafite podem ser usados para exemplificar o que foi a arte de nossos dias, podendo ajudar as gerações futuras, ver que o grafite já foi, essencialmente, uma manifestação de contracultura, efêmera, que conversava diretamente com a cidade, se aproveitando da especificidade do espaço para dialogar com o público em geral.
Essa nova visão ou percepção da cidade gerada pelo grafite, desde os primeiros trabalhos de Vallauri e demais seguidores nos anos 80, como Rui Amaral, Gitahy, John Howard e grupo Tupinãodá, provou que a arte urbana pode também revitalizar ou criar novos pontos turísticos como, por exemplo, o Beco do Batman, localizado no bairro da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, dando vida às ações culturais, uma vez que feitas de maneira constante, podem criar uma identidade privilegiada com a região, atraindo um determinado público com grande capital cultural e, principalmente, financeiro, ávido por um ambiente diversificado de grupos étnicos, artísticos e culturais.
Segundo Molina, por ser uma arte em constante mutação, assimilando diversos estilos, características, e referências globais e regionais, o grafite se torna impossível de se esgotar como assunto em qualquer tipo de produção literária, acadêmica etc. Muitos grandes artistas não foram devida, suficientemente ou sequer citados ao longo do trabalho, não devido à sua falta de importância, mas simplesmente pelo rumo escolhido em abordar o grafite sob um contexto mais geral e não em um modelo de catálogo.
[1] Estagiária de Jornalismo AICom
[2] Supervisor de estágio de Jornalismo AICom
[3] Supervisor de estágio de Jornalismo AICom
[4] Coordenadora do curso de Jornalismo FIAMFAAM