Comunicacao antirracista1

Comunicação Antirracista como ferramenta de mudança social

Texto por Felipe da Costa Rico [1] e Gabriela da Silva Conceição [2]

Revisão e edição por Prof. William Pianco [3]

Supervisão por Prof. William Pianco e Profa. Nicole Morihama [4]

Na noite do dia 28/10, a 12ª Semana de Comunicação do FMU/FIAMFAAM teve seu encerramento com a palestra “Comunicação Antirracista como ferramenta de mudança social”, ministrada pela jornalista Marcelle Chagas e com mediação da Profª. Maria Lucia.

A palestrante é coordenadora da Rede JP de Jornalistas pela Diversidade na Comunicação, conhecida no Instagram como @jornalistaspretos. A Rede é formador por jornalistas negros de todo o país, que buscam desconstruir a atual estrutura comunicativa, a fim de tornar o processo comunicacional mais diversificado e representativo.

Marcelle Chagas compartilha que a ideia de unir jornalistas negros partiu de sua experiência pessoal. Ela relata que, muitas vezes, era a única profissional negra trabalhando em algum veículo e, quando compartilhava o ambiente com uma outra colega, criava-se uma rivalidade velada. “Quando encontrava outra (jornalista negra), entrava numa disputa velada. Isso porque o mercado sinaliza que o cargo deveria ser ocupado por apenas uma”. A professora Maria Lúcia completou esse raciocínio, ao explicar que passou por situações semelhantes no Jornalismo.

Marcelle, então, explica que a área jornalística acaba sendo reflexo do racismo estrutural existente na sociedade e, por isso, desigualdades raciais migraram para o campo comunicacional. Isso reflete em vários problemas, como a pouca oportunidade a jornalistas negros, falhas nas coberturas sociais e, até mesmo, nas coberturas de raça. Segundo ela, atualmente, 86% dos quadros de funcionários de grandes veículos de comunicação são de jornalistas homens e brancos, o que abre margem para a desinformação. Nesse sentido, a palestrante afirma que é preciso mudar a atual estrutural jornalística a partir da Comunicação Antirracista. Para isso, é preciso se ter um processo de aquilombamento comunicacional, assumindo um movimento de resistência contra a estrutura atual. Isso porque, para Marcelle, o racismo é ligado a uma estrutura econômica: as mesmas ações, realizadas pela população branca e negra, possuem resultados e protagonismo diferentes.

Para mudar isso, então, um dos primeiros pontos seria a empregabilidade. Segundo Marcelle, são os jornalistas negros, periféricos e indígenas que estão imersos na realidade desigual do país, a qual não é retratada nos jornais. A partir disso, a Rede JP iniciou uma rede de networking entre jornalistas, a fim de inserir mais comunicadores negros nos veículos.

Isso resultou em uma parceria com o IGDRH (Instituto de Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos). O Instituto é responsável pelo cadastro e pela seleção do currículo dos jornalistas e responsável pelo processo de contratação, quando há um contratante interessado. Marcelle explica que grandes veículos já entraram em contato com a Rede nos últimos dois anos, como a Globo News.

O segundo ponto, segunda a jornalista, é diminuir a disparidade financeira. Para Marcelle, a empregabilidade só será possível quando os comunicadores negros possuírem as hard skills exigidas pelo mercado, ou seja, as pessoas precisam ter a qualificação pretendida pelo mercado. Para alcançar isso, a atualização profissional e o processo educacional precisam ser contínuos, mas são procedimentos caros e a disparidade financeira cria um contexto desigual entre brancos e negros.

Ela, então, afirma que a Rede busca parcerias com instituições de ensino e bolsas de estudos, a fim de combater essa disparidade financeira. Marcelle cita que até mesmo o aprendizado de uma segunda língua, como o inglês ou o espanhol, ainda é uma dificuldade aos jornalistas negros, salientando, assim, a importância de existir os programas educacionais.

O terceiro ponto mencionado é a representatividade nos produtos jornalísticos. Para exemplificar isso, Marcelle explica sobre o encontro “Beleza em Pauta”, em que reúne editoras de revistas femininas, a fim de trazer mais representatividade da mulher negra para suas páginas. Tratando de temas como moda, beleza e higiene, ela afirma que “Ter a mulher negra dentro desses veículos impacta o público de forma significativa”.

A jornalista explica que, atualmente, o cenário vive uma expectativa de mudanças devido ao caso de George Floyd e o movimento “#BlackLivesMatter, sendo que veículos de todo mundo têm buscado mais representatividade profissional e nos conteúdos jornalísticos. Ainda assim, ela reitera que as empresas precisam entender que a “diversidade de fachada” não leva a nada, sendo necessário um acompanhamento de perto, entendendo que isso vai além de vender uma imagem ao público.

Marcelle explica que a comunicação antirracista é válida, alcança um público maior, é rentável e traz uma série de benefícios. Por isso, ela reitera a necessidade de fortalecer iniciativas em que ações coloquem os negros como protagonistas, como produtores de destaque ou como produção intelectual. Um jornalismo plural, que entenda as necessidades do povo, passa por um investimento forte, uma estrutura de comunicação alicerçada, que resulta em trazer credibilidade à informação final.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário da AICOM.

[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária da AICOM.

[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM.

[4] Professora do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisora de estágios AICOM.