Jornalismo cultura e diversidade

Jornalismo Cultural e técnicas de mercado

Reportagem: Felipe da Costa Rico [1]

Edição: Felipe da Costa Rico [2]

Supervisão: Prof. William Pianco [3] e Profa. Nicole Morihama [4]

Na noite do dia 26/10, foi realizada a palestra “Jornalismo Cultural e técnicas de mercado”, tendo como convidado o jornalista Bruno Cavalcanti e moderada pela professora Maria Lucia. O evento faz parte da 12º Semana de Comunicação da FMU FIAMFAAM.

Formado na própria instituição, Bruno contou que o desejo pelo jornalismo cultural vem desde que ouviu um disco da Rita Lee pela primeira vez. Por intermédio do álbum, conheceu outros músicos, como Erasmo Carlos e Marina Lima, o que levou a pesquisar sobre conteúdos musicais na internet. No meio virtual, descobriu o blog “Notas Musicais”, do jornalista Mauro Ferreira, que fazia resenhas críticas. Decidiu, a partir daí, uma profissão a seguir.

Após formado, chegou a trabalhar na assessoria de imprensa do Palmeiras, experiência que, conta, lhe ajudou a entender a função de um assessor e a se comunicar com tal profissional. Após isso, trabalhou como crítico musical no Jornal do Brasil, onde passou a ser crítico de teatro, com passagens por Observatório do Teatro, Revista Bravo, Folha de São Paulo e Estadão. Atualmente, Bruno também é dramaturgo e produtor de peças teatrais. Ele explica que, ao conhecer o escritor Arthur Xéxeo, percebeu que o jornalista também poderia ser artista, algo comum na área. O palestrante conta que conhecer os dois lados (produção e crítica) facilitou a sua escrita.

Durante a palestra e na interação com os alunos, Bruno teceu uma linha cronológica do crítico de arte e da área de jornalismo cultural no Brasil, destacando como cada período foi importante para o surgimento de técnicas escritas e mercadológicas.

Segundo ele, o país começou a viver um “boom” do mercado cultural a partir da década de 1940, com o crescimento de peças teatrais e shows musicais, além do surgimento de salas de cinemas. Nesse período, a função do crítico era “educar” a sociedade. “O crítico era o guia do público, ensinava a população a consumir a arte”, afirma. Tal função era chamada de “crítica cúmplice”, termo cunhado pelo crítico de teatro Décio de Almeida Prado.

Com o passar o tempo, a cobertura do jornalismo cultural teve um status social de relevância. Bruno conta que os jornais mantinham críticos divididos por setores: teatro, música, cinema, televisão, crônicas, etc. Aqui, ele esclarece como é importante se ter a habilidade para cobrir qualquer um desses quando solicitado.

Ainda nesse período, Bruno detalha que o jornalista desenvolveu uma imagem diante do setor cultural, tendo sua presença esperada nos espetáculos pela classe artística. O palestrante destaca, então, mais um termo cunhado por Décio de Almeida Prado: a crítica propositiva. Nesse caso, pondera-se o bom senso do crítico ao não escrever sobre um produto cultural cometido por algum erro técnico ou humano, tendo a sensibilidade de dar uma segunda ou mais chances, a fim de avaliar o resultado pretendido pelo(s) artista(s).

A partir da década 1980, há uma alta produção musical no Brasil, algo impulsionado com o período da redemocratização em 1985. Nesse contexto, ele explica o surgimento de um novo perfil: o jornalista admirador. “Ao ouvir um disco novo de um artista, é preciso se conhecer toda a sua discografia. O crítico, então, vira um jornalista que vai apurar fatos. Ler os livros, assistir às peças e aos filmes, ouvir as músicas, etc.”

A partir da década de 1990, com o monopólio cultural da Rede Globo e a crise econômica do país, a busca pelo lucro se torna prioridade no setor cu. Há, então, uma alta produção, em que as obras são mais avaliadas pelo seu poder de lucro do que pela qualidade artística. Isso vai resultar em uma sociedade que vai prezar mais pelo entretenimento, o que faz o Jornalismo Cultural se pautar mais por hard news.

Com a internet, nos anos de 2000, a dinâmica do jornalista cultural é totalmente afetada. O esvaziamento das redações faz com que os veículos mantenham os críticos apenas como freelancers ou convidados. Além disso, com a lógica financeira também no virtual, a busca por cliques se torna mais valorizada, assim, perde-se ainda mais espaço para o entretenimento.

Em paralelo a isso, o profissional também perdeu sua relevância. “O crítico era uma gatekeeper dos espetáculos. A partir dos anos 2010, isso deixa de existir a partir das mídias sociais. O público passa a ter voz e ser dissonante dos críticos. A opinião do crítico perde a sua relevância do passado. O Poder mudou de mãos. Todo mundo pode falar. Para o bem e para o mal”. Além disso, o virtual deixou tudo mais rápido e dinâmico, afetando, segundo Bruno, a apuração. “Há uma “escravidão” do jornalismo digital”.

Ainda assim, ele pondera que é possível conquistar espaço ao se apropriar das mídias digitais. “Há novos jeitos de se comunicar, mas sempre de forma séria, propositiva e que atenda ao público”, destacando que o jornalista cultural, de certa forma, também faz cultura, tendo a vista a necessidade de ter um texto “saboroso”, que atraia o público certo e trate o assunto com importância.

[1] [2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário da AICOM.

[2] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM.

[3] Professora do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisora de estágios AICOM.