Reportagem: Camila Ribeiro [1]
Edição: Lala Evan [2]
Supervisão: Prof Wiliam Pianco [3] e Profa. Nicole Morihama [4]
Muito além da estética, “a Gordofobia é o preconceito contra as pessoas gordas, que são atacadas física e psicologicamente, bem como privadas de acessos e direitos, porque seus corpos não são aceitos em sociedade.” Essas foram as palavras de Agnes Arruda, professora e autora dos livros “O Peso e a Mídia” e “Pequeno Dicionário Antigordofobia”, , em sua palestra “Mídia e Gordofobia” que aconteceu na 12° Semana da Comunicação do FMU FIAMFAAM. Sua tese, que começou a ser desenvolvida em 2019, resultou em seu primeiro livro já esgotado nas livrarias.
Esse discurso é muito mais novo do que o preconceito. A palavra “Gordofobia” ainda pode aparecer como desconhecida para o corretor do seu celular, mas a certeza da presença dela é facilmente encontrada nos nossos ciclos de amizade, familiar ou até mesmo de trabalho. Um preconceito estrutural, que alimentamos na nossa cultura desde cedo, nos faz crer que pessoas gordas escolheram o mesmo estilo de uma vida descuidada, sem amor próprio ou até mesmo suja, e para que essas pessoas tenham alguma validação como são, precisam de uma característica complementar como “gorda sexy”, “gorda linda” ou “gorda engraçada”.
Por ser uma luta em crescimento, é muito comum ver campanhas resumindo a causa a um simples “ame a si mesmo” como solução do problema, mas a gordofobia vai além de um problema de autoestima ou estética. Em casos mais explícitos, comparações de pessoas gordas a animais são muito comuns, bestializando essas pessoas e negligenciando seus direitos como seres humanos. “Em muitos casos, pessoas gordas precisam realizar seus exames em clinicas veterinárias por não termos máquinas em hospitais que comportam mais de 100 quilos”, acrescentou Agnes.
Gordofobia também é achar que pessoas gordas são doentes. A classificação para obesidade é definida a partir da relação matemática entre o peso cultural e a estatura, também conhecido como IMC, obtido pelo peso (em quilogramas) divido pela altura (em metros) elevada ao quadrado, se essa conta for maior ou igual a 30, a pessoa pode ser considerada obesa. A problemática é que esse cálculo foi criado em 1830 com uma média baseada em homens brancos europeus, ou seja, não é nada inclusiva considerando outras proporções, etnias, etc., conhecimento que já temos hoje, apesar de não atualizarmos essa relação.
Agnes complementa: “Se você fizer esse cálculo com uma pessoa com muitos músculos, também pode dar acima de 30, mas essa pessoa não vai ser relacionada a obesidade por não ser gorda”. Doenças como diabetes e pressão alta, por exemplo, também tendem a serem associadas ao peso e ter como solução o emagrecimento para pessoas, quando na verdade, pessoas magras também podem ter essas doenças na mesma proporção, mas só as gordas sofrem o preconceito.
A forma como nos comunicamos também pode combater a gordofobia. Mais do que uma frase de aceitação, “pode me chamar de gorda” é uma revolução contra a interpretação de uma característica física confundida com um xingamento, uma ofensa. “Quando aprendemos a falar, não nos damos conta de que as palavras que nos ensinam, assim como seus significados, foram inventadas por alguém. Gorda é uma dessas palavras que já vem com o significado naturalizado.”, conta Agnes durante a palestra.
O conceito de beleza é uma construção social e a mídia, o patriarcado e o capital têm uma influência sobre isso. Fazer comentários sobre a aparência física de alguém pode ser um grande gatilho para quem sofre de algum distúrbio de imagem e os gatilhos se estendem para comentários sobre a forma que a pessoa se alimenta, como “vai comer tudo isso?”, como se veste: “essa roupa te emagrece, ficou linda” ou como vive, ao relacionar emagrecimento com sucesso, estar se cuidando, quando pode estar relacionado a problemas de saúde mental, física ou distúrbios alimentares como anorexia e bulimia, acrescentaram os alunos de comunicação da faculdade ao debaterem sobre a palestra, além de observações sobre campanhas, reportagens e outros produtos de comunicação que põem influenciar nessas associações preconceituosas muito presentes na área da saúde, alimentação, moda, entre outras.
A autora complementa: “Pode me chamar gorda! Ser gorda faz parte de quem eu sou, e isso não deve ser motivo de vergonha”. O livro “Pequeno Dicionário Antigordofóbico” debate algumas dessas palavras e expressões presentes na sociedade e pode ser um primeiro passo para o aprendizado que deve ser colocado em prática para o fim desse preconceito.
[1] Estagiária de Jornalismo AICom
[2] Estagiária de Jornalismo AICom
[3] Supervisor de estágio de Jornalismo AICom
[4] Coordenadora do curso de Jornalismo FIAMFAAM