Após recorde na emissão de títulos, debate político é movimentado por jovens
Texto por Beatriz Quintas [1]
Revisão por Maria dos Santos [2] e Edivaldo Carvalho [3]
Supervisão por Prof. Gean Gonçalves [4]
Reportagem elaborada na disciplina Jornalismo Político e Econômico
Previstas para o segundo semestre deste ano, as eleições começam a mobilizar a sociedade com um apelo diferente: a participação da juventude brasileira. Impulsionado por campanhas no ambiente virtual, o país encerrou o período de alistamento com 2.042.817 novos eleitores entre 16 e 18 anos, número que representa um aumento de 47,2% em relação ao mesmo período em 2018.
O recorde se dá após a constatação, no início de fevereiro, de que o número de adolescentes aptos para votar era o menor da história. A reversão deste cenário ocorre em consequência do engajamento às ações de incentivo à emissão do título de eleitor organizadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), bem como a divulgação feita por influenciadores digitais e personalidades de fama internacional, como Anitta e Leonardo DiCaprio.
“Há alguns anos, a Justiça Eleitoral vem realizando campanhas para incentivar a participação dos jovens, a fim de que possam exercer seu direito. Assim como todos na sociedade, eles devem estar representados e ter suas demandas refletidas em políticas públicas. Só participando das eleições que vão conseguir isso”, justifica a coordenadora de comunicação social do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, Eliana Passarelli.
Cidadania em pauta
De acordo com uma enquete realizada pelo UNICEF, em parceria com a Viração Educomunicação, uma das maiores razões alegadas para a falta de adesão do grupo seria o desinteresse pela política institucional, seguida pela falta de conhecimento sobre o tema e o fato de não considerarem o voto importante.
A partir da percepção desse desinteresse, surgiu o Juventude Caieiras, um dos movimentos que têm ampliado o debate sobre cidadania. Criado no início da pandemia, o grupo busca aprofundar assuntos relativos ao município paulista a partir de uma estética menos formal, sem deixar de lado as esferas estadual e nacional.
“A população brasileira se acostumou a fazer política a cada dois anos, quando ocorrem as eleições, passando uma procuração de plenos poderes aos candidatos. É exatamente isso que queremos mudar com o nosso trabalho, apesar de existirem sempre aqueles que querem nos menosprezar devido à nossa idade. Assim, tentamos estimular o pensamento crítico, promovendo reuniões e aulas abertas com especialistas”, detalha Pedro Moraes, membro do coletivo.
Bastidores rejuvenescidos
Dentro dos partidos, novos rostos também têm surgido gradualmente, com a adoção de projetos de renovação que atraem membros para as alas jovens. Até abril, o país somava mais de 220 mil filiados na faixa etária entre 16 e 24 anos, segundo dados do TSE.
Para Gandhi Allasio, vice-presidente na macrorregião Sudeste pela Juventude do PSB, o perfil de quem se engaja sofreu mudanças ao longo dos últimos mandatos, afetando também sua atuação. “O jovem está menos disposto a fazer mobilizações, comparado ao passado, em que organizações como a UNE [União Nacional dos Estudantes] davam a tônica da pressão popular. Atribuo este fenômeno à demonização da política que foi intensificada pelo neoliberalismo, adotado nos anos 90. Todavia, agora estamos mais capacitados academicamente e dispostos a lançar candidaturas, algo que acredito ser importante para oxigenar esses ambientes.”
Este é o caso de Rafael Auad, secretário nacional do PSD Jovem, que se candidatou a deputado estadual aos 26 anos. “Foi uma experiência transformadora. Recebi o convite do partido assim que terminei a faculdade e abracei o desafio, apesar de ter sido algo muito orgânico, afinal eu não sou uma figura pública. Até brinco que só se candidatando, é possível entender o quanto o Brasil é diverso, pois isso exige que você saia da sua bolha e vivencie um choque de realidades. Acredito que isso tenha colaborado também para minha compreensão de que, hoje em dia, o jovem acaba fazendo política de muitas outras formas, seja dialogando nas redes sociais ou com sua própria família”, conta.
Expectativas para o próximo mandato
Consenso entre os entrevistados desta reportagem, inovação e comprometimento devem ser as prioridades no pleito de outubro. Apesar de não representarem uma força expressiva em quantidade, a juventude promete estar no centro dos debates e continuar fazendo das redes sociais um ambiente de manutenção da democracia.
“Querendo ou não, a base da sociedade é a política. Se não houver iniciativa por parte dos mais novos agora, o futuro provavelmente não será tão bom, por conta das decisões tomadas pelos outros. O voto é um direito que demorou a ser alcançado, então temos que tirar proveito disso”, afirma a estudante Isabella Souza, que aos 17 anos irá às urnas pela primeira vez.
Pedro Moraes lembra, ainda, que o cenário das últimas eleições é algo que espera não ver novamente: “discordo que devemos dar uma carta em branco para o próximo presidente, afinal é importante que os candidatos apresentem suas ideias e firmem compromissos com seus eleitores. Não podemos aceitar mais uma disputa de personalidades, o que queremos é uma disputa de ideias, seja a nível federal ou estadual.”
“A democracia não se esgota com o voto, por isso pretendemos fazer uma nova campanha pelas redes sociais no Tribunal, explicando de forma simples o conceito eleitoral, a fim de que o jovem tenha mais elementos para poder decidir com responsabilidade e consciência. Temos que acompanhar os eleitos e cobrar tudo que colocaram durante a campanha, acho que essa pressão da sociedade é muito importante para o bom desempenho dos mandatos”, conclui Eliana Passarelli.
Em 2022, cinco escolhas devem ser feitas nas eleições gerais: presidente, senador, deputado federal, deputado estadual e governador.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM