Libras 1

Linguagem de Sinais e a educação brasileira

Por: Camila Peixoto [1], Giulia Ferreira [2], Grazielle Garcia [3] e Taíse Silva [4]

Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1

O Brasil e os seus mais de 212 milhões de falantes da língua portuguesa configuram o país mais extenso da América Latina e único a ter o português como idioma oficial. Para além dessas informações já bastante conhecidas, pouco se discute sobre uma outra língua oficializada, a língua brasileira de sinais, ou Libras.

Apesar de oficialmente reconhecida em 2002 pela Lei nº 10.436, um fato curioso nos saltou aos olhos ao iniciarmos nossa pesquisa: ela pouco – ou nada aparece – nos resultados quando pesquisamos pelas línguas oficiais brasileiras sem deixarmos explícito o que estamos procurando por. Estima-se que 5% da população brasileira, um pouco mais de 10 milhões de indivíduos, seja composta de pessoas com deficiência auditiva, sendo 2,7 milhões destas, severas.

Cabe tomarmos um tempo para diferenciarmos os termos: surdo é a pessoa com perda profunda ou total do sentido, que pela comunidade, é chamado de ganho surdo. Este, em sua maioria, utiliza libras cotidianamente. Já o deficiente auditivo foi perdendo o sentido através do tempo e por isso faz uso também do português oral e da leitura labial.

Para além da construção das palavras soletradas por sinais estáticos, línguas gestuais como a Libras, utilizam de características próprias que incluem a gramática do idioma falado, expressões faciais – de boca e sobrancelha –  postura corporal, espaço utilizado e velocidade das mãos.

Por ser uma língua por si só, é algo a ser aprendido, ensinado e compartilhado. Pensando por este recorte educacional, o que se percebe no cotidiano, é que essas pessoas são privadas do acesso básico à educação devido a falta de preparação das instituições de ensino para acolhimento das demandas desse público, o que se estende para a esfera social como um todo, causando danos no desenvolvimento e formação de uma vida adulta independente.

A educação é o pilar formador de uma sociedade, porém segundo o Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda (dados de 2019) apenas 7% dessas pessoas têm curso superior completo, 15% o ensino médio, 46% o fundamental e mais de 32% não tem escolaridade alguma. Tais números trazem na prática baixos índices de educação e, portanto, de empregabilidade, bem como falta de convívio mútuo. Ou seja, ocasiona em uma segregação social generalizada onde acabam por ocupar somente espaços muito restritos e de pouca visibilidade.

Para a pedagoga e estudante de Libras, Camila Montalvão, o profissional de Libras têm um papel fundamental no ambiente escolar pois ele é quem faz a mediação entre os alunos surdos e os demais, fazendo com que exista uma participação ativa em todo o processo educativo dentro destes ambientes. Por isso, a falta de um intérprete acarreta em um atraso no aprendizado fazendo com que o aluno esteja inserido, mas não incluso.

E complementa:

“Todo processo de inclusão precisa ser trabalhado de forma a acolher as necessidades dos alunos. A escola precisa se adaptar ao aluno, não o contrário. É necessário que  todo corpo pedagógico se reúna a fim de proporcionar adaptações para que o aluno seja acolhido de forma inclusiva.”

Porém ressalta que o maior problema para a inclusão ativa desses alunos e dos profissionais de Libras nos ambientes escolares se deve à falta de políticas públicas, uma vez que os professores não possuem carga horária do curso de Libras suficiente. O fato de não haver cursos gratuitos disponibilizados pela rede pública só contribui para o problema, resultando em um número pequeno de profissionais da área, especialmente em municípios menores.

Para o intérprete de Libras, Marcos Pulhieze, para além da inclusão, existe a acessibilidade. Recorda que: “os problemas para pessoas surdas se estendem a hospitais, comércios, empresas que contratam surdos, dentre outros”. Espaços considerados essenciais mas sem a presença de intérpretes, nem pessoas fluentes para se comunicar da forma devida. Comprovando na prática, a dificuldade vivida através de todas as esferas sociais.