A nova era digital incorporada pela sociedade e a ausência de espaço para atualização e inclusão das antigas gerações.
Texto por Daniel Lacerda [1]
Revisão por Guilherme Augusto de Lima Faria [2]
Edição por Cláudia Lima de Oliveira [3]
Supervisão por Prof. Wiliam Pianco [4]
Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1
A sociedade como um todo vêm sofrendo modificações com a modernização e desenvolvimento da tecnologia, neste contexto, ressaltamos as relações sociais e principalmente as relações formais de trabalho, as quais têm sofrido diversas modificações, com opções de novos desenvolvimentos trabalhistas e funções além das que conhecemos.
Com a adaptação e desenvolvimento da era digital, muitas profissões acabaram sendo desmonopolizadas, pois através da internet conseguimos aprender e realizar diversas funções que antigamente dependiam unicamente de um profissional formado e capacitado.
Buscando compreender melhor este panorama, conversamos o Senhor José Conceição de Oliveira, contador, que atualmente possui 58 anos e está em processo de aposentadoria. “Sinto que acabamos ficando para trás, antigamente o contador era um profissional visado, hoje em dia qualquer um faz o próprio imposto de renda pelo celular. Conheço inúmeros sistemas, porém o mercado dá preferência aos jovens que têm mais conhecimentos tecnológicos e menos conhecimentos na área”, relata José.
Questionado sobre as opções no mercado, o ex-contador narra: “Hoje em dia o trabalho de um contador é desvalorizado, cheguei a trabalhar em mais de dois escritórios e fazer diversos trabalhos por fora, mas hoje quando procuro pelas empresas contábeis onde trabalhei percebo que em sua grande maioria se extinguiram, pois, a maioria de meus antigos colegas de profissão estão trabalhando em outras áreas ou prestam serviços contábeis, porém terceirizados”.
Assim como a revolução industrial, em detrimento a era digital exige uma readaptação do mercado de trabalho, trazendo novas oportunidades, que por vezes implicam em se afastar da área de formação.
De acordo com dados da We Are Social, agência especializada no desenvolvimento de estratégias para plataformas digitais, 150 milhões de brasileiros têm acesso à internet, ou três em cada quatro pessoas. Isso significa também que temos 70% da população conectada e 30% desconectada.O delivery é um grande exemplo desta modificação, hoje em dia estamos à distância de um clique de qualquer estabelecimento, pois os aplicativos facilitam as compras e oferecem diversas opções.
Entrevistamos Guilherme Freire Rocha, profissional autônomo que atualmente trabalha como Motoboy e presta serviços também através dos aplicativos como a Lalamoove, “Tenho liberdade para fazer meu horário e trabalho de segunda á sexta. Quando trabalhava registrado ganhava menos e trabalhava muitas horas a mais”, relata.
O cenário atual é de oportunidades e desenvolvimento, mas para as gerações anteriores essa readaptação e recolocação no mercado de trabalho é muito mais difícil, os jovens conseguem se desdobrar para atender as exigências do mercado pois já estão no ritmo dessa desconstrução de padrão.
Um Senhor Estagiário (2007) é um filme que retrata esse cenário. Nele nos deparamos com Ben Whittaker, um viúvo de 70 anos que busca retornar ao mercado de trabalho onde encontra um programa de estágio voltado para a terceira idade e se torna estagiário sênior em um site de moda. O filme reforça lições importantes do ponto de vista social, dentre eles a convivência entre gerações e como a mesma pode fortalecer e agregar no âmbito trabalhista.
Reconhecendo a tecnologia como força potencial e agregadora para alavancar no mercado de trabalho, é importante que não retrocedamos junto ao avanço da mesma.
O estatuto do idoso, onde estão estabelecidos os direitos de pessoas com idade avançada, garante através da Lei 10.741/2003 que pessoas com mais de 60 anos possuem o direito de desempenhar atividades profissionais, desde que suas condições físicas, intelectuais e psíquicas sejam respeitadas.
O governo do Estado de São Paulo tem investido e criado projetos que viabilizem ações de inclusão produtiva e digital para os idosos,dentre eles encontramos o Projeto mobilidade, responsável pela inserção de pessoas com mais de 50 anos no mundo digital e cujas ações visam garantir a longevidade ativa e econômica deste público.
Além deste projeto, também nos deparamos com o Programa São Paulo Amigo do Idoso, onde em parceria com 11 Secretarias do Estado e o Fundo social de São Paulo (FUSSP) são realizadas ações que salientam questões relativas à proteção, educação, saúde e principalmente inclusivas no parâmetro do exercício da cidadania e participação ativa na sociedade.
Embora haja inclusão em diversos parâmetros, vale ressaltar que no contexto das empresas com iniciativa privada ainda existe um certo tabu, o idoso ainda é visto por muitos como um indivíduo frágil e ultrapassado. Entretanto com as diversas transformações sociais, culturais, ambientais e econômicas pelas quais estamos passando, entendemos que a inclusão tem sido realizada aos poucos. Podemos refletir sobre o processo de inclusão através uma analogia ao trabalho das formigas, cuja coletividade é peça chave e deve estar associada a paciência e persistência, para de fato haver causa e efeito e chegar a abrangência de uma transformação social.
[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM.
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM.
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM.
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM.