Por: Gabriela Perpétua[1] e Wendy Gomes[2]
Edição: Samantha Rubio[3]
*Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1
Desde as histórias em quadrinhos e o gênero épico, a guerra é tema de diversas produções. Com todas as emoções provocadas pela construção excepcional do roteiro, este gênero é capaz de influenciar as emoções de quem assiste.
A psicóloga Fernanda Simidamore explica que “nós, seres humanos, somos seres sociais. Então, acabamos recebendo influência de todos os âmbitos da sociedade, da televisão, dos filmes, da nossa família”. Assim, as produções cinematográficas não poderiam ficar de fora da longa lista de fatores que impactam o dia a dia da sociedade.
Há algo de extraordinário nas trilhas sonoras, na trajetória de vida dos personagens e nos efeitos, que cada vez mais refletem a realidade principalmente nos filmes de ação, com explosões, sons vibrantes e a batalha épica entre o herói e o vilão. De acordo com Fernanda, algumas pesquisas mostram que a idealização está mais presente quando os heróis formam um contexto que “justifica a violência”, dizendo que “estão ali lutando por justiça”. A psicóloga ainda explica que ao conquistar objetivos fazendo uso da força, “isso pode, de certa forma, influenciar algumas pessoas que não têm uma estrutura psíquica saudável para entender e conseguir discernir aquilo”.
Dos quadrinhos às produções cinematográficas de sucesso
As histórias em quadrinhos de super-heróis são as bases de vários filmes de sucesso desde os anos 60. Mas os resultados das superproduções americanas no século XXI são impactantes: quatro dos dez filmes de maior bilheteria da história do cinema são de heróis dos estúdios Marvel, entre eles, os três longas da franquia Vingadores.
Fomentado por influências que circundam desde a Segunda Guerra Mundial, o Universo Marvel nos fornece exemplos concretos de heróis que foram inspirados pela realidade e, então, agiram de modo a transformar o entendimento da população. O Capitão América (1941), maior herói norte americano, foi criado pelo exército após servir de cobaia para o soro que buscava criar super soldados. Em seguida, o contexto da Guerra Fria nos presenteou com o incrível Hulk (1962), herói derivado da explosão de um laboratório de desenvolvimento de armas secretas. Por último, um dos símbolos do desenvolvimento de armas nacionais, está o Homem de Ferro (1963), trama que tem como protagonista o herdeiro milionário de uma indústria de armas que cria uma poderosa armadura, tornando-se um herói e a munição mais cobiçada pelo exército.
As histórias de heróis tiveram início nos quadrinhos e depois foram adaptadas para o cinema, onde se tornaram ainda mais populares. O sociólogo e professor do Centro Universitário FIAM-FAAM Bruno Casalotti explica que este formato de narrativa é derivado do gênero épico, que começou na literatura e que tem elementos característicos como o “heroísmo, a glória e triunfalismo”.
Segundo Bruno, o gênero épico está presente desde a Grécia antiga e foi incorporado de diversas maneiras em várias artes visuais. “A arquitetura Romana, por exemplo (…), era muito puxada para narrar a glória e o triunfalismo dos romanos sobre outros povos, chamados povos bárbaros”, explica.
O professor também reforça que o uso das artes como ferramentas de propaganda é comum no movimento imperialista, descrito por estudiosos a partir do século XIX como a busca de influência e dominação de uma nação sobre outras nos âmbitos político, econômico e cultural.
Segundo ele, o imperialismo não se justifica sozinho para o povo que vive nos países regidos por esse movimento. “Essa explicação, geralmente vem através de narrativas épicas. Isso através da literatura, das artes, de maneira geral. Então o uso político e ideológico das artes não é uma invenção do cinema”. Bruno complementa dizendo que “os filmes de guerra, estão para o imperialismo norte-americano, assim como a estatuária (as estátuas romanas) estão para o Império Romano (…)”. Além disso, ele aponta que essa romantização somada aos benefícios de carreira, contribuem para impulsionar o desejo pelo alistamento militar, fenômeno que voltou à tona com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
A tênue linha entre a ficção e a realidade
São comuns no noticiário casos de jovens e crianças que reproduzem o que veem nas televisões. Alguns repetem comportamentos e, em casos mais graves, agressões contra eles mesmos.
A psicóloga Fernanda Simidamore explica que a infância é uma das fases mais importantes para a formação da identidade do indivíduo, “(…) por isso é importante ter um ambiente familiar saudável, com afeto, carinho e responsabilidades”. Ela acrescenta que se deve manter o cuidado e a orientação, pois é nessa fase que os pais vão dizer o que é certo e errado, como também, suas ações servirão de exemplo para as atitudes da criança.
Além da infância, a adolescência e a juventude são duas fases que requerem atenção, uma vez que estão mais suscetíveis a influências da sociedade. De acordo com a psicóloga, “nessa fase quando estamos procurando a representatividade fora de casa, muitas vezes encontramos esses ídolos e colocamos eles como heróis”.
Contextualizando com a guerra entre a Rússia e Ucrânia
Uma reportagem produzida pela BBC mostra que alguns jovens ucranianos abandonaram os estudos para lutar na guerra. Mesmo recebendo apenas três dias de treinamento básico, Maksym Lutsyk, um dos jovens voluntários, disse que não estava intimidado por participar da guerra. O outro voluntário, Dmytro, disse à emissora que aprendeu a atirar e que já estava acostumado com a sua arma. Ele também relatou que, ao contar para o seu pai sobre a sua decisão de se juntar à força de defesa territorial, este lhe disse para não bancar o herói.
Para os jovens ucranianos, que estão diretamente inseridos neste conflito, tudo está em jogo: desde o futuro de seu país, até o futuro deles próprios. Porém, as produções cinematográficas podem atenuar a linha que separa a ficção da realidade, transformando a guerra em um contexto relacionado a heroísmo e adrenalina, provocando a sensação de que a morte não será em vão.
Mesmo em contextos como o que vivemos atualmente, com os enfoques na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o sociólogo Bruno Casalotti defende as produções cinematográficas dizendo que “o que enviesa o nosso olhar a respeito do conflito na Ucrânia não é a indústria cinematográfica, mas a cobertura midiática, cobertura da imprensa especificamente”.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, repórter
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, repórter
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, editora