empreendedorismo 1

Pós-pandemia e empreendedorismo

Para resistir à crise econômica, comerciantes assumem maior engajamento digital, gerando forte aceleração e desenvolvimento informacional

Texto por Barbara Paula [1] e Samira Brito [2]

Edição por Beatriz Quintas [3]

Supervisão por Prof. Wiliam Pianco [4]

Matéria originalmente produzida para a disciplina Jornalismo Digital em 2022.1

À medida que avança a cobertura vacinal, o mundo tenta se recuperar da convulsão social provocada pelo coronavírus, principalmente no cenário econômico. Um setor particularmente afetado foi o dos pequenos negócios, que chegou a uma queda de 79%, segundo levantamento do Sebrae.

Se por um lado esse período fortaleceu os conglomerados econômicos, triplicando a sua receita, as microempresas paulistanas tiveram que se reinventar e multiplicar esforços para não desaparecer. Deste modo, a migração para o ambiente virtual surgiu como sua grande aliada.

“A pandemia acelerou a digitalização dos negócios em mais de 10 anos. Vimos pequenas lojas da periferia tentando digitalizar e percebendo depois que não se trata só de criar um site. É necessário entender o meio digital como um novo lugar, organizar a logística, divulgação e resultados. O lucro não é imediato como imaginam”, salienta a co-fundadora da Webba Desenvolvimentos de Sistemas, Luciene Rodrigues de Andrade.

No entanto, o que foi sinônimo de sobrevivência para muitos comerciantes, com o fechamento de estabelecimentos e a redução do fluxo de pessoas, para outros foi a oportunidade de iniciar uma nova trajetória. Este é o caso da trancista Gabriely Beraldo, que no último ano inaugurou o espaço Urbi Afro em Guaianases, Zona Leste, onde também passou a ministrar cursos.

“Não fosse o alcance das redes sociais e todas essas mudanças, eu provavelmente ainda estaria em uma mesa de telemarketing. Como digo para minhas alunas, a rua mais movimentada da face da terra é a internet e quem não está nela perde grandes possibilidades. Então, decidi aproveitar o momento conturbado e tentar tirar algo bom dele”, explica.

O comércio no pós-pandemia

De acordo com dados da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), apesar da retomada da “vida normal” em 2022, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) na capital paulista caiu 2,4% em fevereiro.

O economista e mestre em administração Gabriel Carvalho explica que, com a redução das limitações impostas pela pandemia, as plataformas virtuais não perderam importância, mas mantiveram-se como uma extensão do espaço físico, por meio da qual é possível proporcionar ao público novas experiências de consumo.

O brechó Las Hermanas é um exemplo dessa realidade. Após a identificação da necessidade de se adequarem às condições de venda à distância, suas donas tiveram a oportunidade de inovar a identidade visual, entender como se comunicar no meio online e, hoje, trazer essas pessoas para a loja física novamente.

“Eu acredito que aos poucos fomos crescendo e nos desenvolvendo como empresa, o que fez com que conseguíssemos ter a nossa segunda loja. Apesar dela ter um custo muito maior, alcançamos um bom faturamento e pudemos atingir o nosso objetivo principal que é fazer a moda circular e dar essa nova oportunidade de consumo consciente para as pessoas”, afirma a empreendedora Larissa Sagesser.

Crescimento do varejo online na pandemia de Covid-19 causou transformações nas empresas, que precisaram dar conta da demanda e se aproximar de seu público. (Arte: Beatriz Quintas)

São muitos os desafios que afetam o comércio na cidade, como o cenário econômico atual de inflação e juros elevados, que tendem a  refletir em maiores custos para os comerciantes e menor poder de compra para o consumidor.

Além disso, a expansão das vendas por meios digitais tornou a concorrência ainda mais arrojada. O empreendedor local deve estar preparado para enfrentar concorrentes de todo o país e até mesmo internacionais, com destaque para a China, que consegue ofertar produtos a preços mais competitivos em portais como Shein, Shopee, Wish, etc.

Contudo, setores específicos têm sido beneficiados, como o de eletrônicos e moda. que em março apresentaram uma tendência de crescimento de 106% e 89% respectivamente. É o que aponta o Relatório Setores do E-commerce da Conversion, agência de Search Engine Optimization (SEO).

Perfil do empreendedor paulistano

Marcado pela necessidade, o empreendedorismo na capital paulista é movido por pessoas que assumiram um negócio como alternativa financeira, com o baixo índice de casos estratégicos vinculado à ausência da educação financeira e digital. Porém, seu impacto social é visível sobretudo em áreas periféricas.

Realizado por organizações que avaliam o ramo, o “Estudo sobre Empreendedorismo da Periferia de São Paulo” identificou que as áreas mais expressivas são cidadania (61%), educação (46%) e cidades (28%).

“No início da pandemia, meu principal fornecedor deu prioridade para empresas maiores, devido à escassez de produtos. Então, eu conversei com uma costureira aqui do Perus e fizemos uma parceria, conseguindo uma boa perspectiva de continuidade das vendas. Posteriormente, pude contratar funcionários e até mesmo um motoboy da região, tudo graças à ajuda das pessoas que apoiam o pequeno negócio”, relata Willian André, criador da marca AfroPerifa.

Então, quais são as dicas que novos empreendedores devem seguir?

Ao tentar descrever uma fórmula para o sucesso, Luciene ressalta dois pontos essenciais: “a primeira coisa é ter consciência que o lucro não vem rápido. Não vai ser fácil, mas é possível e necessário para criar empregos de qualidade. Em segundo lugar, sugiro que seja construída uma reserva financeira de acordo com sua condição, a fim de que tenha um resguardo futuro na fase inicial da empresa.”

Logo, é fundamental que pequenos empreendedores comecem de forma simples, a partir do que já possuem, focando na rede de contatos que têm e colaboradores mais próximos. Encontrando uma rede colaborativa, é mais fácil progredir.

Já o economista Gabriel Carvalho reafirma que, no cenário pós-pandêmico, o empreendedor precisa estar preparado para enfrentar um consumidor ainda receoso de elevar seus gastos e uma conjuntura econômica desfavorável. “Ele deve aprender a lidar com a expansão dos meios digitais, a ameaça de crises e suas diversas oportunidades, como o delivery e pagamentos via Pix, aderidos por vários comerciantes do ramo alimentício”, completa.

[1] Aluna de curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM

[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM

[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM