Linguagem e discurso

“Que possamos ser poliglotas da mesma língua”

Wiliam Pianco é professor no Centro Universitário FMU FIAM-FAAM, ministrando as disciplinas “Linguagem e Discurso”, “Relacionamento com Mídia” e “Jornalismo Digital”, além de ser supervisor de estágio da AICom

Por: Thaís Geisy de Moura Costa [1]

Revisor: Victor Barrelo A. Ferreira [2]

Editora: Tamires Ramos de Souza [3]

 Supervisores: Prof. Wiliam Pianco [4] e Profª Nicole Morihama [5]

Professor, qual a importância que a matéria “Linguagem e Discurso” tem para nós estudantes?

Essa disciplina está dedicada a aprimorar a percepção e a construção de sistemas comunicativos. Quando falamos sobre isso, nós estamos preocupados em criar formas, estruturas comunicativas que facilitem o entendimento de lado a lado, o emissor e o receptor desse sistema comunicativo. Quando nós falamos em linguagem, nós estamos pensando em diferentes formas de expressões que podem utilizar do nosso idioma regular, o português, mas que fazem uso também de outras formas de expressão, como é o caso da expressão corporal, das expressões faciais e do uso de gírias, e assim por diante. Quando nós temos um domínio melhor dos modos do sistema comunicativo que estão atuantes na nossa sociedade, a gente tem a capacidade de encontrar novas possibilidades de comunicação. A disciplina de Linguagem e Discurso visa perceber essas formas de expressão que levam à construção de discursos. Os discursos são maneiras de transmitirmos ideias, de defendermos pontos de vista.

A disciplina trata sobre esses aspectos da elaboração de linguagens que levam ao discurso. Como nós estamos dentro do campo da Comunicação, é fundamental termos o domínio das diferentes formas de expressões que levam à defesa de argumentos, à defesa de pontos de vista. Desta maneira, as Relações Públicas vão ter mais capacidade ou mais habilidades de representarem as organizações para as quais trabalham, e poderão falar em nome dela para a mídia de uma forma geral. Considerando a importância da matéria para o Relações Públicas, essa abordagem seria bastante oportuna para a matéria que nós estamos lidando agora.

Como o senhor acha que nós alunos podemos lidar com a linguagem que sofre mudanças e como a era digital pode atrapalhar as pessoas a escreverem corretamente?

Nós estamos a todo instante percebendo as mudanças nas nossas formas de expressão, a todo instante percebemos as mudanças que a linguagem sofre. A linguagem é muito dinâmica, viva e vai apresentando novas nuances cotidianamente. São expressões que surgem, gírias, neologismos, novas formas de manifestar os nossos pensamentos. Ela é muito ativa, uma forma de lidarmos com isso é estarmos atentos a essas alterações. Eventualmente nós podemos querer dizer algo com uma nova expressão, e o que interessa pra gente é significar isso que foi dito e termos a capacidade de interpretar aquilo que o nosso interlocutor colocou. Portanto, se ele traz uma gíria nova, é importante estarmos atentos ao que ele quer dizer pra gente, observar o mundo ao nosso redor, observar as mudanças que se dão das expressões escritas no nosso cotidiano ou pela internet é uma forma de lidarmos com essas transformações. Isso é muito importante para nós.

Com relação à era digital, a maneira como ela afeta a escrita normativa é uma questão que vem sendo debatida há muito tempo, até mesmo previamente à era digital, previamente ao uso da internet doméstica. Desde que nós temos modos de comunicação de massa, nós já percebemos alterações das formas de expressão que se dão no cotidiano, que escapam das regras normativas. Então o que é interessante e importante pra nós é percebermos que o campo digital, que é o que sua questão traz, ele possibilita, ele permite o uso da linguagem de uma forma mais livre, mais solta. Desde que ela chegue ao seu objetivo comunicativo, não há problema, ela é aceitável. O que não podemos assumir como algo adequado é entendermos que a escrita do digital substitui ou é válida de acordo com as regras normativas. Nós temos que fazer aqui uma contextualização, quando nós estamos no campo digital, de fato vamos ter uma liberdade, uma forma de expressão muito mais coloquial, solta e livre, mas nós temos sim que ter domínio das regras normativas para a adoção de uma escrita adequada de uma escrita formal, dentro dos âmbitos, dos espaços de exigência.

A questão que você traz de como lidar com a linguagem que sofre mudanças e como a era digital pode atrapalhar as pessoas a escreverem correntemente, ela pode atrapalhar no sentido de tornar-se regra absoluta. Escaparmos dessa regra, que é regida pelo digital, é uma forma de não esquecermos que existe uma regra normativa que é aquela que vai padronizar e formalizar nossa comunicação, sobretudo em documentos, documentos oficiais e regras institucionais.

Professor, a linguagem desempenha um papel fundamental nas interações sociais, diante disso, como podemos usá-la da melhor forma?

Acho que a melhor forma de trabalharmos com a linguagem é contextualizando o seu uso. Por exemplo, se eu estou num grupo social que adota o uso de gírias para suas manifestações, se estou num grupo de skatistas e tem uma linguagem própria e expressões dentro da prática do uso de skate que falam sobre manobras e assim por diante, para que eu me faça entender dentro desse universo, é conveniente que eu adapte a minha linguagem naquele contexto. Ali é permissivo e é bem-vindo que se utilize de gírias e expressões que fazem parte daquele grupo social, o que seria equivocado é utilizar recorrentemente essas expressões e essas gírias num outro contexto não permissivo. Exemplo disso é numa audiência pública ou numa entrevista de emprego, ou a partir de uma relação de uma formalidade mais elevada. Então, o que eu sugeriria nesse caso, levando em consideração essa questão, é que possamos ser poliglotas da mesma língua. Nós, como profissionais da comunicação, temos sempre que ter essa habilidade de migrarmos de uma forma de expressão dentro do nosso idioma para outra, respeitando e conhecendo gírias e termos que são transitórios de grupo a grupo. Dentro de diferentes contextos sociais de grupos sociais existentes.

A linguagem constrói e representa nossas experiências no mundo e na nossa realidade, como podemos trazer isso para o jornalismo?

Essa disciplina tem sido administrativa por mim para o curso de Relações Públicas, mas tanto para Relações Públicas quanto para Jornalismo, ou qualquer outra área da Comunicação, eu acho que a resposta dessa pergunta está no próprio questionamento, uma vez que a linguagem constrói e representa nossas experiências no mundo e na nossa realidade, nós temos que trazer isso pro nosso campo profissional respeitando aquilo que nossos interlocutores querem construir como discurso. De repente, uma determinada pessoa quer trazer uma ideia muito complexa, um discurso mais aprofundado, uma ideia mais filosófica, mas ela traz isso a partir de termos, gírias de uma linguagem muito própria, de termos regionais e assim por diante. Temos que levar em consideração o que a pessoa quer trazer pra nós, o discurso que ela quer trazer, o que ela quer construir. Depois como jornalistas ou como relações públicas, temos que nos preocupar em traduzir esse discurso para o nosso veículo de comunicação. Por exemplo, se eu estou fazendo uma entrevista ou falando em nome de uma organização, no caso de relações públicas, que é regional, que tem termos próprios, eu vou pegar essa informação e transmitir para um grupo maior, é mais conveniente que eu escape desse regionalismo, que escape, por exemplo de gírias e termos muito específicos e adote uma linguagem mais abrangente. A linguagem de fato constrói, representa nossas experiências no mundo e na nossa realidade e como nós podemos trazer isso para o nosso campo profissional? Respeitando aquilo que o discurso quer comunicar e traduzindo isso da melhor forma para os nossos próximos interlocutores, seja de um jornal de grande abrangência que escapa do local, seja com um comunicado oficial que já não lida tão pontualmente como uma organização de uma cidade, mas fala para um país como um todo.

No jornalismo, como podemos nos aprofundar mais neste tema para que nossa função seja melhor desempenhada?

Tanto no jornalismo quanto nas relações públicas, como qualquer outro campo da grande área comunicação, acho que a melhor forma de nos aprofundarmos neste tema da Linguagem e Discurso é sempre lendo cada vez mais, consumindo diferentes formas de expressões, com leituras, com o acesso aos produtos audiovisuais, podcasts, com diálogos com pessoas de outras regiões e de outros grupos sociais diferentes daqueles que nós fazemos parte. Ou seja, é termos interesse pelo mundo de uma forma geral, termos interesses pelas transformações sociais que acontecem cotidianamente e em buscar em diferentes formas de expressões que vão aparecendo. A leitura é sempre o caminho propício e é sempre muito bem-vinda, mas também há outras formas de consumo de produtos, como, por exemplo, a cinematografia, em jornais, etc. são formas de a gente conhecer outras formas de linguagem, novas formas de expressão. Cinematografias que são produzidas em regiões afastadas do sudeste, centro paulista e paulistano, é uma maneira de encontrarmos diferentes formas de linguagens que vão enriquecer o nosso repertório, seja no jornalismo, ou nas relações públicas, nós podemos aprofundar mais neste tema.

[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/ FIAM-FAAM, estagiário AICOM – repórter

[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/ FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisor

[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/ FIAM-FAAM, estagiário AICOM – editora

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/ FIAM-FAAM, supervisor de estágio AICOM

[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Pública e Jornalismo. FMU/FIAM-FAAM