JO 2

Pluralidade e diversidade como práticas do bom jornalismo

Por Daniel Lacerda [1]
Revisado por Guilherme Augusto [2]
Edição por Cláudia Lima [3]
Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [4] e Profa. Nicole Morihama [5]

Fechando a primeira noite da Semana de Jornalismo, contamos com a presença do aluno egresso Caê Vasconcelos, formado em Jornalismo pela FIAM-FAAM, em 2017. O evento teve como moderadora a professora Carla de Oliveira Tozo.

Caê é jornalista, homem trans e bissexual além de autor do livro “Transresistência: pessoas trans no mercado de trabalho”. Atua como repórter na Agência Mural de Jornalismo nas Periferias, com foco em direitos humanos e direito LGBTQIA+, além de ter passagens pela Ponte Jornalismo e a Companhia das Letras. Em janeiro tornou-se a primeira pessoa trans a fazer parte da redação da ESPN.

O palestrante agradeceu o convite para voltar a sua casa, o Centro Universitário FIAM-FAAM, e exaltou o quanto a universidade agregou em sua vida. No início de sua fala, deixa um conselho para os universitários: “dediquem a vida de vocês, universitários, ao TCC. O meu trabalho de conclusão de curso mudou minha vida em todos os aspectos, não somente profissional, mas pessoal”.

Sua carreira começou com seu livro “Transresistência”, que foi seu trabalho de conclusão de curso, sendo este o momento em que se percebeu como um homem trans. A princípio, ficou receoso, pois temia perder o afeto de sua família ou não ter portas abertas no mercado de trabalho. O seu livro relata e aborda questões como essa: pessoas trans no mercado de trabalho. Felizmente ele superou as estatísticas, conseguindo fazer sua carreira alcançar vários lugares, dentre eles o programa “Roda Viva”, da TV Cultura onde esteve na bancada de jornalistas que entrevistaram a vereadora de São Paulo, Erika Hilton. Caê agradece aos professores que o instruíram no período acadêmico mostrando caminhos para produzir um jornalismo inovador.

O desejo de ingressar na universidade surgiu com a insistência da família. Caê foi criado em uma família matriarcal que lhe mostrou a importância de realizar o ensino superior e após 3 tentativas conseguiu uma vaga através do Prouni. Com a participação nas Jornadas de Junho de 2013, encontrou no Jornalismo o seu lugar como ativista, almejando fazer um Jornalismo diferente das grandes mídias.

Durante a entrevista, Caê contou sobre momentos marcantes de sua carreira, como a entrevista com pais e familiares na comunidade do Paraisópolis um dia após a tragédia que vitimou 9 jovens, em 2019. Também teve a oportunidade de entrevistar a esposa da falecida vereadora Marielle Franco, Mônica Benício. Ele relata que esta foi uma de suas principais entrevistas, chegando inclusive a conhecer a casa onde elas moravam e também ouviu uma das suas cartas de amor.

Caê relata situações de dificuldade no jornalismo, mas tem cooperado no combate contra o preconceito, ajudando colegas de trabalho na desconstrução de falas preconceituosas. Segundo ele, é muito importante que mais pessoas LGBTQIA + tenham seu lugar na sociedade, realizando o que desejam, sendo vistos. Ressalta que a conquista desse espaço surge com o alcance em rede nacional e outros veículos da mídia.

Questionado sobre suas referências na sua vida, ele atribui às mulheres de sua família, principalmente a sua avó, Dona Raimunda, às inspirações da filósofa Angela Davis, ao rapper Emicida, a cantora e atriz Lina e, no jornalismo à Eliane Brum.

Caê termina incentivando os universitários: “Temos que fazer jornalismo querendo estar ali. Precisamos de jornalistas que defendem os direitos humanos”.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM