fotografia

“A fotografia publicitária é para seduzir, já a do jornalismo é para contar uma história”

Professor Cesar Fuentes Molina dos Reis, responsável pela disciplina ‘’Práticas: Fotografia’’ no Centro Universitário FMU FIAMFAAM, fala sobre essa matéria e detalha a importância da fotografia para o Jornalismo e para o meio de Comunicação como um todo.

Por: Wladimir de Oliveira Campos Neto [1]

Revisado por: Victor Barrelo A. Ferreira [2]

Edição por: Tamires Ramos de Souza [3]

Supervisão: Prof. Wiliam Pianco [4] e Profa. Nicole Morihama [5]

O que é fotojornalismo?

É uma modalidade bem especial dentro da área da fotografia, em que tentamos contar uma história por meio da imagem, seguida de um texto. Tem a responsabilidade de ilustrar um acontecimento pela composição fotográfica. Por isso, é de extrema importância ter um profissional na área que saiba manusear o equipamento e tenha uma percepção aguçada para conseguir extrair de um acontecimento o máximo possível e levar a informação da forma mais honesta ao público. Conseguir levar a melhor imagem e estabelecer a conexão com o leitor, tentar resumir da melhor maneira possível o acontecimento em uma foto.

Qual a importância da disciplina na formação do aluno?

Vivemos na era da imagem, da informação, nunca na história foram produzidas tantas imagens como atualmente, mas nunca produzimos tantas imagens vazias, que não tem um pensamento mais crítico, uma análise de qual mensagem quer passar com aquela composição como um todo.

Na área de fotojornalismo, a disciplina nos ensina quais são as possibilidades de um equipamento fotográfico, as limitações de um celular, as possibilidades de uma câmera profissional, suas diferenças, as questões éticas, o que ele pode fazer em relação ao fotojornalismo. Por mais que a fotografia não seja exatamente uma cópia da realidade, ela é um fragmento de um acontecimento, não se sabe o que veio previamente e posteriormente, aquilo é só uma imagem e ela pode ter sido distorcida das mais várias formas possíveis. Por isso ela é complementar, para isso é necessário o texto seguido da figura, mas principalmente uma imagem que expressa da maneira mais compreensível possível do que se trata aquele acontecimento.

Para as pessoas, de modo quase que universal, a fotografia é sim uma prova da realidade, por mais que a gente saiba que não é, pois podemos distorcer uma história com uma imagem completamente fora de contexto, temos que trabalhar com a percepção mais universalizada de saber que a visão das pessoas são assim e que acham que o que estão vendo é a verdade, então temos que entregar a maior coerência possível dentro do fato que está por trás dela.

Existe algo que é como se fosse uma espécie de click bait da imagem, ao pegar uma revista ou uma matéria e olhar para a imagem e ter uma percepção inicial, porém ao ler a matéria e analisá-la como um todo, percebe-se que aquilo tem uma conotação completamente diferente do que se havia pensado. Isso é utilizado por alguns meios de comunicação, pois a imagem em si é muito atrativa, porque é a primeira coisa que se bate o olho é na figura, porém alguns veículos acabam se aproveitando disso e usando do sensacionalismo ou algum contexto que não tenha relação com a realidade, acontece muitas vezes nos títulos também.

Um ponto importante que abordamos no curso é a questão ética de como trabalhar a imagem. Não pode forjar a imagem como acontece, por exemplo, na Publicidade. Em muitos casos, a fotografia publicitaria é para seduzir, a do jornalismo é para contar uma história. No curso além das diferenças técnicas, aprendemos as referências históricas, tanto nacional quanto internacional dentro da história do fotojornalismo, aprendemos o mínimo de composição. Você está tentando direcionar o olhar do espectador ou leitor, por mais que seja uma captura da realidade, você pode ter um cuidado estético mais elaborado, que você só vai conseguir perceber se tiver referência.

Como a disciplina se encaixa no mercado de trabalho, temos muitos fotógrafos jornalistas nos dias de hoje?

A digitalização de muitos equipamentos inevitavelmente acabou revolucionando o mercado de trabalho, e sobre a fotografia não é diferente. É muito chato quando você pegava para ler sobre um acontecimento e tinha apenas a coluna do texto, ou na televisão faziam uma simulação para tentar ilustrar. O problema do fotógrafo jornalista em si é que ele exige a presença no local, e foi um grande problema até a criação da internet, é que o ser humano não é onipresente então ele não pode estar em vários lugares quando quer, o que sobrava muitas vezes eram apenas indícios, mas o interessante é o flagra do momento. Então com a digitalização acabou por mudar isso, porque existe até uma ‘’competição’’ entre o que chamam de cinegrafista amador ou fotógrafo amador, que vai registrar aquele momento na ausência de um fotógrafo que pode até comercializar essa imagem, muitas vezes com a qualidade ruim ou celular na vertical, mas o que interessa é conseguir o clique a mais, então acabam por vezes trabalhando com fotos que deixam a desejar, porém trabalhando com a questão do flagra.

Falar que a fotografia e o fotojornalismo não foram afetados com o avanço da tecnologia é mentira, assim como qualquer área foi, estamos tendo uma revolução grande em todos os segmentos possíveis. As pessoas querem achar algum veículo que concorde ou corrobore com aquele ponto de vista que ela já tem, e a fotografia acaba penando muito em relação a sua produção e comercialização. A profissionalização acaba passando por esse processo de precarização do trabalho.

Com o avanço da tecnologia o quanto foi benéfico para o fotojornalismo e seus contras?

A qualidade da fotografia aumentou absurdamente. Hoje em dia não temos o perigo que, por exemplo, o Robert Capa sofreu na Segunda Guerra Mundial, que ficou no local por uma hora e meia fotografando, para conseguir fazer 130 fotos e o estúdio acabar perdendo quase 80% delas. A fotografia digital é muito mais ‘’eternizável’’ que a analógica, que depende de um filme que faz uma quantidade limitada de capturas, com o digital a partir do momento que está na rede é basicamente eterno, mas a falsificação é mais fácil, porém a alteração de imagens é algo que já existe desde a metade do século XIX. Os fotógrafos naquela época já tinham se ligado que dava sim para alterar alguns detalhes na imagem, porém o Photoshop facilitou e elevou a outro nível. Até meados de 2010, havia um receio entre os profissionais, pois elas não chegavam em qualidade comparada à analógica. Com a evolução técnica das digitais, principalmente do sensor e das lentes, não existe comparação de lá para cá entre digital e analógica, com a digital sendo muito superior. Existe também a questão do envio, Capa teve que pegar o rolo do filme e enviar para o outro lado do mundo. Hoje em dia com os celulares e computadores é absurdamente mais simples.

O quanto a disciplina foi afetada com a pandemia? Com o ensino remoto e EAD.

Existe muita lamentação porque tem alunos que realmente tinham interesse de aprender a matéria e ir ao estúdio, pegar a câmera e entender. Claro que existem os que não têm interesse, mas muita gente se lamentou em relação a não ter ido ao estúdio ter as aulas. A composição a gente pode aprender online, a questão de ética no fotojornalismo também, mas o fato de mexer numa câmera fotográfica profissional é outra coisa. Gravei vídeo-aulas para os alunos verem e reverem, mas no final você percebe que é igual a tentar aprender a dirigir lendo um livro. Você precisa da prática, ter o hábito da coisa, é essencial. Eu falando você até consegue entender, mas quando pega a câmera na mão e vai praticando é outra coisa, o nível é muito mais imersivo, não tem como compensar. Tentei adaptar as aulas para fotografias com o celular, porque o celular é quase totalmente automatizado, então acabava cobrando mais a questão da composição, ver o resultado, se as técnicas estão corretas, se você conseguiu passar o que queria com a notícia.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – repórter

[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – repórter

[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisor

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM

[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM