Pesquisa conduzida nas universidades de SP aponta que veneno da serpente pode reduzir replicação do novo coronavírus
Por Beatriz Quintas [1]
Maria dos Santos [2]
Vitor Xavier [3]
Edição por Giuliana Maciel [4]
Supervisão do Prof. Gean Gonçalves [5]
Reportagem elaborada na disciplina Jornalismo Científico e Cultural
Com a pandemia ainda em evidência, cientistas seguem procurando alternativas para alcançar um possível tratamento para a Covid-19. Desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em parceria com outras instituições públicas de ensino superior de São Paulo, um estudo recente encontrou indícios de que o veneno da cobra Jararacuçu pode se tornar um aliado nesta busca.
A pesquisa, publicada em agosto pela revista científica Molecules, comprovou que um peptídeo – parte de uma proteína – encontrado no material é capaz de reduzir em até 75% a reprodução do vírus.
Em análise desde 2016, por seu potencial antibacteriano, a peçonha passou a ser testada para este fim logo que os primeiros casos de Covid em território nacional foram confirmados. “Após a identificação da molécula, esta foi obtida por via sintética e modificações químicas foram realizadas para melhorar seu desempenho”, detalha o coautor do projeto Eduardo Cilli.
Uma vez ligado à enzima PL pro, responsável pela multiplicação do Sars-CoV-2, o componente conseguiu inibir sua atuação, o que permitiria um maior tempo de resposta para as células de defesa produzirem anticorpos necessários.
Segundo Marjorie Freire, integrante da equipe responsável pelos testes laboratoriais realizados na Universidade de São Paulo (USP), a constatação pode levar ao desenvolvimento de medicamentos capazes de tratar a infecção. Desse modo, os impactos da doença sobre o corpo humano poderiam ser amenizados.
“Além disso, esses peptídeos podem ser sintetizados artificialmente, o que facilita a sua obtenção e otimização, não sendo necessária a extração direta do veneno da jararacuçu”, completa a pesquisadora.
Apesar de se encontrar em estágio inicial, o estudo levou apenas um mês para obter os primeiros indícios de eficácia, a partir da interação provocada entre as substâncias no interior de células de macaco – técnica conhecida como “in vitro”. Assim, as perspectivas para sua continuidade são favoráveis.
Os próximos passos até a obtenção de um remédio envolvem ainda testes em animais e análises de formulação, ou seja, a definição de como ele deve ser dosado e aplicado. Somente com estas etapas concluídas, estudos clínicos em humanos poderiam ser iniciados para confirmar a segurança do fármaco e iniciar sua comercialização.
De acordo com o especialista em Biotecnologia do Instituto Butantan, Renato Astray, o resultado obtido é promissor. No entanto, a população deve seguir atenta aos protocolos em vigor para o controle da pandemia.
“Serão necessários alguns anos até que um produto derivado dessa pesquisa tenha sua eficácia comprovada e seja produzido. Portanto, é fundamental manter todos os procedimentos de prevenção atuais e seguir as determinações das autoridades sanitárias”, explica.
Cerca de 219 milhões de pessoas já foram acometidas pela Covid-19 em todo o mundo, sendo que 2% deste montante veio a óbito. Para Freire, “O presente trabalho gera boas expectativas para o futuro. Em especial, pelo fato deste estudo ser totalmente brasileiro e também fruto da colaboração entre importantes instituições do nosso país”.
“Isso mostra a importância da academia no desenvolvimento da sociedade. Respondemos rapidamente às demandas que surgiram e continuamos trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias e pessoal qualificado. É a universidade pública fazendo sua parte, apesar da pouca valorização”, completa Eduardo.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM FAAM
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM FAAM
[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM FAAM
[4] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM FAAM, estagiária AICOM[5] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM FAAM, ministrante da disciplina Jornalismo Científico e Cultural