Professora e Coordenadora Adjunta dos cursos de Produção Audiovisual, Produção Cultural, Produção Multimídia em Realidade Aumentada e Rádio, TV e Internet – FMU / FIAM FAAM
Por Renato Felix Iwamoto [1]
Revisão por Guilherme Diniz Simões Moreira [2]
Edição por Safira Ferreira [3]
Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [4] e Profa. Nicole Morihama [5]
Nosso encontro começa pontualmente. Observo o cenário em que se encontra minha interlocutora. Ao fundo vejo um cartaz estampado na porta. Entre todas as reverências iniciais, tive receio de deixar evidente meu interesse pelo cartaz.
Em primeiro plano compenetrados olhos de amêndoa me fitam, o material que anunciava algo nutria minha curiosidade. Enquanto nossa conversa fluía assimilei o que estava escrito no cartaz: “Sobre Heróis e Cigarros”. Trata-se do curta-metragem de autoria dela. Obra que conta com um roteiro irretocável; a produção e a direção também são assinadas por Isabella. A obra homenageia os três gêneros clássicos do cinema de Hollywood: o melodrama, o cinema noir e o western. O filme foi selecionado para a Mostra Internacional de Cinema Brasileiro de Salisburgo (2008), na Áustria. Em 20 minutos o curta exibe as três linguagens sem pontas soltas.
Pelo suéter de algodão e madeixas curtas, seu estilo me faz lembrar de Sara, em “Doce Novembro”. Isabella Goulart, professora do FMU – FIAM FAAM Centro Universitário, desde 2013, estudou em um colégio muito tradicional da capital Belo Horizonte, o Colégio Santo Antônio. Desde muito cedo foi preparada para ingressar no ensino superior, assim que saísse da escola. Isabella optou pelo curso de Direito na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), passou no vestibular e iniciou sua trajetória. Entretanto, durante o quarto semestre do curso, ela percebeu se interessar mais por cinema do que por estudar as teorias e as práticas do mundo jurídico.
Embora também apreciasse as Ciências Humanas, Isabella percebeu que observar o universo da sétima arte a animava mais. Prática incentivada por uma parceria entre o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFMG e alguns cinemas da cidade. Isso permitiu aos alunos assistirem filmes gratuitamente nas primeiras sessões do dia. Isabella confessa que o fez, pelo menos, três vezes por semana.
Durante esse tempo a docente descobriu que a UFF (Universidade Federal Fluminense) oferecia o curso de graduação em Cinema. Ela, então, decidiu trancar sua matrícula do curso de Direito e prestar vestibular. Foi aprovada. A partir daí, Isabella muda-se de Nova Lima, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, para morar em Niterói, onde fica o campus da UFF.
Durante sua graduação, Isabella se apaixonou pelas teorias em cinema. Embora houvesse entrado sem conhecer os horizontes além da produção audiovisual, ela queria ser crítica de cinema. Para todos os efeitos, enquanto uma profissional completa, ela participou de produções cinematográficas trabalhando ao lado de figuras como Silvio Tendler. Foi no decorrer dessa experiência que Isabella descobriu o desejo de pesquisar as teorias que estão por trás daquilo que é exibido nas grandes telas. Ela percebeu, enquanto esteve mergulhada nos processos de produção, que pensar cinema iria além dos textos de crítica veiculados na grande imprensa.
A atividade de redigir críticas sobre filmes, no fundo, limitaria sua paixão. Justamente por ser um tipo de texto endereçado a um público específico, com uma função específica. Isabella gostaria de ter outra relação com a produção audiovisual. Embora a demanda por esse formato de crítica mereça atenção e tenha seu lugar no mercado, entretanto, no caso de Isabella, não daria conta do que ela almejava, pois seu desejo encontrava refúgio nas atividades de pesquisa docente.
Foi assim que Isabella teve sua passagem pela USP, cursando mestrado em Meios e Processos Audiovisuais. Ela está há 11 anos em São Paulo, e após concluir seu mestrado em fevereiro de 2013, no mês seguinte, foi contratada pela FIAM FAAM. Isabella descreve esse momento como um dos mais transformadores de sua vida.
Em 2018, a docente concluiu seu doutorado também pela USP, ainda produzindo pesquisas em Meios e Processos Audiovisuais. Na mesma época, ela torna-se coordenadora adjunta nos cursos coordenados pelo professor Fernando Leme, em nossa instituição.
Alguns pensamentos da professora sobre o mercado audiovisual brasileiro discorrem sobre acessibilidade. Apesar de todos os desafios impostos recentemente ao financiamento e à democratização dos acessos à cultural no país, Isabella acredita ser possível uma outra abordagem, quando o assunto é fomento à cultura.
Embora seja imperativo debatermos o valor imaterial da cultura, é necessário olhar por outro prisma. Isabella nos instiga a pensar criticamente o que está além da produção cinematográfica em si. O orçamento destinado a um filme ou evento acaba por criar empregos diretos e indiretos que tendem a fortalecer os vínculos culturais e econômicos mutuamente, trazendo robustez e dinamismo ao processo de produção cultural como um todo.
Falamos um pouco sobre as instituições que ensinam cinema e oferecem cursos de audiovisual. Embora o acesso ainda continue difícil para toda a população, onde alunos de alta renda permanecem sendo a maioria nessas instituições, Isabella tranquiliza os calouros que integram os primeiros semestres das matérias que ela leciona. “A matriz de Rádio e TV é outra, claro”, mas ainda assim é possível produzirmos trabalhos relevantes, que concorram no mercado.
“Acredito que a chave de tudo é a educação”
A professora compartilha as experiências que teve dentro da sala de aula. Ela os incentiva os estudantes a “quebrarem” a ideia de que estão abaixo de outra instituição de ensino. Quando se discute referências ou o nível exigido em uma conversa acerca de determinado texto ou obra, os alunos enfrentam, leem e entendem. Mostram a si mesmos que são capazes. “Isso é inspirador”, diz ela.
Chegando ao fim de nossa conversa, Isabella fala um pouco sobre o perfil dos alunos para quem leciona. Ela se vê feliz com a democratização do acesso ao ensino superior. O curso superior, agora, pertence a mais pessoas, de diferentes lugares. Ela diz que seu maior orgulho é poder lecionar para todo tipo de aluno, seja lá de onde ele for. O ensino é plural.
Num roteiro produzido por ela, um dos personagens profere a seguinte frase: “Sobreviver a um destino cruel e impiedoso é cansativo”, fazendo um contraponto com autores que ela utilizou em sua tese de doutorado, e ainda os revisita para pesquisas correntes – Edward Said e Jean Claude Bernardet, por exemplo. Frente aos desafios da Cultura, em seu esforço de se estabelecer enquanto valor de construção de uma sociedade mais evoluída, a única saída para outra leitura de mundo é a educação.
[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM
[3] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM