pra nao dizer que nao falei das flores

Evento fala sobre o valor cultural do Funk nas comunidades Brasileiras

Especialista aponta que o Funk é uma identidade brasileira

Por Guilherme Pereira [1]
Edição por Gabriel Barbosa das Neves [2]
Revisão por Matheus Houck [3]
Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [4] e Prof. Nicole Morihama [5]

O evento foi transmitido ao vivo pelo Instagram e a entrega do TCC de um grupo de formandos do curso de Produção Cultural. Os estudantes convidaram Bruno Ramos, Articulador Nacional do Funk e colunista do portal Mídia Ninja, e o Professor Thiago Barbosa, Doutorando em Música pela Universidade de São Paulo (USP), para uma conversa sobre o tema “A Arte e o Tempo: Para não dizer que eu não falei do Funk”,aprofundando ainda mais as questões do Funk e Políticas Públicas, no segundo dia da 11° Semana de Comunicação.

A aluna Larissa Miranda mediou a conversa com os convidados, sendo a porta voz e mestre de cerimônia, realizando os questionamentos e levantamentos da palestra.

O evento começa com um vídeo que apresenta algumas entrevistas e reportagens sobre o que as pessoas pensavam quando o assunto era “funk ou baile funk” e mostra a visão que as pessoas possuem do estilo, em que julgam como “coisa da classe baixa”, “está ligado com a violência e crime”, etc.

Charlles Evangelista, deputado federal (PSL/MG) criou um projeto com intuito de criminalizar qualquer estilo musical que contenha expressões pejorativas ou ofensivas, criminalizando o funk da mesma forma que havia sido feito com o samba.

“Ao invés de mandarem o Secretário de Cultura para a organização dos bailes da cidade, mandam a polícia para reprimir os jovens, negros, pobres e periféricos ali presentes, sendo que o evento é algo cultural”, disse Evangelista.

Os bailes Funk reúnem milhares de pessoas, atraem diversos tipos de públicos e são eventos culturais. Mas para o governo e para a sociedade conservadora, o funk é um perigo, pois relata a realidade do povo que reside nas comunidades, abandonadas até então por eles.

Thiago Barbosa menciona que o problema contra o funk é o racismo, a soberania das altas classes, que acaba definindo preconceito e desconhecimento para a formação de uma opinião e repulsa com quem possui menos poder aquisitivo.

Em meio à conversa, Ramos se aprofunda nos benefícios que o baile funk traz para a comunidade em geral, questões como a apropriação do espaço e fortalecimento do comércio local e sinaliza que o problema dos demais com o funk não seria a questão das letras sexistas. Se fosse de tal maneira, muitos dos programas de sucesso na mídia não estariam no ar como estão há tanto tempo.  A palavra que define o funk para Ramos é “resistência”.

Para Barbosa, o funk é definido pela palavra “música’’. O especialista explica o conceito de que música clássica e funk possuem muita proximidade, pois, o funk leva consigo elementos de músicas clássicas. Mesmo sem saber, diversos DJ ‘s e MC’ s utilizam da música clássica para a construção de seus beats e até mesmo as letras, trazendo uma releitura dos trechos e os inserindo de volta para a sociedade.

A aluna  Larissa Miranda perguntou aos convidados se havia algum gênero parecido com o funk e Ramos disse que não costuma comparar, mas não existe gênero no mundo que engaje mais pessoas do que o funk e relembrou os anos de 2009 e 2010, quando o “funk ostentação” nasceu devido às boas condições financeiras e econômicas do país, dando mais oportunidades a quem vinha das comunidades.

Sua história com o funk é longa, Ramos diz que o funk expandiu sua mente com um leque de conhecimento imenso para diversos assuntos, alguns dos quais ele jamais se imaginou debatendo. Diz ainda que o funk o conectou com ex-presidentes e parlamentares em nome da cultura, em nome do funk.

Após o questionamento sobre o que poder público tem feito em prol do funk, devido a este a popularidade em alta, Ramos informa que o movimento continua sem apoio,e até mesmo, relata a criação de um projeto de lei em 2017, enviada pelo webdesigner Marcelo Alonso, onde o gênero é tido como crime de saúde pública, visto como um recrutamento aos criminosos para a venda de drogas, ataques ao cidadão e também relacionado a pedofilia.  Ramos também afirma que o artigo 5° da Constituição é o que protege o movimento, garantindo a liberdade.

Para que se mude a perspectiva da periferia é necessário que se coloque pessoas da periferia dentro da política, para que haja a inserção de políticas públicas dentro das comunidades.

Barbosa considera o baile uma organização política. “O que o Estado não faz, a população da comunidade faz”. Para que o baile seja durável e conhecido é necessária uma organização política. Quando há a presença do Estado nas comunidades, vemos cenas trágicas de confrontos policiais e mortes, aumentando o problema.

 O último ponto tratado foi como conseguir que as pessoas que vivem ou trabalham na comunidade se tornem aliados do movimento. Os convidados chegaram ao consenso de que o empoderamento econômico atrai as pessoas. Eventos deste porte atraem muito público e os comerciantes locais são quem saem lucrando com isso tudo. “Se não é bom para o comércio, então não é bom para ninguém”, disse Barbosa.

O moralismo, aponta o convidado, é algo que atrasa a sociedade para a solução de problemas considerados “tabus” e para que haja uma aproximação das pessoas para com o funk é necessário nos livrarmos das amarras do moralismo e nos permitirmos conhecer algo novo.

O olhar cirúrgico do Estado para a periferia é o que falta. O orçamento do país não chega nas comunidades e isto causa revolta, causa desigualdade e com isso o aumento de crimes e problemas sociais.

É comum vermos as pessoas pretas, pobres e periféricas no Brasil serem tratadas com grande repulsa pela sociedade. Ninguém é obrigado a gostar, mas o respeito deve prevalecer e a luta por direitos e igualdade deve continuar. Movimentos sócio-culturais, como o funk, são a esperança de um mundo melhor para que o racismo junto da desigualdade, sejam extintos.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM
[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM
[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM