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A Olimpíada Pandêmica: A Cobertura Jornalística da Tóquio 2020 em meio à COVID-19

O jornalista precisa se preparar todos os dias, apontam convidados

Por Guilherme Pereira [1]

Edição por Gabriel Barbosa das Neves [2]

Revisão por Matheus Houck [3]

Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [4] e Profa. Nicole Morihama [5]

No primeiro dia da 11° Semana de Comunicação do Centro Universitário FMU FIAM-FAAM aconteceu a palestra A Olimpíada Pandêmica: A Cobertura Jornalística da Tóquio 2020 em meio à COVID-19, que foi um bate papo com os convidados Paulo Roberto Conde, produtor de conteúdo da TV Globo, e o colunista da UOL, Demétrio Vechiolli.

Moderada pelo Professor Guy de Almeida, a palestra trouxe as visões e experiências que os convidados trazem em sua bagagem pela cobertura de eventos como as Olimpíadas, principalmente em tempos de pandemia.

Conde inicia contando como foi todo o caminho que percorreu até sua chegada a Tóquio, que foi com 18 dias de antecedência ao início dos jogos olímpicos, com o Brasil registrando recordes de novos casos de COVID-19.

Ao relatar, sua experiência mencionando ter ficado surpreso com a forma que os japoneses conduziram tudo, pois, sempre imaginou normas mais rígidas, porém, se deparou com normas maleáveis e, uma maneira de lidar com a pandemia muito diferente de como é lidado no Brasil.

Como correspondente do UOL, Demétrio chegou a Tóquio três dias antes do início dos jogos e lembra de quando andava pelos estádios, vendo os espaços todos vazios e quase se perdendo da equipe. Enquanto se afastava, via o esquema de segurança como era frágil para os jornalistas.

Vechiolli menciona que os horários dos jogos favoreceram os trend topics, pois os horários em que os brasileiros estavam em casa coincidia com o do início de algum jogo. De acordo com o LANCE!, as olimpíadas deram um aumento de 10 pontos de audiência para a TV Globo, após a vitória da seleção brasileira de vôlei.

Os esportes olímpicos possuem pouca popularidade no Brasil, ou melhor, possuíam. De acordo com Vechiolli, “as polêmicas que envolvem alguns dos brasileiros  participantes do evento fez com que as olimpíadas se tornassem uma conversa mais frequente entre os internautas”. Darlan, Rebeca, Isaquias, são atletas com histórias, carisma e muita competência que conquistaram o coração do público, aumentando o laço entre o espectador e o protagonista. “A participação brasileira foi muito surpreendente mesmo após um grande corte de investimentos do governo”, disse o convidado.

A primeira pergunta realizada para os convidados foi em relação a como lidar com as restrições da pandemia e qual o maior desafio apresentado nela. Vechiolli relata que em um evento comum, ele podia fazer uma entrevista com muito mais facilidade, podendo aproximar-se do atleta ou até mesmo chamar um atleta menos conhecido, para ter ao menos uma matéria diferente da dos demais jornalistas.

“Nas Olimpíadas de Tóquio, tinha apenas um espaço onde ficavam os jornalistas e logo a frente os atletas, sendo o único local para entrevistas, e todas eram juntas, sem exclusividade ou entrevistas pessoais”, apontou no evento..

Conde concorda com Demétrio, “Não é exatamente o melhor lugar para entrevistas exclusivas. Cada um ganhava um ou dois tickets ou vouchers por dia, e, precisava escolher para qual entrevista ia . A frustração de não poder falar direto com um atleta, um atleta brasileiro, que acaba de ganhar uma medalha, mal podia chegar perto dele’’.

O produtor de conteúdo menciona seu improviso em continuar pela cidade, em busca de novas histórias para poder contar, quando encontra com Michael Phelps, que estava como comentarista de natação pela NBC.

Paulo menciona “…bom, minha matéria está aqui…”, libertando-se das amarras das entrevistas.

Em sua passagem pela cidade, Conde não relata nada de agressivo por parte dos japoneses, pois o questionamento de como seria a recepção japonesa com o evento e com os atletas, ele relata que foi de forma tranquila, superando as expectativas, pois os próprios japoneses não puderam assistir aos jogos ao vivo.

Já para Demétrio, as lojas estavam vazias, havia pouca gente e, mesmo depois de quinze dias andando pelos metrôs da cidade, não via muita comoção com os jogos, percebeu uma certa frieza. “O pouco envolvimento e a falta de interesse têm a ver com o fato do público não ter participado dos jogos”, respondeu aos alunos.

Antes das Olimpíadas, em maio, o G1 publicou uma matéria que dizia que 80% dos japoneses eram contra a realização dos jogos olímpicos devido às complicações da pandemia COVID-19 no país.

Em decorrência da pandemia, Conde diz ser contra a decisão de terem realizado as Olimpíadas em 2021, quando se pensa em uma questão humanitária. “Vi poucas pessoas se cuidando, a maneira como encaram a pandemia é de uma forma muito fria, muito diferente. Acredito ter sido um grande equívoco ter dado continuidade na realização do evento, pois, as Olimpíadas são união, e realizá-las da forma que foram realizadas, com medidas preventivas, se transforma em separação”.

Contrapondo Conde, Vechiolli diz que deveria sim ter acontecido, em questões sanitárias, sentiu-se muito seguro ao se locomover pelo país. Cobrir a Olimpíada é o momento de sua carreira e não cobrir é o mesmo que perder um sonho. Como os jornalistas vivem disto, Vechiolli não acha uma boa ideia se não ocorrerem eventos desta grandeza, pois assim, quem sairia perdendo, seriam os próprios jornalistas.

Os jogos aconteceram sem torcidas, e com isto, o impacto nos atletas estava sendo discutido como um agravante, quando na prática, foi algo mínimo de acordo com Paulo Roberto Conde. Ele ainda fala que na verdade pode acompanhar grandes desempenhos individuais, que traziam histórias de muita luta e superação, onde os próprios atletas ficaram sem treinar devido à pandemia e quando estavam nas provas foi algo impressionante.

Vechiolli gostaria de ver como seriam as Olimpíadas que acompanhou em Tóquio se houvesse público presente. Em algumas, modalidades Demétrio julga necessário a presença de um público para animar o jogo, e, ao contrário disso, ficou um pouco sem graça.

As Olimpíadas nunca haviam sido tão comentadas entre os brasileiros como foi a de Tóquio. Os diferentes esportes e modalidades encantaram o povo, e, como faltam 1 ano a menos para a próxima Olimpíada, os jornalistas devem preparar-se diariamente.

O repertório, segundo Conde, é construído sempre que estamos à procura de histórias para contar. É nosso trabalho, sem nenhum glamour, nos reinventar para a cobertura de novos eventos. Já Vechiolli levanta o ponto de estar mais bem preparado para poder lidar melhor com improvisos durante a cobertura, pois, já esteve em momentos de tensão relacionados a quem são os atletas.

Os convidados fizeram um bate papo interativo com opiniões variadas sobre o mesmo tema, levantando os principais pontos de suas experiências como correspondentes de seus veículos na cidade de Tóquio, nas Olimpíadas de 2020.

Um jornalista que cobre um evento desta grandeza deve sempre ter o exercício do trabalho, pois é desta forma que estará preparado para enfrentar os desafios e surpresas que a área pode proporcionar.

A Olimpíada de Tóquio 2020 foi um evento que marcou a história das Olimpíadas no Brasil, e Tóquio pode ser resumida com a palavra “surpreendente”, pois superou muitas expectativas e deixou a desejar em outras.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórter

[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – editor

[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – revisor

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM

[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM