Manevy

Ex-secretário de políticas culturais fala sobre a democratização na área da Cultura em Aula Magna

Por Ana Beatriz Alves, Guilherme Pereira, Samantha Oliveira Filócromo [1]

Edição por Gabriel Barbosa das Neves [2]

Revisão por Matheus Houck [3]

Supervisão de Prof. Wiliam Pianco [4] e Prof. Nicole Morihama [5]

O professor e doutor em comunicação, Alfredo Manevy participou da Aula Magna do curso de Rádio, TV e Internet e de Produção Audiovisual, Cultural e Multimídia do Centro Universitário FMU FIAM-FAAM, na noite do dia 27 de agosto. “Cultura é algo básico, é fundamental, é o que nos constitui como seres humanos, é o que nos faz seres humanos. Cultura também é direito”, diz o convidado.

O encontro virtual foi mediado pelo professor Thiago Venanzoni, e contou com a presença do diretor da HECSA, professor Fernando Leme, da coordenadora adjunta dos cursos de RTVI, Produção Audiovisual, Produção Cultural e Produção Multimídia, a professora Isabella Goulart, e com a presença de alunos e demais professores.

Alfredo Manevy é professor associado na Universidade Federal de Santa Catarina. Graduado pela USP (Universidade de São Paulo), o convidado foi diretor presidente da Spcine (Empresa Estatal de Cinema e Audiovisual de São Paulo S.A), secretário de políticas culturais e secretário adjunto do Ministério da Cultura. 

O convidado inicia a conversa falando sobre o lançamento de seu novo livro: “Depois da última sessão de cinema: Spcine, audiovisual e democracia” e conta que o intuito do livro é “registrar a construção que tem como propósito apoiar o cinema audiovisual e sua indústria”.

Ele comenta que o livro é como um documento de preservação das construções democráticas da área de cultura, pois a democracia é um problema que afeta toda a América Latina. “Nós temos a sensação de que a democracia nunca se consolida plenamente”, diz Manevy, e ainda faz uma ligação com o atual cenário sociopolítico brasileiro, em que a democracia do país vem sendo ameaçada.

Além disso, o docente compartilhou dados e pesquisas, para esclarecer as dificuldades que as indústrias audiovisuais possuem para conseguir fomentos, não só no Brasil, mas também em toda a América Latina. Ele destaca principalmente a cidade de São Paulo e diz que é necessário ampliar o acesso ao cinema e também valorizar as produções brasileiras, para assim aumentar nosso repertório cultural.

Manevy aponta que os brasileiros consomem pouco do audiovisual que é produzido no nosso país e cita a criação de gostos que se inicia na infância. Ou seja, de acordo com ele, assistimos desde muito cedo desenhos e animações americanizadas ou hollywoodianas, e isso faz com que o sujeito se afaste da cultura brasileira.

O professor salienta ainda como a Spcine acaba facilitando as filmagens nas ruas da cidade de São Paulo, algo que alimenta o mercado publicitário e ao mesmo tempo fortalece a economia.

Os impactos da Spcine

Ao longo da conversa, o convidado fala da importância do projeto para o país, mas também destaca como se deu início a projetos semelhantes ao da Spcine. Como nos Estados Unidos, que foi pioneiro na organização de políticas para produção audiovisual, quando políticas da produção americana há 100 anos, quando o cinema francês dominava o mercado.

A partir disso, diversos países da Europa viram as vantagens do audiovisual e adotaram políticas públicas para implementarem em suas nações com viés estratégico.

O objetivo principal da Spcine, segundo o convidado, seria fazer com que São Paulo fosse um grande centro cultural, ampliar o acesso ao cinema, formar um público cinéfilo e ampliar o número de telas voltadas para o cinema brasileiro e isso começou quando ele teve conhecimento de uma matéria que apontava que 10% dos paulistanos nunca foram ao cinema e 30% da população das classes D e E nunca tinham ido ao cinema, “Isso porque o cinema brasileiro é um dos mais caros”, disse o convidado.

Portanto, a Spcine é um projeto para levar mais cultura do audiovisual e a vivência de estar em um cinema para a população, pois é direito do ser humano. “É uma questão social, de cidadania e econômica”, aponta.

Graças a esse projeto, São Paulo passou a ter uma visibilidade, trazendo mais produtores para a capital, ampliando o investimento e também deu mais visibilidade para os talentos do audiovisual brasileiro que “são bem reconhecidos pelo estrangeiro”, por conta da cultura que está presente no Estado.

Ao responder às perguntas do público, o docente fala sobre os desafios que surgem na produção do audiovisual, como o serviços de streaming, que estão realizando produções independentes, mas também diz que o Estado deve incentivar projetos, pois “o mercado sozinho não dá conta disso”. Ele ainda cita como o investimento público é importante para esse segmento e ainda cita o caso de Pernambuco que está no festival de Cannes e outras produções nacionais que ganham espaços no mundo afora, graças a esse investimento.

O convidado também retoma o aspecto da democracia do cinema e diz que os alunos – a próxima geração do audiovisual – terão uma “luta” com Hollywood para tornar o cinema mais acessível ao público, pois no cenário atual é difícil para uma parcela da população ir ao cinema, e também fala sobre a pirataria ser um reflexo do capitalismo, já que a cultura não é acessível a todos.

Ele traz exemplos de países como a Alemanha, em que a taxa de desemprego é baixa e, mesmo aqueles que não trabalham, ganham um recurso do governo e assim conseguem ter acesso à cultura. “Aqui no Brasil, a cesta básica não dá um salário mínimo”, afirma, deixando claro as dificuldades da população brasileira.

Durante a conversa, Manevy reforça que o cinema e a cultura precisam ser mais acessados pela população brasileira, principalmente a produção nacional e que podem ser os alunos que assistiram à palestra que abrirão o caminho para que isso seja possível.

“O Brasil vai ter que ser reconstruído”, disse o convidado ao falar sobre o pós-pandemia no país e incentivou os alunos, de forma otimista, a fazerem parte dessa reforma e combater o retrocesso cultural.

[1] Alunos do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórteres

[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – editor

[3] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisor

[4] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM

[5] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM