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Comunicação e seu papel na valorização dos negros na sociedade

Encontro virtual recebe jornalistas dos portais Geledés e Alma Preta para discutir a Comunicação Digital Antirracista

Por Eryka Rodrigues [1]
Revisão por Maria Lúcia [2]
Supervisão de Prof. Guy P. Junior [3]
Profa. Nicole Morihama [4]

Na última sexta-feira (23/04), João Arnaldo Santos, graduando em jornalismo pela FIAMFAAM, mediou o encontro entre Natália Sena, estrategista digital e responsável pelo gerenciamento de projetos digitais e redes sociais do portal Geledés, Kátia Mello, jornalista colunista do Geledés e Juca Guimarães, jornalista da agência Alma Preta, num debate sobre a mídia digital antirracista. 

O portal Geledés, Instituto da Mulher Negra, foi criado em 1988 e tem como objetivo lutar contra o racismo e sexismo, a inclusão social e valorização das mulheres negras, assim como de toda a comunidade negra. A Agência Alma Preta, foi criada em 2015 por dois estudantes de comunicação que idealizaram um jornalismo livre e com temática negra.

Impacto da pandemia nas produções

Após as apresentações, João inicia o debate questionando sobre o impacto da pandemia nas produções dos portais. Natália explica que no Geledés percebeu-se um aumento na participação do público na coluna Guest Posts, espaço aberto para que os leitores publiquem seus textos. Kátia acrescenta que o portal Geledés cria e estabelece projetos sociais, como o Retratos da Pandemia, em que uma repórter negra produziu conteúdos sobre como os moradores da periferia vivenciam a pandemia, mas que teve que pausar o projeto por questões de segurança.

No Alma Preta, Juca conta que focou em evidenciar o impacto na população negra, pois a pandemia reforça as desigualdades e toda a dificuldade que o negro tem aos acessos básicos, como saúde e transporte de qualidade.

Mudanças na Comunicação

Juca aponta que o que mais impactou a comunicação foram a revolução tecnológica, os smartphones e as redes sociais, que viabilizaram o surgimento de outras fontes  de informações, fazendo com que a mídia tradicional perdesse um pouco do domínio da formação de opinião pública. Natália concorda que a internet trouxe visibilidade para a coalizão negra a partir da comunicação digital e contribuiu para que suas pautas chegassem a lugares que antes não chegavam e que é notável que hoje as questões de racismo tomam proporções muito maiores, mas é preciso valorizar a cultura afro-brasileiro. 

Consumo e Formação

A próxima questão levantada por João é sobre um estudo de 2018 realizado pelo Instituto Locomativa que aponta que 40% do consumo total do país é feito por pessoas negras e o que as marcas podem fazer para se aliar ao movimento negro. Kátia comenta que é importante que os negros estejam no comando de grandes empresas, pois dessa forma muda-se a perspectiva e, consequentemente, a realidade do país. Para Juca, existe um pacto para a manutenção do privilégio branco, por esse motivo é cômodo que não busquem ou enxerguem a necessidade de mudanças sociais.

Natália comenta sobre o Projeto XXI da Geledés, que com o apoio financeiro do BankBoston em 2009, investiu na formação de jovens negros de pele retinta visando a inclusão no mercado de trabalho em cargos que exigem formação, mas, segundo ela, observou-se que enfrentaram dificuldades de crescimento profissional.

Reality vs Realidade

No reality Big Brother Brasil da Rede Globo, recentemente o participante Rodolffo comparou o cabelo black power de João, colega de confinamento, com uma peruca de homem das cavernas, suja e sem corte. Sobre esse comentário, Juca acredita que o negro muitas vezes é visto como exótico, e que para mudar essa realidade é importante trabalhar a auto-estima, o que o corpo negro representa e significa, além de pontuar os espaços em que ele não está ou como não está representado.

O racismo está presente em nossa sociedade, então é necessário pensar que a questão racial precisa ser debatida e entendida desde a educação, principalmente nos cursos de comunicação, pois os estudantes já saem com um conceito melhor do que as gerações anteriores, conclui Natália.

Kátia preocupa-se com o retrocesso, pois as cotas estão sendo ameaçadas e o momento político não é favorável a melhorias sociais, então cabe a população brasileira cuidar do avanço que houve até o momento, do que já foi conquistado..

Tem gente com fome

O Geledés, em parceria com artistas e ativistas do movimento negro, criou uma coalisão visando o combate à fome. Kátia apresenta o projeto como ambicioso, pois tem como objetivo alimentar 223 mil famílias carentes no Brasil, incluindo quilombos, onde a grande mídia não vai e onde o dinheiro de outras campanhas não chega.

A campanha já arrecadou mais de R$5 milhões, mas ainda está longe de atingir a meta estipulada. Maiores informações podem ser encontradas no portal Geledés.

[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórter
[2] Professora do Curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
[3] Professor do Curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[4] Professora e coordenadora do Curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM