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Representatividade das mulheres brancas e negras no cinema brasileiro

Márcia Cândido e Marina Tedesco debatem a desigualdade de classe, gênero e raça na produção e nas representações audiovisuais

Por Eryka Rodrigues. [1]
Revisão por Letícia Guzo. [2]
Supervisão de Prof. João Luis Gago Batista [3] e Prof. Nicole Morihama [4]

Na segunda-feira, (19/04), iniciou-se a Semana de Comunicação, e para os cursos de Rádio e TV foram convidadas Márcia Rangel, mestra e doutora em Ciência Política pelo Instituto de estudos Sociais e Políticos da Universidade do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), e Marina Tedesco, graduada em Comunicação Social com habilitação em Cinema e Doutora em Comunicação para o evento no período da noite, em sessão moderada por Carla Cristiane, fotógrafa, cientista social e docente dos cursos de fotografia do Centro Universitário FIAMFAAM.

O encontro foi dividido em duas partes e Márcia Cândido iniciou o evento apresentando-se como subcoordenadora do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), que tem sede no IESP-UERJ.

 Ela conta que sua pesquisa começou em 2014 e mapeou a diversidade de gênero e raça nas funções de direção e roteiro. Entre os personagens retratados nos filmes de grande público do cinema brasileiro, o estudo é voltado para proporcionar dados e para embasar políticas públicas.

Chama a atenção para o fato de que para mapear raças, é necessário visualizar as pessoas, e que o estudo focou nas três funções mencionadas, pois são as que mais recebem atenção da mídia, portanto são as que conseguiram acesso.

Em seus primeiros estudos, o GEMAA buscou dialogar com a Agência Nacional de Cinema (ANCINE) e alertou que no cadastro das obras audiovisuais não era necessário autodeclarar a raça. Essa é uma informação que continua a não existir, pois a Comissão de Diversidade da agência foi extinta, tornando a comunicação mais difícil.

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Representativade em números

Fonte: http://gemaa.iesp.uerj.br/wp-content/uploads/2020/04/BOLETIM-ESPECIAL-10-ANOS_FINAL_REVISADO-1-1.pdf

Conforme pode ser observado, os homens brancos dominam os cargos de direção e roteiro nos filmes de grande público, seguidos por mulheres brancas e homens pretos e pardos. Nos últimos anos, nenhum filme de grande alcance foi dirigido por mulheres pretas ou pardas.

No que se refere a personagens de destaque, existe um equilíbrio maior, principalmente entre as pessoas brancas. Márcia explica que isso se dá porque o cinema tenta retratar a realidade, e por esse motivo tenta incluir um ou outro grupo social, mas que não tem sido feliz em demonstrar a sua diversidade.

Cândido encerra mencionando outro estudo do GEMAA, o artigo “Gênero, Raça no Cinema Brasileiro”, que divulgou a questão dos estereótipos, um aprofundamento maior das narrativas dos filmes analisados e que foi publicado na revista brasileira de Ciências Sociais. Neste trabalho, foi constatada uma regularidade na representação  das mulheres negras como: mulata hipersexualizada, favelada, crente, trombadinha, revoltada, militante, empregada e batalhadora.

Não há um juízo de valor na tese e os estereótipos não são necessariamente negativos, mas o cinema brasileiro tem sido redutor em relação a alguns grupos sociais, o que não ocorre, por exemplo, com os homens brancos, que são retratados em vários espaços sociais, enquanto a população negra está restrita a ser representada como um grupo carente, segundo ela.

Diretoras de fotografia no Brasil

Na segunda parte do encontro, Marina Tedesco inicia elogiando o trabalho do GEMAA e sua importância para a construção de um novo audiovisual brasileiro.

Ainda durante seus estudos, Marina percebeu ao assistir filmes independentes ou blockbusters, a perceptível existência de maneiras de retratar homens brancos e mulheres brancas, e que existem manuais que explicam como lidar com o “problema” que é fotografar pessoas não brancas.

Com base nesta percepção, ela inicia sua reflexão de gênero na direção de fotografia, e um dos fatores é a falta de mulheres nas equipes de câmera e mais especificamente no posto hierarquicamente mais alto da equipe..

Assim, iniciou-se em 2013 um projeto de pesquisa voltado para a representatividade nas equipes de câmera. Primeiramente, realizou-se uma pesquisa quantitativa para conseguir uma base de dados que comprovasse a percepção de que mulheres têm menos espaço e oportunidades no setor.

Tendo em mãos uma base de dados, a pesquisa entrou em dimensões qualitativas a partir do projeto “À Luz Delas”, um longa-metragem documental sobre diretoras de fotografia no Brasil, com um bate-papo entre oito fotógrafas com perfis diferentes em termos sócio-culturais contando suas vivências de bastidores. Com esse filme, refletiu-se sobre as maiores dores dessas mulheres, como a questão da gravidez, que muitas sentem-se obrigadas a abrir mão do sonho de ser mãe ou da carreira.

Tônica Dominante

Foram analisadas as fichas técnicas de 773 filmes de ficção produzidos de 1995 até hoje, e o resultado foi o seguinte: do total, 708 foram fotografados exclusivamente por homens e 65 fotografados por mulheres ou co-fotografados por mulheres, o que representa 8% das produções audiovisuais de grande alcance no país.

Observa-se que não há um crescimento constante, pois os anos em que mais mulheres fotografaram foram 2011 com 16%, 2019 com 10,4%, 2001 com 10% e 2010 com 9,5%.

O primeiro longa-metragem fotografado por uma mulher no Brasil foi Tônica Dominante, exibido nos cinemas em 2001. Desde então, 62 longas foram fotografados por mulheres, sendo 29 dirigidos por 4 mulheres, que são brancas, moram ou têm base no Sudeste e tiveram acesso à nível superior. Dezesseis desses longas foram fotografados por mulheres que até o momento só fotografaram um longa e os dados mostram que não necessariamente elas terão novas oportunidades, pois existe uma dificuldade de permanência, como a gravidez ou falta de convites.

Tedesco conclui que não existe nada garantido para as mulheres na direção de fotografia, porque não se trata de uma questão individual, mas sim de uma questão estrutural e que para reverter esse quadro, é essencial uma organização coletiva e políticas públicas. 

O evento está sendo transmitido pela Rádio FIAMFAAM e a WebTV FMU/FIAM.

[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórter
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisora
[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[4] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM