Ana Isabel Soares e Ana Elizabeth Cavalcanti abriram o último dia da Semana Acadêmica da FIAM FAAM com uma importante reflexão sobre a pesquisa em tempos de pandemia
Por Arthur Vieira Beserra. [1]
Revisão por Letícia Guzo. [2]
Supervisão de Prof. João Luis Gago Batista [3] e Prof. Nicole Morihama [4]
Nesta sexta-feira (23 de abril) ocorreu o último dia da Semana Acadêmica da FIAMFAAM. Ele foi aberto com a presença de Ana Isabel Soares, professora auxiliar e membro do Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, em Portugal, e Ana Elizabeth Cavalcanti, professora dos cursos de graduação, pós-graduação e mestrado em Direito da FMU e coordenadora do Comitê de Pesquisa e Iniciação Científica da FMU-FIAMFAAM.
A mesa “A Pesquisa Acadêmica em Tempos Pandêmicos” foi mediada pelo professor William Pianco e contou com a participação da coordenadora do evento professora Isabella Goulart. O objetivo da conversa foi mostrar a importância da iniciação científica para os alunos.
Ana Isabel colocou luz sobre a importância do trabalho de pesquisa para a sociedade. De forma clara e até poética, citou o livro Decameron, de Giovanni Boccacio. Uma das obras mais lidas no último ano, foi escrita no século XIV e mostra a história de pessoas que fogem da cidade durante uma pandemia, vão para o campo e, isoladas, começam a compartilhar histórias.
O motivo da citação foi mostrar a primeira frase do prefácio que, para ela, ajuda a definir a pesquisa científica: “É humano ter compaixão”. Escolheu “compaixão” como palavra-chave para nortear o trabalho do pesquisador, explicando que seu significado vem de compartilhar emoções. Adicionou que no original, em italiano, a frase começa justamente com “humano”, aquele que é peça fundamental na produção de conhecimento: “Umana cosa è aver compassione”.
“Cada vez mais, nos aproximamos do que é ser humano (…) por isso devemos nos colocar sempre no lugar do outro”, diz Ana Isabel. Ela explica que para produzirmos pesquisas, devemos assegurar que o conteúdo será entendido por todos que o leiam. Isso demonstra cuidado, o que deve existir tanto em tempos de pandemia quanto de saúde e prosperidade.
Sobre a tecnologia, que tanto tem ajudado a manter o mundo em funcionamento, aproximando pessoas e compartilhando ideias, ela alerta que mesmo os nativos digitais ainda não demonstram ter noção da preciosa ferramenta que têm em mãos: “Não devemos desperdiçar com trivialidades (…) a banalização dos recursos tecnológicos mata a curiosidade, que está ligada ao nosso instinto de buscar conhecimento”, afirma a professora.
Já Ana Cavalcanti, definiu uma linha de raciocínio para demonstrar a importância da iniciação científica. Para ela, tudo parte da curiosidade provocada por um olhar atento. Esta curiosidade pode dar origem a uma pergunta a ser respondida, a qual será desenvolvida na academia através do uso do raciocínio crítico. A evolução deste trabalho de investigação dá ao estudante/pesquisador maior autonomia comunicativa, que o ajudará a defender com segurança suas descobertas e chegar, finalmente a produção de conhecimento.
Mas, o que é conhecimento? Ela explica: “é o resultado da informação trabalhada”. A informação, por si só, e de forma abundante como temos atualmente, deve ser decifrada. O estudante que entende isso “conquista até mesmo a emancipação social, que o permite transitar pela sociedade como um cidadão ativo (…) com um valor diferenciado” afirma a professora.
É preciso ter ética no desenvolvimento de pesquisas. Esta preocupação foi reforçada após as barbaridades ocorridas durante a segunda guerra mundial e resultou, por exemplo, na elaboração do código de Nuremberg, em 1947, que definiu critérios para pesquisas com seres humanos. Além disso, no Brasil, segundo a professora, seguem-se protocolos perante os comitês de ética e o respeito a privacidade de dados dos envolvidos, tudo isso alinhado com os princípios da bioética, que pregam o menor risco possível à vida, a autonomia pelo conhecimento e o justo compartilhamento das conclusões obtidas nos estudos.
Sobre o impacto da pandemia na produção de pesquisa, ela enxerga pontos positivos na área de humanas, como um maior reconhecimento da importância destes trabalhos. Métodos exploratórios com estudo de campo tiveram de ser interrompidos, mas aqueles realizados em bancos de dados, documentos eletrônicos e bibliotecas virtuais permitiram continuar os trabalhos. A tecnologia mostrou que é possível democratizar o acesso, diminuir custos, facilitar a publicação de conclusões e até mesmo internacionalizar o conhecimento.
O professor William Pianco perguntou como seria a melhor forma de derrubar os muros que parecem isolar as pesquisas do restante da sociedade. Ana Isabel lembrou que historicamente a academia se manteve elitizada enquanto pessoas de fora deste ambiente nunca foram incentivadas a entender a importância deste tipo de trabalho. A solução para “pelo menos deixar transparente este muro”, segundo ela, é a universidade se aproximar mais do município onde está sediada, fazer-se presente na vida local.
Para Ana Cavalcanti, além disso, é preciso demonstrar para os estudantes o impacto que a produção científica pode ter em suas vidas. Por isso, tem desenvolvido ações na FIAMFAAM neste sentido como incentivar os orientadores a levar trabalhos de seus alunos aos congressos, realizar simpósios e promover as realizações no site da instituição.
A professora Isabella Goulart comentou que muitos alunos que desejam atuar no mercado acreditam que a produção científica se limita aos pesquisadores. Sobre este ponto, Ana Cavalcanti afirma que somos privilegiados por estar numa universidade. E que o estudante deve considerar-se um vetor da mudança. Mesmo nas políticas públicas, definidas pelos governantes, é preciso agir através de um posicionamento promovido pela produção na academia.
Ana Isabel complementa e diz que estas habilidades aprendidas na universidade são aplicáveis em diferentes setores da vida. Outro questionamento da professora Isabella foi sobre a importância do trabalho do pesquisador no combate às fake news, que provocam grande prejuízo. Ana Isabel responde que o fruto do trabalho de pesquisa, que envolve ética, enriquecimento cultural e consciência política, pode ajudar a manter o equilíbrio entre a desinformação total e o alarmismo exagerado.
Perguntada pelo aluno Henrique Munhoz sobre como se deve citar o trabalho de outra pessoa sem configurar plágio, Ana Isabel comentou sobre os livros que ajudam a entender as normas envolvidas, mas foi além, mostrando a importância de se reconhecer o trabalho dos outros: “quando não valorizamos, contribuímos para que no futuro aconteça o mesmo com o nosso. (…) Costumo dizer que quem comete plágio, se oculta, pois apenas reproduz a ideia de outro. É importante que o aluno mostre quem ele é”, conclui.
O evento está sendo transmitido pela Rádio FIAMFAAM e a WebTV FMU/FIAM.
[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórter
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisora
[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[4] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM