foto ONGs

Os desafios das ONGs na pandemia da Covid-19

Alexia Marilia Monteiro

Fernanda Rosendo da Silva

Julie Cristina Santos

Estudantes de Jornalismo FIAM-FAAM

Inevitavelmente, a pandemia global da Covid-19 impactou todos os setores. Em tempos de coronavírus, dificuldades antes já notórias se agravaram ainda mais. Negócios antes extremamente valorizados lutaram para sobreviver. Muitos não resistiram. E quanto às organizações não governamentais? E as pessoas que dependem dessa assistência? As ONGs ainda existem?

Em pleno junho de 2021, a vacina contra o vírus que já acometeu milhões de pessoas por todo o mundo já existe. Todavia, a distribuição se encontra em total desigualdade, não chegando aos países mais pobres. No Brasil, a negligência do governo federal foi responsável pela escassez acerca da compra de vacinas – o executivo nacional recusou seis propostas da Pfizer, sendo três delas com previsão de entrega de 500.000 doses ainda em 2020. As três primeiras ofertas da Pfizer foram de 70 milhões de doses, e foram feitas entre 14 e 26 de agosto de 2020. O prazo de 15 dias para a resposta não obteve retorno de Jair Bolsonaro.

Diante das 484 mil mortes registradas no Brasil, no momento vigente, entramos na sétima semana da CPI da Covid, instalada a mando do ministro do STF Luís Roberto Barroso, no dia 8 de abril de 2021, 14 meses após o início da pandemia. Tudo começou em março de 2021, quando senadores requereram um mandado de segurança ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, onde alegavam conduta indevida por parte de Pacheco ao não analisar os requerimentos da CPI. A verificação dos requisitos de instauração foram concedidos para a instauração da CPI da Covid-19, onde o ministro Barroso concedeu a decisão liminar para que Pacheco procedesse urgentemente com os  trabalhos da Comissão.

A Comissão Parlamentar de Inquérito tem como objetivo apurar se houve falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia, de forma a obter esclarecimentos ou, em último caso, buscar por responsáveis. A propagação por parte do governo federal de remédios e tratamentos cientificamente comprovados como ineficazes, a falta de cilindros de oxigênio em Manaus, a adesão à teoria de imunização de rebanho e a negligência na compra de vacinas foram acontecimentos determinantes para as consequências hoje enfrentadas, e foram negados por vários dos chamados a depor, mesmo que diante de provas concretas que comprovam o contrário. A Comissão continua desgastando o governo, mas o ritmo da vacinação no país ainda continua lento, com apenas 11,2% de brasileiros vacinados com as duas doses de vacina necessárias.

Agravamento de desafios antes já enfrentados

Antes mesmo deste cenário pandêmico, as ONGs já enfrentavam dificuldades. O maior desafio é tornar a ONG sustentável, ou seja, trazer continuidade nos esforços e atingir significativamente o desenvolvimento humano, combatendo a pobreza, as desigualdades e os riscos à vida humana, ambiental e animal. Para que isso ocorra, são necessários apoios financeiros, voluntários e doações de materiais e equipamentos. Todavia, destaca-se como de maior preocupação os problemas ligados à questão financeira.

Em meio ao massacrante contexto de desigualdade social no Brasil e a circulação de um vírus que mata na concretização do contato físico, estes desafios se acentuaram na pandemia. Devido à impossibilidade de encontros presenciais, as ONGs inicialmente sofreram uma grande queda no número de arrecadações em comparação com os anos anteriores, muitas vezes chegando ao fechamento de suas portas. Nesse contexto, estas tiveram que se adaptar ao cenário atual pelos meios de comunicação, que se tornaram ferramentas de interação com o público, sem ter a necessidade de estar presencialmente.

Doações nas redes sociais, auxílio emergencial e classe C

As novas tecnologias foram inseridas para auxiliar ainda mais estes movimentos sociais, e as redes sociais tiveram grande papel nesta adaptação. Ainda assim, também foram criadas novas ONGs para ajudar as famílias mais necessitadas. O interesse pelo Terceiro Setor aumentou no decorrer da pandemia, o que fez aumentar o número de doações justamente pelo uso das redes pelas ONGs.

Dentre as principais doações recebidas na pandemia, estão cestas básicas, máscaras e álcool em gel, produtos de higiene pessoal e contribuições financeiras. Uma pesquisa realizada no final de 2020 pela FGV Social revelou a queda dos rendimentos de indivíduos ricos e a diminuição de pobres, o que aumentou o número de indivíduos da chamada “classe C” em um acréscimo de 21,4 milhões de pessoas, quase metade da população da Argentina. A redução da pobreza rumo à classe C teve como principal motivo o pagamento da primeira rodada do auxílio emergencial, que teve cinco parcelas de R$600,00 e mais quatro de R$300,00, que começaram a ser pagos em abril até dezembro de 2020. A iniciativa foi única do Poder Legislativo, que organizou um pleito de políticos que obtiveram a aceitação do Ministério da Economia para um valor de auxílio de R$200,00 mensais, mas o Poder Legislativo ampliou esse valor após a aprovação de uma lei do Deputado Federal Eduardo Barbosa (PSDB/MG), que estabelecia o valor de R$600,00 e foi votada por unanimidade no Senado Federal, sendo depois sancionada.

O benefício auxilia decisivamente na renda dos trabalhadores informais e desempregados. Todavia, foi pausado após dezembro de 2020. Os requisitos do direito restringiram-se e a segunda rodada começou apenas no dia 6 de abril de 2021, com o valor diminuído para quatro parcelas de R$150,00 para solteiros, R$250,00 para famílias e R$375,00 para mães solteiras. Com isso, a taxa de pobreza diminuída em 8% pelo benefício volta a aumentar, deixando milhares de famílias à margem da pobreza. De acordo com uma pesquisa promovida pelo Datafolha junto com a Ambev, o aumento de pessoas atendidas no período pós-pandemia preocupa. O aumento previsto pelas ONGs aponta acréscimo em todas as regiões, sendo 54% no Nordeste, 37% no Sudeste, 26% no Centro-Oeste e Norte e 17% no Sul.

Marketing e engajamento eficiente nas mídias sociais

Organizações já renomadas, como AACD, Unesco e SaveTheChildren começaram a utilizar com mais frequência muitos recursos das mídias sociais para prosseguir com a divulgação de suas campanhas.

O Instagram pode ser citado como um dos maiores exemplos de rede social dos dias atuais, devido às ferramentas fornecidas pelo mesmo, além do engajamento que ele pode alcançar. Atuando desde 2010, o Instagram tem hoje cerca de um bilhão de contas ativas, sendo o Brasil o 3º país no ranking mundial, com cerca de 99 milhões de usuários deste total, segundo pesquisas feitas pela companhia Statista. Um outro estudo da plataforma líder global em soluções de performance em redes sociais, Socialbakers, revelou que o Instagram cresceu na pandemia, e que a audiência foi 31% maior que a do Facebook. Muitas ONGs ascenderam em doações devido ao uso dessa rede.

Além da utilização do Instagram como divulgador, muitas doações são feitas pelo aplicativo Vakinha. O link dessas doações feitas no site é divulgado nas redes sociais, aumentando o alcance e o número de arrecadações. O Vakinha está ativo desde 2009, e funciona como um site de arrecadação de dinheiro online para causas específicas, por intermédio de boletos, cartões de crédito ou débito e pix. Outra plataforma também muito utilizada é o APOIA.se, que possibilita a monetização dos trabalhos através de negócios de assinatura para os apoiadores que contribuem, cobrando 13% do valor para os intermediadores de pagamento e os serviços prestados como plataforma.

De modo geral, percebe-se que as ONGs utilizam do conceito da propagabilidade, proposto por Jenkins (2015), onde discute-se o “potencial dos públicos compartilharem conteúdos por motivos próprios”. Desta maneira, podemos utilizar de exemplo quando diversos perfis compartilham imagens em seus storys de maneira voluntária para a divulgação de doações para as crianças em situação vulnerável em países em constantes conflitos. Assim, o engajamento das doações se deve à propagação da informação e da conexão entre seguidores, criando uma espécie de cadeia de imagens compartilhadas em série.

Tecnologia como ferramenta essencial das ONGs

Para as Organizações Não Governamentais, o cuidado e preocupação em manter as redes engajadas são os mesmos, sendo mais da metade da renda das organizações de doadores online.

Por exemplo, a ONG Abraço Animal é dedicada ao resgate de cavalos e bois, e possui mais de oito mil seguidores, sendo 5.576 pessoas no Facebook e 3.227 no Instagram. A coordenação do projeto afirma que 60% das arrecadações diminuíram durante o período de pandemia, enquanto as procuras por resgate triplicaram. As redes sociais detêm 90% da arrecadação atualmente. A ONG conta com a ajuda de três pessoas para realizar os posts no Instagram e organizar lives com o intuito de conquistar mais seguidores e estimular a doação mensal.

ONG Jardim das Borboletas

A ONG Jardim das Borboletas foi criada no final de 2016 a fim de melhorar a qualidade de vida de indivíduos com Epidermólise Bolhosa, atendendo cerca de 60 crianças que sofrem desta doença rara, que ocasiona na fragilidade da pele. A quantidade de bolhas e feridas desses pacientes é muito alta e os traumas na pele mudam com as mudanças climáticas. O nome “borboleta” vem como uma carinhosa comparação das crianças com EB às borboletas e suas sensíveis asinhas.

A Epidermólise Bolhosa não é contagiosa, mas necessita de um tratamento financeiramente inacessível para a maioria da população, custando de 10 a 60 mil reais por mês. Hoje, a ONG tem 129 mil seguidores no Instagram e tem uma equipe focada no marketing digital.

(Reprodução Instagram: @jardimdasborboletas_)

Entrevistamos a fundadora da ONG Aline Teixeira da Silva, que sensibilizou-se com a batalha desses pacientes e resolveu tentar melhorar suas vidas, fundando a sede em sua própria casa, em Caculé, no sudoeste da Bahia.

Quais as maiores dificuldades que encontraram desde que começou a pandemia?

A pandemia tem sido um período difícil para todos. Aqui na ONG sentimos algumas dificuldades em relação à captação de recursos, visita domiciliar (visitas aos assistidos), a diminuição das encomendas da nossa estamparia entre outras dificuldades.

As contribuições diminuíram?

Sim, tivemos uma diminuição considerável nas doações.

Existe uma pessoa focada no marketing digital?

Atualmente temos um setor de marketing e comunicação, nesse setor é feito todo o gerenciamento das redes sociais.

Vocês têm alguma estratégia para divulgação em redes sociais?

Várias, sempre estamos analisando estratégias para serem feitas, vemos o que funciona e o que não funciona e a partir disso criamos as publicações e divulgações.

Vocês organizam eventos online? Como lives?

Sim, sempre fazemos lives. Inclusive, estamos com um novo projeto de live chamado “Bate-papo com as borboletas”. Essas lives acontecem todas às quintas, às 20:00hs, no nosso Instagram.

Você acredita que as redes sociais são importantes para vocês nesse momento?

Muito, as redes sociais são fundamentais para divulgação, pois, através da Internet podemos alcançar inúmeras pessoas e fazer com que nosso projeto chegue mais longe.

Chegam colaboradores através das redes?

No momento temos inúmeras formas de captação e sem sombra de dúvidas as redes sociais é uma delas. Através do nosso Instagram recebemos mensagens e novos doadores.

Com isso, a tecnologia tem sido extremamente importante. As redes sociais se tornaram o principal método de comunicação e divulgação dos trabalhos realizados durante o período de isolamento.

Um exemplo de como a rede social se tornou fundamental para os negócios, são os e-commerces. Enquanto o número de lojas físicas diminuiu, a quantidade de lojas online não para de crescer. O desenvolvimento da identidade visual do Instagram é uma preocupação constante também. Os catálogos deixaram os papéis e migraram para os feeds, que são a vitrine da atualidade.

Fontes

https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2021-04/covax-oms-denuncia-desigualdade-na-distribuicao-de-vacinas

www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=348a38cd25abeab0

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/classe-c-cresceu-pandemia-coronavirus/
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Pandemia_de_COVID-19_no_Brasil
https://www.gov.br/saude/pt-br