Professor e criadores explicam a explosão dos programas em áudio no segundo dia da Semana Acadêmica da FIAMFAAM
Por Arthur Vieira Beserra. [1]
Revisão por Letícia Guzo. [2]
Supervisão de Prof. João Luis Gago Batista [3] e Prof. Nicole Morihama [4]
O segundo dia da Semana Acadêmica da FIAM FAAM teve como tema central o áudio. Durante a manhã do dia 20 de abril foi realizada uma mesa mediada por Sancler Ebert, professor dos cursos de Comunicação da FIAMFAAM e doutorando do Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense. A abertura das atividades ficou à cargo do professor Wiliam Pianco e contou com a presença da coordenadora Isabella Goulart.
Para discutir o tema “Formatos e Tendências dos Modelos de Podcast”, foram recebidos Daniel Gambaro, docente do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi e autor de tese sobre o rádio e processos midiáticos atuais, e os criadores do podcast Cinema na Varanda, Michel Simões e Cris Lumi.
Mas, afinal, o que é podcast?
O podcast é um tipo de conteúdo em áudio que vem conquistando muitos ouvintes e produtores atualmente. Mas ele não é recente, segundo o que explica o professor Daniel: “Ele começou no início dos anos 2000 por meio do sistema RSS, ainda sob download através de plataformas como itunes e MP3, esta foi a primeira onda”.
A segunda onda foi iniciada com o lançamento do iPhone e a popularização do acesso a internet móvel, onde consumir o áudio em tempo real ficou mais fácil. “Podemos marcar até o início de uma terceira onda com a profissionalização do podcast. A partir de 2010, pessoas do mercado de rádio no exterior e no Brasil se propuseram a fazer um conteúdo mais elaborado”, explica Daniel.
O diferencial do podcast para o rádio é conseguir abordar com profundidade temas que não encontrariam espaço nas grades das emissoras, além de ser um símbolo da midiatização completa pela qual passamos, onde praticamente todo espaço de tempo é preenchido por algum tipo de conteúdo através dos mais diversos meios.
Os tipos de podcasts:
Radiofônicos: reportagens e trechos de matérias;
Narrativos: ficção e documentários;
Fluxo: entrevistas, debates, monólogos – normalmente no estilo mesacast, o mais popular.
Daniel explica que o mesacast (uma espécie de mesa redonda) é o mais popular, porém o que também mais se desgasta facilmente, pois precisa contar com a definição de uma estrutura que mantenha o interesse do público. Já os podcasts de drama são mais complexos devido a pesquisa e obtenção de trilhas e efeitos, além de um cuidado maior com o roteiro para um público mais exigente.
Foram apresentados dados da pesquisa da ABPOD (Associação Brasileira de Podcasters) que mostra um perfil do consumo no Brasil:
Cinema na Varanda
Os amigos e jornalistas Cris Lumi, Chico Fireman e Tiago Faria se uniram para falar sobre a sétima arte, mas a ideia partiu de um profissional da área de Comércio Exterior, Michel Simões. Ele já havia mantido um blog sobre o tema, entretanto sentia falta de um podcast que fosse além do mundo geek, que normalmente repercute os lançamentos da Marvel e da DC Comics.
A conversa informal foi ganhando espaço entre os amigos em comum e com a divulgação de dicas em fóruns no Facebook. Com o tempo, o Cinema na Varanda cresceu e hoje figura entre os mais ouvidos no Brasil. Mas a pandemia, como define Cris, “foi uma turbulência que atingiu o nosso voo e tivemos que nos adaptar”.
O que até então era feito de forma presencial, passou a ser feito por meio de áudio-conferência. O impacto da chegada do Covid-19 já foi sentido nos primeiros dias após o fechamento das salas de cinema. “A falta de lançamentos, somado ao clima tenso que tirou a concentração das pessoas até para o streaming provocou uma redução”, explica Michel.
“Mas nosso público mesmo distante continua fiel, mandando mensagens torcendo pela continuidade do podcast e dizendo que voltarão a ouvir quando as salas reabrirem”, completa o host (apresentador na linguagem podcaster) Michel.
Eles definem alguns pontos como fundamentais para o sucesso de um podcast: periodicidade, pesquisa, formato definido, critério para os temas e a presença de convidados que possam gerar repercussão e credibilidade, como quando receberam o produtor de cinema Rodrigo Teixeira (com experiência em Hollywood), Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e os críticos Luiz Carlos Merten e Miguel Berbieri, que colaboraram com o Estadão e Veja, respectivamente.
Contam com quadros sobre lançamentos, resenhas, debates, opiniões dos ouvintes e boletins sobre as premiações. A chegada do Oscar, inclusive, aumentou a audiência.
Sobre o pós-pandemia, eles acreditam que o modelo híbrido de lançamento vai se consolidar, com alguns sendo lançados no cinema e outros diretamente no streaming como faz o Disney Plus.
A monetização do podcast
Ainda não existe um sistema de monetização, por isso muitos criadores colocam seus conteúdos também no Youtube. Para sobreviver é preciso desenvolver parcerias, patrocínios e até mesmo financiamento coletivo.
Reconhecimento
Com a chegada de grandes produtoras, como o grupo Globo, a relevância do formato tem crescido entre o público em geral. O prêmio Vladimir Herzog criou uma categoria para premiar o melhor podcast do ano e o vencedor em 2019 foi o repórter Tiago Rogero, de O Globo, com o projeto “As Histórias de Mercedes Baptista, Consuelo Rios, Bethania Gomes e Ingrid Silva”, quatro bailarinas negras que superaram o preconceito e chegaram a elite da dança. Além disso, o Itaú Cultural lança editais para projetos em áudio esporadicamente.
Vídeo com apresentação do canal: https://www.youtube.com/watch?v=_n6j-JJaXqM
[1] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiários AICOM – repórter
[2] Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiário AICOM – revisor
[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisor de estágios AICOM
[4] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM