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Semana de Jornalismo: Karla Maria, autora de livros-reportagens, trouxe um panorama sobre o mercado de jornalismo literário para mulheres

A jornalista abriu o evento com uma palestra que apresentou detalhes sobre o mercado nacional para profissionais que realizam a cobertura diária

Por Jéssica Teles [1]
Revisão de Maria Carolina Souza [2]
Supervisão de Prof. João Batista [3] e Prof. Nicole Morihama [4]

Iniciando as atividades da 5ª semana de Jornalismo, a faculdade FMU/FIAM-FAAM trouxe como convidada nesta segunda-feira (19), a jornalista Karla Maria, escritora dos livros-reportagem Mulheres Extraordinárias e O Peso do Jumbo. Conhecida por dar voz as minorias dentro de seus livros de não-ficção, suas obras podem ser tidas como uma ferramenta que propaga informação, especialmente por utilizar elementos literários para chamar atenção do leitor e conseguir transmitir os detalhes mais profundos das histórias.

Durante a palestra, a jornalista compartilhou alguns casos marcantes de sua carreira, bem como experiências profissionais sob a perspectiva de gênero, fazendo uma crítica ao machismo cultural. Em um dado momento, ela conta sobre uma situação de medo que vivenciou em um de seus trabalhos, que foi na cobertura de uma operação policial na Cracolândia. Para ela, os jornalistas se tornam propensos a desenvolver traumas por absorver histórias duras e reais.

“Ver aquelas pessoas como ‘zumbi’ e entender que não há apenas bandidos lá, temos pessoas doentes. Eu fui sozinha até lá e não recomendo que mulheres vá até lá sozinhas para trabalhar, o medo foi grande. Eu fui porque queria ver o que estava acontecendo, pois tinha uma operação policial no local. Foi um dos dias mais tristes da minha vida, pois eu entendo que todos nós somos iguais, na minha avaliação, e ver pessoas naquela situação foi triste. Eu desenvolvi síndrome do pânico, porque nós jornalistas, absorvemos demais nessas coberturas e nossa saúde mental é afetada”

A escritora também alertou os estudantes sobre a importância e o dever de cuidar de suas fontes, visto que no jornalismo literário é trabalhado e apurado a complexidade da realidade das pessoas. Por isso, estar em contato com a vivência daquilo que está sendo contado faz surgir um bom trabalho de reportagem, uma vez que o jornalista deve estar atuando no campo sob um olhar mais íntimo e, ao mesmo tempo, realístico. Muito além de dados e estatísticas.

Maria também enalteceu a trajetória de grandes jornalistas mulheres e frisou a importância de ler e acompanhar o trabalho diário de cada uma delas. “O jornalismo literário contemporâneo tem mais mulheres despontando, não sei se por sensibilidade, mas acho que temos mais cuidado, somos mais observadoras. Sinto que as mulheres estão mais atuantes, compro muitos livros de mulheres para passar um recado ao mercado de trabalho. Queremos ouvir mais mulheres, em todos os gêneros.”

Com experiência no hard news e revistas, hoje está consolidada no gênero literário, onde consegue detalhar as histórias que pretende apresentar, até como forma de conquistar o seu leitor, mesmo que o nicho de livro-reportagem ainda seja mais restrito. Inclusive, ela deu dicas para os alunos que sonham em publicar livros com histórias reais. “Entenda o perfil da editora. Você precisa fazer um levantamento e entender se a missão da editora casa com a sua.”

Quando questionada por uma aluna sobre como as redes sociais interferem no gênero literário, Maria disse que elas acabam sendo um agregador ao trabalho, pois “os textos de mídias sociais têm um pouco de jornalismo literário, pois contam histórias. Observe que as redes estão cada vez mais sendo usadas para Storytelling, entenderam que as pessoas gostam de história e jornalismo literário é contar histórias. Sua legenda pode ser muito mais rica com elementos narrativos literários”.

A jornalista, inclusive, fez questão de incentivar os alunos a usarem a internet como portfólios, a escrevem seus textos em sites e blogs, mesmo que no início não se tenha retorno financeiro. De acordo com ela, ter a experiência e uma vitrine que mostre seu potencial, contam pontos para seu futuro profissional.

Com interação ativa por parte do público presente, Maria concluiu sua fala com um pedido aos alunos: tentarem ao máximo construir ambientes de apoio e que não tenha espaço para competividade, pois se existem pilares fundamentais para a profissão seguir firme e forte, especialmente em tempos tão difíceis, se deve ao fato de existir parceria, o networking e a divulgação dos trabalhos de colegas de profissão.

O evento está sendo transmitido pela Rádio FIAMFAAM e a WebTV FMU/FIAM.

Aproveite e assista aqui a gravação da palestra.

[1] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[2] Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, estagiária AICOM
[3] Professor do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM, supervisão de estágios AICOM
[4] Professora e coordenadora do curso de Relações Públicas e Jornalismo FMU/FIAM-FAAM
Imagem: Acervo pessoal/Karla Maria.