Racismo

Racismo estrutural persiste nas empresas – Afro Presença

Racismo estrutural é um conjunto de práticas e costumes que reforçam o sistema preconceituoso e discriminatório do dia a dia, colocando determinadas etnias em situações inferiores em relação a outras. Segundo dados do Instituto Ethos, menos de 5% da população negra do Brasil ocupa cargos executivos. Do ponto de vista governamental, tivemos ações que surtiram efeito para que jovens negros pudessem ingressar em uma universidade, contudo hoje nos deparamos com outro problema: a falta de emprego para essa parcela da população. “O governo precisa fazer sua parte, mas a iniciativa privada também tem seu papel na quebra de barreiras”, pontua Eduardo Santos.

 Leandro Camilo, sócio e líder de diversidade na PwC Brasil, diz que a  empresa está na jornada de inclusão há algum tempo e garante que em termos de diversidade e inclusão, hoje existe uma grande diferença em relação ao passado, mas reconhece ter um longo caminho pela frente. “Ainda existem muitas empresas não preparadas para isso. Para que funcione, necessita de pilares como o apoio dos líderes e um longo processo de aculturamento”, acrescenta. 

Questionado por Salcy Lima (Record TV) sobre os benefícios de uma empresa inclusiva, Camilo lista o aumento de engajamento dos funcionários, maior senso de pertencimento, dedicação, motivação e aumento de produtividade. “Quanto mais a empresa for diversa, mais chances tem de crescer”, diz. Ele ainda afirma que revisitar os processos seletivos é fundamental para que os talentos negros alcancem as empresas. 

 Para Maurício Rodrigues, vice- presidente de finanças da Bayer, o processo de contratação deve ter um compromisso corporativo de transformação onde todos os níveis da organização cooperam, mas ainda conduzido pela liderança. Um ponto fundamental é o foco na capacidade e potencial individuais de cada candidato e não na instituição onde se formou. Além disso, estão trabalhando na identificação de outros itens no processo de trainee, como o inglês- um ponto chave que nem todos têm acesso e que não deveria invalidar alguém com potencial. O executivo garante: “[É muito mais fácil você treinar uma pessoa no inglês do que ensinar a ter capacidade e integridade, que são os focos da empresa”.

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A consultoria PwC recebe aproximadamente 80 mil currículos por processo seletivo, há três anos, apenas 8% dos inscritos eram negros. Hoje, o índice já está em 35%. Essa mudança ocorreu após a empresa estabelecer metas para contratação de candidatos negros. Todo processo de seleção passou a ser acompanhado por pessoas da área de diversidade para garantir a quebra desses vieses e firmaram parcerias com instituições ligadas ao movimento negro para impulsionar a divulgação de vagas nas universidades e grupos de comunidades negras nas mídias sociais.

Rodrigues aponta que é preciso também analisar a falta de confiança dos negros na hora de entrar em uma organização sem se intimidarem no processo e garantir que se sintam incluídos no meio de trabalho e isso envolve não só a inclusão de negros, mas também a diversidade de gênero. 

E como combater o racismo estrutural nas empresas? Segundo Camilo, a PwC rabalha para quebrar as barreiras que contribuem com o racismo estrutural: eventos com palestras de mulheres negras em cargos de liderança, criação de espaços de diálogo exclusivos para negros por meio de mídias como o WhatsApp, fazendo com que se sintam mais confortáveis ao expor ideias que em reuniões mais formais não conseguiriam etc. Tais movimentos ajudam na tomada de ações e contribuem com o desenvolvimento da empresa. Desde que essas políticas foram instauradas, notou-se mais inovação por parte dos funcionários e melhora na resolução de problemas. “Diversidade é convidar para a festa, inclusão é convidar para dançar”, reflete.

Santos completa: “Precisamos não somente trazer os negros para dentro das empresas, mas abrir espaço para que contribuam de forma criativa com seu desenvolvimento e que tenham a chance de crescer e ocupar posições de liderança”. Quando Lima questiona sobre privilégios, Rodrigues diz que na infância foi privilegiado por ter acesso à boa educação e ter seus pais como referências de pessoas negras que mostraram ser possível alcançar patamares altos na vida profissional, o que não é comum para a população negra. Muitos carecem tanto do acesso à boa educação como à referências. Ele ainda conta que sendo negro, durante sua vida sentiu que precisou entregar mais do que os outros. “A cobrança comigo era sempre maior, como se eu precisasse ter o triplo de bagagem e experiência para ser visto e considerado capaz”, afirma.

Por Marina Fiorotti*

* Sob supervisão do professor Kaluan Bernardo.